terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Espanto


Já repararam que os dias são englobantes, enquanto as horas são pontuais?
A malta pergunta ao tipo do lado: "que dia é hoje?"
E o gajo responde (se for bem educado, claro. Se não manda-nos a um sítio onde não queremos ir mas adiante...):

- 29 de Dezembro.

A resposta é a mesma, quer sejam 10:00, 15:00 ou 23:00. Qualquer hora entre as 0:00 e as 23:59:59 tem a mesma resposta - depois disso há uns engraçadinhos que acham graça à exactidão.
Mas experimentem logo de seguida perguntar também as horas (até porque o tipo é bem educado e responde):

- São 3 e meia.

E pronto.

É o mesmo dia das 0:00 às 23:59, mas a hora varia muito dentro dela própria. Só é bem definida enquanto o ponteiro dos minutos está entre as 12:00 e as 12:03. Depois disso, é à vontade do respondedor:

- São dez e dez (10:09)
- Já passa das 10 e um quarto (10:16)
- São quase 10 e meia (10:26)

E por aí adiante. Ao Dia dão tudo mas à Hora nem um bocadinho lhe dão de borla, começam logo a cobrar...

Hélas!

domingo, 27 de dezembro de 2009

Fingimentos


Aguiar-Branco acusou o primeiro-ministro de “fingir que vive num país que não é o nosso”. Ora batatas, então queria que fingisse que vive no nosso país? O homem ainda apanhava uma depressão.

Se querem um presente original ofereçam um bacio; agora uma depressão, isso não se faz. Talvez pelo aniversário, mas pelo Natal?!? Francamente, há malta com muito pouco respeito pelo Natal.

Isto é só coisas que me ralam.

Hélas!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Liberdade


Sempre foi o meu bem mais precioso; mas às vezes temos de ofertar o que nos é mais precioso.

Pasmo com a minha sorte.

Partilhando o Tempo com outros, esta decisão é difícil pois o que damos a uns sonegamos a outros, quiçá mais merecedores... Mas nunca esta falta me foi cobrada, antes pelo contrário - sou frequentemente ajudada nas prestações diárias.

Há malta com sorte, não há?!?

Hélas!

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Compreensão


Como toda a gente, há coisas que percebo e coisas que não percebo.

Uma das coisas que percebo perfeitamente é quando alguém muito pacífico corta às fatias fininhas, ao mesmo tempo que insulta lentamente o seu legítimo dono, a besta que magoou o filho/sobrinho/neto/pai/mãe/marido/mulher/whatever, um ser amado.
Eu acho mal, claro - sou pacifista! Mas a verdade é que percebo lindamente e não respondo por mim se estiver na mesma situação...

Depois há as coisas que não percebo. Quem fica a relembrar velhos agravos, quem deixa em brandíssimo lume antigas zangas, quem guarda com zelo tristezas de infância... E eu também as tenho, quem é que não as tem?! Mas guardá-las assim, defendermo-nos atrás desses cadáveres velhos, esconder as nossas fraquezas debaixo dessa capa podre?
Estou pior que o leão: antes a morte que tal sorte.

E com isto, meus amigos, chego à minha conclusão: só olhamos com benevolência, só compreendemos de verdade, os defeitos de que também padecemos.

Que palermas somos!

Hélas!

domingo, 20 de dezembro de 2009

Cansaço


Estou de férias desde 4ª feira.

Os pirulitos andam a mil. O peso nos pés, pernas, braços, pescoço, cabeça e ombros é tal que não me parece haver forma de descansar.
Assim de repente, só me ocorre umas férias de 4 meses num resort mexicano, com o meu parceiro de vida e sem qualquer instrumento tecnológico de proximidade, para me aliviar o cansaço.

Ou isso ou uma Revelação mística daquelas que nos faz esquecer o Passado por completo e ficar a viver permanentemente na ânsia do Porvir...

Nem uma nem outra são minimamente prováveis, batatas. Estou mesmo condenada ao cansaço.

Hélas!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Aniversário


Este ano de 2009 também para ti foi aziago, eu sei.

Mas o Amor está presente, prontes, manifesta-se todos os dias que eu bem o vejo nos pequenos ques e ses. O que isso me aquece o coração reflecte-se imediatamente no casaco que já não preciso de vestir. Pode nem mais ninguém ver mas eu sinto-o bem, no peso que não tenho.

Sobreviveste ao ano aziago mantendo incólume o melhor da tua natureza ao mesmo tempo que questionavas o pior e batalhavas para o alterar, sem culpares ninguém, sem tentares transferir o peso, sem arranjares desculpas.

Sendo teus os actos, sinto-me tão orgulhosa como se foram meus.

Um beijo para ti, meu caro. Cheio de amor e discreto.

Hélas!

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

É Natal...


Muito triste com o facto, tenho de confessar que nunca vi como o Natal para acender intensos os traços mais básicos e bestiais da humanidade.

Nisto como outras coisas, tento borrifar-me para o assunto. O que interessa é o que se é, hoje e agora, neste Natal de 2009.
Não tem qualquer relevância - desculpas de coitadinho, na verdade - o que se poderia ser se a mãezinha não fumasse, o paizinho não andasse atrás de pin-ups, os irmãos não fossem umas bestas, os tios, primos e afins uma gente que nunca nos ligou nenhuma e nós coitados, uns heróis desconhecidos que só por os outros serem umas bestas é que não somos aclamados como Heróis da Cantareira...

Não me interessa: aqui e agora, o que serás tu (eu) capaz de fazer por alguém que não tu (eu) próprio, mereça ou não na tua (minha) paupérrima escala de valores, apenas e só porque é Natal, a festa do amor à borla?!?

Ai de mi...

Hélas!

domingo, 13 de dezembro de 2009

Que raio de coisa!


Isto já me começa a irritar.

Há alguém que saiba onde se pode comprar em Lisboa um pinheirinho natural, coisa para pouco mais de 1 m, de preferência oriundo da limpeza de Monsanto ou qualquer outra mata charmosa?!?

Eu tenho uma embirração invencível aos de plástico (não tenho culpa nenhuma, deve ser trauma de infância) e não posso usar isso no Natal.

Agora só me aparecem umas coisas a que chamam pinheiros mas não são - são umas árvores anoréticas com uns paus espetados a que chamam ramos e que podem ser belas numa floresta nórdica mas não têm nada a ver com o meu Natal.

Queeeeeeeeeeeero um pinheiriiiiiiiiiiiiiiiinho!

Hélas!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Espanto


Jovem, espectante,
Certa de que viria
O amanhã brilhante
Da vida que sorria.

O tempo passa, morno,
Ela crente e parada,
Sem alegria ou adorno
Nem dá pela cilada.

Já velha e desdentada,
Continua à espera
Não se apercebe coitada
Que é cega à primavera.

Repousa agora espantada.

Hélas!

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Desculpem, mas...


Estou tão cansada!

Há dias em que verifico que já disse tudo, daqui para a frente são só repetições. E não há nada tão chato como fotos velhas...

Caramba, ao menos podia encontrar parábolas novas mesmo que a lição a tirar fosse a mesma.

Tenho mesmo de voltar para a escola - é essencial ter gente que retruque "e porquê?!?" quando a malta perora, é essencial ter gente que olhe para nós espantada, quando perguntamos "e isso que é?..."

Hélas!

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Filosofias


O gatito olhou para mim com ar interrogativo. Eu respondi-lhe:

- Desculpa, não sei.

Será que se soubesse seria mais feliz? Duvido, o que nos faz felizes não é a sabedoria que aliás, nesse capítulo, só desajuda.

Pensando bem se calhar até ajudei o bicho, mantendo-o na ignorância. Olha que bom!

Pena é que o meu egoísmo não me deixe fazer o mesmo com todas as coisas que sei e as pessoas que, às vezes, nem mo perguntam...

Hélas!

domingo, 6 de dezembro de 2009

Publicidade enganosa


Durante anos e anos venderam-me a ideia de que à medida que o tempo passa por nós precisamos de dormir menos. Aqui a totó de serviço comprou a coisa; e ficou à espera da tal idade em que já não é necessário dormir tanto.

Mas sabem? Acho que era publicidade enganosa. Estou à espera há anos e tenho tanto sono como antes.

Rais parta o marketing .

Hélas!

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Discussões


Ora bem, hoje voltei a ter uma grande discussão com o meu vizinho do cimo das escadas.

Diz-me ele (vejam bem o contra-senso!) que eu devia confiar mais no meu primeiro instinto.
Claro que eu respondi que a Razão pode não ser imediata pois muitas vezes é atropelada pelos sentimentos, crianças mal-educadas e sem maneiras mas com uma vitalidade e força imbatíveis; apesar disso, a Razão é sempre mais... razoável. Realista. Sensata. Ponderada. Construtiva. Confiável. E sim, Humana.

Não é que aquela aventesma olha para mim e desata a rir-se? E entre as gargalhadas me chama nomes, tipo xoné, marciana e ingénua?...

Mas vocês não acham isto um desaforo?!? Afinal é ele que mora no piso de cima, devia desancar-me com a superioridade da caixa craniana enquanto eu me encolhia a murmurar a delicada subtileza das razões sentimentais de um coração sensível...

Ainda por cima... Ingénua, eu? Acho que até fiquei vermelha da fúria, as tais crianças impetuosas a quererem sair pela boca fora e eu a tapar a dita com a mão para dar tempo à Razão de se impor... Escusado será dizer que ver o gajo agarrado à barriga e a chorar de rir, não ajudava nada; a Razão, não sei porquê, é um bocado tímida face ao riso desalmado.

Ri-se sempre de mim, aquele mafarrico.
Mas um dia hei-de rir eu dele, olá se hei-de! Nem que seja em outra encarnação.

Hélas!

sábado, 28 de novembro de 2009

Dói-dói


Hoje dói-me tudo.

O que disse e o que não disse. O que me disseram e o que não me disseram. O que pensei e o que julgo que outros pensaram.

Dói-me não conseguir comunicar o que penso e não compreender o que me dizem.
Dói-me não conseguir traçar a linha concreta entre aquilo que sou capaz mas não me dá jeito e aquilo que realmente não sou capaz por muito que me esforce.
Dói-me não ser capaz nem de abdicar do que quero nem de fazer o que é necessário ser feito para ter aquilo que quero.
Dói-me o mundo e a minha existência nele.

Há dias em que a minha vontade é deitar toda a gente fora, à excepção dos que fazem parte de mim. Claro que depois ficava uma couve sem interesse até para esses mas que interessa?!? Eu seria mais feliz ou, pelo menos, menos incomodada; eles que se tramem, já que gostam de mim.
Depois lembro-me que este tipo de dependência dá sempre asneira e lá voltamos ao mesmo.

Dói-me nunca haver repouso, dói-me que o sossego que me apetece seja morto, podre. Dói-me saber que a vida saudável nunca tem sossego mesmo sabendo também que há felicidade nesse carrocel... Dói-me e não me adianta nada saber que só aos mortos não doi.

Isto é só coisas que me ralam.

Hélas!

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Alma minha, gentil...


Depois de deitar a alma cá para fora, reparei que não era dia 11.

Ando sempre com os tempos trocados, que chatice.
E estou com demasiado sono para traduzier poesia em prosa, que velhice.
Além do mais,falha-me a diplomacia, que tontice.
E estou sem pachorra para inventar outra coisa, que azelhice.

Só coisas que me ralam!

Hélas!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A idade não perdoa


Olhei para o telemóvel e tinha lá 2 chamadas não atendidas.

Note-se que sou daquelas que nunca desliga o telemóvel nem de noite nem de dia, dorme com o dito na mesa-de-cabeceira (é o despertador, coisa horrorenda), põe em silêncio com vibração quando está em reunião e atende sempre, sempre! Mesmo que seja para dizer que depois telefona.

Ó pitosgas, conhecem aquela distância em que nem com lunetas nem sem elas se vê nada decente? Pois, eu também, cada vez mais.

E hoje cheguei à conclusão de que ainda por cima, me ando a esquecer de coisas, tipo convocar ontem uma reunião importante para amanhã - ficou para depois de amanhã, que hei-de eu fazer?!?

Ora batatas: cegueta, surda e xoné, cada vez mais percebo o desespero dos velhos.

Hélas!

domingo, 22 de novembro de 2009

Hora, minuto, segundo...


Passei esta semana inteira numa luta contra o tempo e este fds foi um sprint, passei o sábado e o domingo a olhar para o relógio para ver se ainda tinha tempo de fazer isto ou aquilo ou se a respectiva tasca já tinha fechado a loja...
Imaginem que até me levantei cedo e tudo, ao fim de semana isto é um crime de lesa-majestade para a minha real natureza noctívaga.

Não estou triste com o resultado – podia certamente ser melhor mas também podia ser muito (mesmo muito!) pior. De um modo geral a maralha portou-se bastante bem, dando o seu tempo, preocupação e competência ao fim em vista, daí os resultados suficientes.

Não estou feliz mas não estou descontente.

Agora, na semana que vai entrar e apesar de saber que vai ser difícil, não permitirei que a limpeza das cestas me afaste dos meus outros interesses todos, dos meus amigos e da famelga.
Ora batatas, às vezes até a mim espanta esta minha tineta em dar suma importância a coisas com que me parece que mais ninguém desperdiça tempos alegres.

Juro – e nem sequer é 31 de Dezembro, portanto é uma jura séria.

Hélas!

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Desculpem


Fui dormir.

Há coisas das quais sou escrava, que hei-de eu fazer além de estrebuchar até adormecer?!?

Hélas!

domingo, 15 de novembro de 2009

Modelos


Houve um impulso irreprimível (escusado será dizer o que toda a gente já sabe, eu NUNCA tenho culpa de nada, são tudo traumas de infância ou virtudes arduamente conseguidas) e, porque sou uma gaja tão livre que nem ás suas próprias peias liga nenhuma, cá está isto, roubado daqui.

São estas e outras que me envergonham: não são os nossos problemas surrealistas, dificuldades de mariquinhas que não sabem qual o chá que querem tomar às cinco?

Hélas!

sábado, 14 de novembro de 2009

Mesquinhices


Dizem que a inveja é defeito de português mas eu não concordo; acho que é uma característica genética da raça humana - uma característica detestável mas muito humana. Penso que os bichos não são assim: avançam quando acham que merecem melhor e depois ou conseguem ou não; em qualquer dos casos arrumam o assunto e não o deixam a apodrecer a sua vida.

Reparem: nunca olhamos duas vezes para quem é melhor (dizem que faz mal, que cria complexos de inferioridade...);
Quando vemos alguém rico dizemos com um ar conspiratório que "de algures lhe vem..." porque mesmo não havendo nada que aponte para vigarices não podemos aceitar que sem elas alguém seja mais rico que nós;
Quando vemos uma pessoa realmente altruísta pomos a dita em Rilhafoles porque aquilo não é normal! ou então suspeitamos das suas intenções...
Um rol interminável de acções e pensamentos desprezíveis, todos nascidos da inveja.

Noutra vertente (ou quiçá a mesma?!?), quem tem o hábito de comparar o que se consegue com o que conseguem os melhores é tido por um "tipo destrutivo, que só gosta de deitar abaixo".
Quem não embandeira em arco porque alguém faz o que é suposto fazer uma pessoa normal é "um parvalhão que tem a mania que é melhor que os outros".
Quem não rotula uma pessoa decente de "excelente" é um porco que não sabe o que custa ser uma pessoa decente porque ele, manifestamente, não é.

Às vezes espanta-me como é que a humanidade consegue avançar.

Hélas!

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Sexta-feira, 13


Amanhã (hoje a acreditar no relógio, idiota estúpido que não sabe que ainda não fui domir - para mim é 12, ó parvalhão!) é dia de bruxas e maldizer. É aquele dia em que há desculpa para tudo.

Sempre achei fantástica, a capacidade criativa do Homem.

Hélas!

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Uma vida normal


Vivi os dias como os sabia
Límpidos e puros e livres
Não sabendo nada, sabia tudo
E a Vida era simples e clara
Mesmo quando era difícil.

Mas há mesmo monstros, afinal
Escondidos debaixo da cama
Mesmo que não acreditemos neles
Rasgam com as garras rombas
Os sonhos que vivemos acordados.

Hoje não tenho certezas
A pureza há muito desapareceu
E os monstros tornaram obscura
A limpidez da certeza do Bem
E a liberdade da escolha do Mal.

Hoje os dias são-me estranhos
E os momentos fáceis da Vida
Nunca são simples ou claros
Mesmo sabendo mais que ontem
Nunca sei nada com certeza.

Hélas!

terça-feira, 10 de novembro de 2009

A Riqueza das Nações


Tive (infelizmente já cá não mora) um amigo que tinha os ditos mais engraçados que já ouvi.

Eram frases cheias de humor e a malta podia rir-se delas alegremente. E podia, se quisesse e depois de se rir, pensar nelas.

Uma coisa que ele costumava dizer, a propósito disto ou daquilo era: "Não se deve acabar com os ricos, deve-se é acabar com os pobres".

Uma frase cómica, com sábias palavras. Acho que este mundo andaria bem melhor se, em vez de se tentar acabar com a riqueza das pessoas ricas, se tentasse acabar com a pobreza das pessoas pobres.

Posso estar enganada mas parece-me que, como de costume, é mais fácil matar a fortuna dos afortunados e assim acabar com as comparações dolorosas que combater as circunstâncias que condenam os desafortunados. E o Homem, como toda a gente sabe, é um gajo preguiçoso.

Depois há tipos como este, que vêem desassombradamente a nossa natureza e conseguem rir-se dela. Melhor ainda, conseguem fazer-nos a nós rir dela...

Abençoada gente, que inveja!

Hélas!

domingo, 8 de novembro de 2009

O que é a verdade?


Nós não gostamos da verdade e essa é que é essa.

Não gostamos das coisas como são, só gostamos das coisas como deviam ser; e este deviam contém todo o nosso egoísmo, todas as nossas manias, todas as nossas limitações, todas as nossas loucuras e todas as nossas virtudes; a palavra chave aqui é nossas.

Se dependesse de nós, a verdade dos outros não existiria e a Verdade, assim com letra grande, seria sempre só uma, a nossa.

É necessário amor para encarar a verdade dos outros. É necessária honestidade, para aceitar as coisas que lá estão e que são verdadeiras e das quais nós não gostamos. É necessário sacrifício porque dá imenso trabalho mudar a nossa verdade, mais a mais com coisas que não nos beneficiam em nada. E é necessária firmeza, porque a verdade dos outros também não é a Verdade, é simplesmente a verdade deles.

E isto é uma trabalheira desgraçada. Para quê? Porque raio havemos nós de nos importar com a verdade dos outros? Porque não é suficiente a nossa, porque diacho nos importamos com as diferenças e defendemos acaloradamente a nossa verdade?

Acho que é porque no íntimo, lá bem no fundinho do nosso ser, escondido no escuro e muito tímido, reside um gajo horrorosamente firme e que nunca se dobra. A gente bate-lhe, mata-o à fome e abafa-o mas o parvalhão nem morre nem dobra. E quando, já cansados, lhe gritamos "E o que é a verdade, hã? Diz lá o que é a verdade, hã?!?" ele olha para nós mas não responde, porque ele nunca responde àquilo que a gente já sabe.

E é preciso amor para dizer a alguém a nossa verdade. Acho que é preciso tanto quanto o necessário para a ouvir.

Acho que é por isto que, em geral, a verdade me dói. E também é por isto que agradeço o facto de ter gente que me diz a sua verdade. Porque na verdade é muito mais fácil fingir que a verdade dos outros é a nossa verdade e, francamente, essa é a maior mentira que conheço.

Hélas!

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Irritação


Irritam-me aos emails em cadeia - mande agora a 5/10/20 pessoas e verá a sorte grande a nascer à porta!

Irritam-me os cartões de fidelidade: diga-nos as suas preferências, o seu BI, o nº de contribuinte, o agregado familiar, a cor das cuecas e a malta dá uns bónus quando nos der jeito!

Na mesma linha, irritam-me os prémios na blogosfera: a maralha iluminada deu-te um prémio, agora faxavor põe o nosso selo (com um link, óbvio!) na tua casa, publicita quem te premiou, diz aí mais 5/10/20 gajos que te pareça estarem de acordo com isto e avisa-os que têm de publicitar quem os premiou e denunciar mais 5/10/20 existências...

Que querem? Irrita-me. Gosto é daqueles que, vendo o que veem, escolhem conforme acham e dizem de sua justiça; não avisam ninguém, não pedem referências, não exigem contrapartidas e não impõem regras. Limitam-se a referenciar o que acham digno de referência. Acho isto de louvar e de seguir o exemplo.

E deixem-se de risinhos parvos, que eu conheço sítios assim.

Hélas!

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Amanhã


Deixem que vos diga: amanhã é outro dia, 24 horas de oportunidade.

É complicado, isto, claro, nem poderia ser de outra forma em assuntos humanos: se nos ficarmos sempre pelo amanhã, nunca vivemos o hoje... E se só olharmos para hoje, certamente que o amanhã será horrível! Como de costume, a prima Virtude anda algures pelo meio, a passear e a colher flores - umas mortas, outras abertas e ainda outras em prometedores botões...

Mas agora estou cheia de sono, toda a gente sabe que o Homem é perito em parvoíces, não adianta nada chover no molhado e se não durmo agora sei lá se daqui a uma hora me passa o sono e depois nem o despertador me vale, vivemos numa ditadura relojoeira de ampulheta em punho, uma coisa horrorosa que perturba o bio-ritmo e me transtorna as noites e o que me vale nisto tudo é o madrugador e pachorrento homem com um café cheiroso...

Vou pró berço!

Hélas!

sábado, 31 de outubro de 2009

As Letras e as Ciências


Esta disjunção sempre me fez urticária. Como agora estou velha, faz eczema...

Eu vou tentar outra vez: Inglês e Chinês é Letras, certo? Matemática e Física são Ciências. Filosofia é Letras, Química é Ciências. Pois.

Mas cá para mim, Filosofia e Matemática é a mesma coisa embora em língua diferente, e daí vem que Psicologia e Japonês sejam aparentados, tipo irmãos (embora não sejam gémeos...).

Hélas!

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Nove


Pois nem sei bem que dizer, que o nove é o número do meu carinho, é mesmo mágico (que querem?!? O sete, a bem dizer, não me diz nada...)!

Saibam pois que tem 9 círculos o inferno e 9 esferas o céu (perguntem ao caramelo porque é que num caso só considera a área mas o outro já tem volume - cá para mim é racismo). Saibam também que:

  • 9 é a soma dos algarismos equidistantes (não falo em números em geral onde equidistância é vazia de sentido, falo de algarismos, de 0 a 9);
  • Qualquer dezena cuja soma dos dois algarismos dê o número 9, multiplicado por 12345679, dará sempre um número de algarismos repetidos;
  • Fazendo 12345679 multiplicar por 999999999 (nove noves) obtemos um crescendo e decrescendo giros: 12345679 x 999999999 = 12345678987654321
Acho que o meu amor por ele vem daí: não sendo monótono, é constante na presença.

Não o sendo ele próprio (não faz parte de clubes restritos, ama a boémia) é um produto de primo consigo próprio - e se já não se recomendam produtos entre primos, que dizer desta promiscuidade?!? Reparem que não se fala aqui em clones, detestável falta de originalidade - do que vos falo é de um filho (com toda a roleta de genes que isso implica) mas com um fundo genético único. É de doidos, não é? À 9, ora pois.

Para os que têm dificuldades com as máquinas de calcular ou com os excéis deste mundo digital, cá vai uma que pode ser feita á mão: 9 x 1 = 9; 9 x 2 = 18 (1+8=9); 9 x 3 = 27 (2+7=9); 9 x 4 = 36 (3+6=9) e por aí fora...

Para a malta que não curte muito contas, pensem que temos de esperar 9 meses para nascer mais um Homem (sentido lato da raça, que chatice sentir-me compelida a explicar o óbvio, batatas) e que quem chumba com 9 (estava quase!) se sente muito mais infeliz que quem chumba com 8 (eu não sabia nada, que se lixe), numa proporção que nada tem de linear...

Alarguei-me, desculpem. Mas é que adoro o bicho!

Hélas!

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Oito


Imaginem um tipo grande e com uma cobiça irreprimível por bolos de creme. Depois imaginem que o coitado toda a vida usou cinto, sem cinto sente-se despido mas o cinto não lhe serve, de modo que todas as manhãs aperta, aperta, aperta até conseguir...

Cá está o oito. Coitado.
Nem é primo nem é especial, é apenas o oito, de família mas afastado.

Há malta que o associa à justiça mas cá para mim é malta com uma versão de editor de texto muito antiga e que não se apercebe que, conforme a fonte utilizada, o tipo fica com a bola de cima mais pequena que a de baixo - ou vice-versa.

Depois há o pessoal diz que "a minha vida está feita num oito" mas quando se lhes fala do algarismo dizem logo que é um infinito alentejano; e eu fico sem perceber se esperam de facto viver eternamente mas deitados.

É mágico, este - não parece haver razão para a sua existência mas que existe, existe. Como as bruxas.

Hélas!

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Sete


O 7 é o número amado pelo Homem.

Atribui-lhe toda a espécie de características que, como não são demonstráveis fria e cientificamente, são vestidas por uma espécie de sabedoria transcendental. Como toda a gente sabe, o transcendental não se discute, simplesmente aceita-se ou não - a esmagadora maioria das pessoas aceita, mesmo que tenha de fazer algum corte-e-costura para lhe assentar melhor. E o 7, talvez por ser esguio, elegante e frugal suporta lindamente toda a espécie de costura.

Mesmo quem não acredita em nada que não possa medir tem especial ternura pelo 7.

São 7 os dias da semana, 7 são as maravilhas do mundo. São 7 os pecados mortais, como são 7 as cores do arco-íris e 7 foram as pragas do Egipto... Sagrado ou profano, tudo o que são conceitos humanos transpira setes.

Visualmente é esguio e elegante, matematicamente não só é Primo como, na primeira dinastia, é o último, aquele que fecha a era. É mágico.

Hélas!

Desculpem


Isto é lamentável mas hoje foi um dia indecente e já é meia-noite e tenho uma montanha de coisas ainda para fazer HOJE, a porcaria do PC não ajuda nada e a rede ainda menos, sei lá se o mal é dos vírus ou do interface entre a cadeira e o teclado, o que sei é que que amanhã tenho de me levantar com as galinhas e vai ser um dia de máquina de costura para lá e para cá porque me falhou a gente com que contava e agora tenho de me arranjar sem ela e a coisa não está nada fácil; ainda por cima parece-me que aqui há gato mas o diabo do bichano é esquivo e não se mostra, tenho de o perseguir através de n ficheiros de diferente índole e data de alteração, a microinformática é uma Medeia e eu estou contra a parede nos famigerados deadlines que nem dão tempo para respirar rais parta isto tudo se ao menos queimasse calorias e nos desse tempo extra de boa vida ainda se compreendia assim acho que é uma perfeita tolice mas que tem de ser porque sem estas tolices a gente sentia-se mal.

Amanhã vos conto sobre o 7, número amado pelo Homem.

Hélas!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Seis


Este é um número sem história; é o produto dos Primeiros Primos e isso parece justificar a sua existência...

Dizem os esotéricos que representa o Amor - eu não vejo como. A sua única característica relevante é serem 6 as faces do cubo, sendo o cubo o paralelipípedo mais regular, constante e monótono que existe... Nesse aspecto, o cubo traz volume à natureza do 6.

Há malta que argumenta que, sendo 666 o número da Besta, o algarismo tem que se lhe diga. Eu discordo, porque se só em matilha tem relevância, o indivíduo vale muito pouco.

Enfim, tal como na vida, a Matemática tem os seus pãezinhos sem sal.

Hélas!

domingo, 25 de outubro de 2009

Cinco


Ora aqui está o número do Homem.

Temos cinco dedos em cada mão e pé, temos 5 sentidos (cada um dos quais apresenta 5 pontos básicos) , 5 extremidades relevantes (cabeça, dois braços e duas pernas) e 5 vísceras (rins, pulmões, baço, fígado e coração). São 5 as funções do corpo vivo: Respiração, Digestão, Circulação, Excreção, Reprodução.

Os descontentes lançaram o 5º elemento, Akash (luz) só para os ditos não serem 4 (tipicamente humano isto, não acham?), a Coco lançou o perfume 5 e nem se atrevam a pensar que o nome é por acaso.

Diz quem diz que sabe que "são 5 as qualidades do homem perfeito: Bondade, justiça, amor, sabedoria, verdade. E são cinco os tipos de bondade, de justiça, de amor, de sabedoria e de verdade" [não me recordo da fonte disto mas vi algures na net...] e eu sei lá, o Homem é demasiado complexo e eu mal tenho 5 minutos para pensar.

É Primo, o que quer dizer que é um pouco anti-social ou melhor dito, um pouco elitista - mas no melhor pano cai a nódoa, é sabido. E dada a sua natureza humana, de espantar é que fiquem por aqui as suas idiossincrasias.

Não permite nem empates nem indecisões e a sua natureza impele-o à acção. É mágico: sendo único, é nós - que somos muitos.

Hélas!

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Quatro


É um par de pares, um número subtil e enigmático.

Não nos retratamos nele, o Homem prefere sempre os ímpares - é a sua natureza preguiçosa que evita o empate sempre que pode - mas reconhecemos instintiva e irracionalmente a sua magia.

Não é Primo de ninguém, parece ser solúvel em pares e sem identidade própria; mas se olharem para o Resto com olhos de ver, ficou lá qualquer coisa indistinta.

De mansinho e sem se fazer notar, impõe a sua personalidade: são 4 os elementos fundamentais, são 4 as estações do ano, 4 são as fases da Lua, têm 4 folhas os trevos da Sorte...

É um bocadinho insidioso, este. Mágico.

Hélas!

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Três


O número da confirmação - nunca ouviram dizer "não há duas sem três"? Quer dizer que se de facto houve duas iguais, é de esperar a terceira. Se não houver terceira olhem melhor porque provavelmente não eram duas, era 1 par - outro sintoma disto é que o 3 fica muito zangado.

Como é mais velho, tem ciúmes do Primo caçula e por isso passa a vida a competir, tentando "ganhar" sabe-se lá o quê - palermices de quem subiu à cabeça o dito popular de que é a conta de deus.

Àparte as suas idiossincrasias, o 3 é mágico. É ele que nos demonstra que ver o mundo a preto e branco além de redutor é estúpido.
Os católicos perceberam isso muito bem e lançaram a Santíssima Trindade - chamem-lhes parvos, chamem.

É o número da Esperança. Há a Morte, há a Vida e há o 3, que somos nós...

Hélas!

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Como disse?


Só mesmo aquela abestunta seria capaz de dizer com ar sério que "Deus é má pessoa".

Dâaahhh... O que eu poderia desculpar a tantos outros, parece-me imperdoável num escritor, de quem se espera uma intimidade com as palavras incapaz de tão idiota incoerência.

Amanhã vos conto sobre o Três. Honra lhe seja feita, a aventesma é dos poucos homens que não conheço pessoalmente e que me irrita a ponto de me fazer mudar de rumo.

Hélas!

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Dois


Introduz a questão.

Tal como o seu predecessor, é único: há mais num par que em dois uns - ou conhecem algum casal feito de dois solteiros?

O par é como a água, solvente universal: quase tudo se pode dividir em pares ou num ou mais pares de ímpares.

Até a natureza humana, tão complexa, se divide normalmente em pares. Claro que podem não ser os mesmos pares, mas entre Amor, Filhos, Lazer, Profissão, etc, o Homem procura sempre o seu par.

Está, como era de esperar, de acordo com a Filosofia: não há Mal sem Bem, não há Felicidade sem Infelicidade; tudo mais o par de botas neste vale de lágrimas anda aos pares.

Até o mistério das meias desaparecidas só o é porque é um par que perdeu o par mas que toda a gente sabe que o par anda para aí sózinho, desgraçado.

É um número mágico.

Hélas!

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Um


É a base, o pilar. A tinta com que se escrevem as letras.

Todos os números mais não são que a quantidade de 1s envolvidos: um quaquilhão (número impressionante) é um quaquilhão de uns - e é esta a quantidade que impressiona, não o quaquilhão ele próprio que afinal é só um, coitado.

A Unidade permanece imutável, sempre a mesma, única mesmo que composta, o referencial, aquilo cuja natureza intrínseca nunca se altera seja qual for a sua natureza extrínseca. É mágico, não é?

Sem pelo menos 1 nada existiria. Já repararam bem? É que nem conseguíamos ter uma partezita, pequenininha, 1 cheirinho... Se não houvesse o 1 de que isso é parte.

Hélas!

domingo, 18 de outubro de 2009

Zero


É a personificação do paradoxo da humanidade: na ciência cuja natureza é contabilizar a existência - passada, presente ou futura - inventou-se a quantificação da inexistência.

Fazia falta, estão a ver, embora seja demasiado complicado explicar aqui porque é que a inexistência faz falta a quem contabiliza a existência, a verdade é que faz.

E como o Homem não é gajo para ficar a chorar por algo que lhe falta, ZÁS! Inventou o 0. E as coisas ganharam existência, pois agora havia a sua negação.

É mágico.

Hélas!

Ciência


Sabem? Eu, do alto da minha grande ignorância, acho que há 2 ciências: a Matemática e a Filosofia.
Tudo o resto são frutos, especializações, esmiuçamento de particulares.

Há muitos particulares, muitos esmiuçamentos, claro. Física. Álgebra. Estatística. Medicina. Religião. Psicologia. E mais, muitos mais.

Nobres, mas filhos. A génese da sua sabedoria reside nos sabedores genes dos pais.

E mai' nada.

Hélas!

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Gostava de ser poeta


Um poeta é um joalheiro da língua.

Da matéria bruta contida em qualquer Dicionário, faz obras únicas, intrincadas, sofridas, em camadas infindáveis, buriladas com uma paciência de velho chinês... Obras belas na sua identidade única e natureza variável.

O poeta depois refaz novamente, lima aqui, acrescenta acoli, corta mais além... Nunca fica satisfeito - quanto melhor a obra mais sensível ao tempo do espírito de quem lê (o autor não é excepção pois é antes de mais, gente; e a poesia tem essa Natureza, é mutável sem nunca perder a sua identidade, como as pessoas) - a obra só está acabada quando é roubada ao autor.

Ao ser lida, sofre uma metamorfose do tipo Pedra Filosofal mas aplicada a si própria: deixa de ser o que foi para ser - realmente SER - a coisa percebida - tão única como única é a identidade de quem a lê no tempo em que o faz. É mágico.

É por isso que a poesia é intraduzível - o melhor que se consegue nesta área é uma imitação deslavada - se lerem uma boa tradução é porque não é tal, é a expressão de um poeta inspirado por outro e a obra é intrínsecamente diferente. Não é possível traduzir poesia, do mesmo modo que não é possível fazer um anel de ouro usando prata, embora se possam fazer anéis com ambos...

Também gostava de ganhar o Euromilhões.

Hélas!

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Intervalo


[Porque isto anda uma bandalheira tal que já nem o dia 11 cumpre a sua obrigação de semear sonhos, resolvi (outra vez! Há palermices estupidamente reincidentes, não há dúvida) lutar contra a maré. Decidi, contra o mais elementar bom senso (sou tonta, sim, mas uma tonta com pretensões racionais), adaptar o canal do Panamá aos meus intentos particulares e invadir uma outra horta só parcialmente minha:]

Hoje o sol põe-se em silêncio,
A Vida vê a pausa, inquieta,
A Morte ri-se, lá do Outro lado:
- Querias, não é? Mas hoje não estou para isso.
Os segundos passam, lentos, seguros,
Tudo continua como antes, imutável
O Homem chora pérolas mais salgadas
e o seu desespero é mais amargo e duro.
Não há matemática
capaz de igualar a Zero
esta equação.

Hélas!

sábado, 10 de outubro de 2009

Barraca


Barack ganhou o prémio Nobel da Paz.

Eu gosto dele, da sua estudada leveza, da pose, do savoir faire.
Quanto ao resto, sei lá?!? O homem só está naquela posição há uns meses, nem teve tempo de ler todos os arquivos dos assuntos difíceis, veremos os seus actos. Mas para já, é diferente do que estamos habituados, não é de graça que é um não-branco, o primeiro não-branco na Casa Branca.

Isto achei fantástico, só nos USA, esse país inquinado de preconceitos raciais, teorias do mérito e defesa despudorada do seu próprio modo de vida. Não sendo fã dos USA em tanta e tanta coisa, confesso que fiquei impressionada com aquele povo, quando o tipo ganhou as eleições - na liberal Europa parece-me impossível um não-branco subir a tal altura, para já.

Mas é conveniente realçar que não fiquei impressionada com ele, fiquei impressionada com o povo dele.

O Nobel da Paz é outro assunto. Que raio de provas privadas terá dado o homem (públicas parece-me que não há) para estar ao lado de Mandela que impediu, além de um passageiro banho de sangue, uma doentia propagação de ódio - que custa mais a ser absorvida pelo planeta que um saco de plástico?

Ele confessou-se espantado. Eu cá também fiquei mas no meu caso é o discernimento comezinho de uma pessoa vulgar. E também me entristece saber que o espanto pela barraca do Nobel o honra a ele mas não a mim, pela própria natureza da humanidade.

Hélas!

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Inquietação


Acho verdadeiramente inquietante não fazer a mínima ideia se daqui a uma semana estarei a rir ou a chorar.

Devia haver seguros contra a tristeza - com o prémio pago em alegria pronta-a-usar.
As prestações seriam em horas de nem-triste-nem-alegre (já imaginaram o balúrdio?...) e reclamar o seguro seria livre - tantas horas depositadas compram x minutos de alegria.

Tenho mesmo jeito para estas coisas, não percebo porque é que não arranjo investidores: já calcularam o mercado potencial deste negócio?!?

Bem me parecia que a culpa era deles; é por estas e outras que Portugal não anda para a frente, caramba!

Hélas!

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Hoje


Hoje é segunda-feira, 5 de Outubro de 2009, são 12:50 e é feriado.

Ocorre-me de repente que não é feriado para todos, só para os portugueses. Também não são 12:50 para todos, há malta na Terra que acabou de se deitar para uma boa noite de sono. Nem sequer é 5 de Outubro de 2009 para todos porque há povos que não têm o mesmo calendário...

Como diacho é que se conseguiu que fosse segunda-feira para todos?!?

Isto é só coisas que me ralam.

Hélas!

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Stress


Antes de mais, nada, deixem-me esclarecer: recuso-me a utilizar o Brasileirismo - portanto Português - "estresse", porque a ortografia de tal vocábulo faz-me dores de cabeça.

Posto isto, deixem-me dizer-vos que não tinha um dia como o de hoje, a sentir fria e conscientemente a tensão da passagem do tempo, lutando deliberadamente minuto a minuto para que todos os segundos tenham o seu quinhão de trabalho útil - com um sentimento construtivo - há muitos, muitíssimos, ciclos. Este ano aziago foi palco de demasiadas situações de stress para mim mas, ao contrário desta, eram situações em que pura e simplesmente não tinha qualquer controlo, tipo tsunami.

Venci, no sentido em que não me acobardei, não desmaiei, não tratei mal ninguém, não perdi a cabeça nem de nenhum outro modo desperdicei um segundo que fosse.
Se o trabalho sai ou não sai, isso para mim é outra questão apesar de saber que para o mundo o que interessa é o resultado.

Hoje sinto-me orgulhosa de mim própria.

Hélas!

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Blá, blá, blá...


Toda a gente sabe que há pessoas que falam pouco. Porque é que falam pouco, isso é outro tratado... Há algumas que são tímidas, outras têm a paranóia do segredo, outras ainda têm pavor que alguém saiba a sua opinião... Toneladas de razões, todas muito diferentes.

Também toda a gente sabe que há pessoas que falam muito; e também para estas as razões são infinitas: há quem tenha receio do silêncio, quem só se sinta bem a fazer publicidade a si próprio, quem tenha sede de ser ouvido, etc, etc, etc - é quase cada vida cada razão.

E também toda a gente sabe que há muita gente que nem é duma qualidade nem da outra: falam muito de vez em quando e falam pouco de quando em vez.

O que há poucas pessoas a saber é que há gente que pensa em voz alta e fala em silêncio.

Hélas!

Objectivos


"- O objectivo do homem é ser feliz.", atiraram-me com esta, um dia.

Dá-me uma certa vontade de rir: só mesmo o Homem, para ter como objectivo uma impossibilidade! Mas claro, de vez em quando somos realmente felizes...

Se calhar ficamos viciados, prontos a tudo na busca de mais uma dose.

Hélas!

domingo, 27 de setembro de 2009

Milagres


Há qualquer coisa de mágico numa vida que se renova; é por isso que toda a gente gosta de bebés, sejam eles humanos, animais ou vegetais. Um bebé é a prova concreta que o mundo não acabou sem nós darmos por nada.

Por outro lado um bebé, apesar de coisa nova, é igualmente tão velho como a vida, pelo que a sua existência é também uma espécie de compromisso da Natureza que o mundo na sua essência se mantém compreensível.

Adicionalmente, o bebé com a sua fragilidade de recém-chegado a este vale de lágrimas, necessita de cuidados dos que já por cá choram e esta necessidade revitaliza a utilidade dos mais velhos, muitas vezes permitindo-lhes reencontrar o sentido da vida que perderam pelo caminho, afogado pelas mágoas do dia-a-dia.

Quem tem filho(s) sabe disto instintivamente, mesmo sem estas secas considerações. Quem já adoptou um animal bebé também, assim como quem já teve animais a nascer em casa. Os Jardins Zoológicos sabem-no perfeitamente, há anos. Os agricultores, ou quem tem uma horta, também.

Podem não ter escalpelizado a coisa de forma tão seca mas conhecem perfeitamente as promessas e consequências de uma nova vida, todos eles.

A mim nasceu-me um ananás, que querem? Quero lá saber que o Socas tenha ganho as eleições! Isso era de esperar, inesperado e mágico é ter um ananás no quintal. E não me venham com discursos eloquentes acerca da importância da política na vida-de-todos-nós. A importância das coisas não tem rigorosamente nada a ver com milagres.

Hélas!

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Life finds a way


As imagens tornam sempre tudo muito mais lento mas não resisti: tem fruto!!!!

Quem diria que o ananás que comi aqui há 5 anos, aliado à mania que tenho de fazer sobreviver as folhas opulentas mas minimalistas daria nisto?!? Caramba, quase me saíram os olhos das órbitas quando, afastado o matagal do jardim - casas onde não se vive, sabem como é... - vejo este filhote orgulhoso e prometedor!

Não há dúvida que o futuro é sempre uma incógnita.
Se me tivessem dito que a bela planta da sala que se tormou demasiado grande daria nisto, eu não tinha acreditado. Plantei-a no jardim porque a salvei do lixo, porque é bonita e porque na sala já ocupava demasiado espaço com as suas folhas aguçadas. Claro que esperava que sobrevivesse mas na realidade sem muita fé pois, como disse antes, é uma casa onde não se vive, visita-se.

Mas voilá...

Hélas!

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Setembro


Dizem que o início do ano é a 1 de Janeiro; isto é disparate, se meditarem no assunto fica evidente que o início do ano é o fim de Setembro.

É em Setembro que todas as pessoas estão de volta das férias, supostamente com as baterias carregadas para mais um ano de esforço.

É em Setembro que as empresas voltam ao normal, depois de passarem meses a praguejar pelo meio gás, fruto da ausência de fornecedores, empregados e/ou clientes.

É em Setembro que as aulas iniciam o esforço insano de transformar jovens animais ignaros em pessoas educadas (será coincidência? Também é em Setembro que se plantam os nabos).

Ora batatas, é em Setembro que recomeça a labuta e eu ainda tão cansada! É certo que tenho mais 4 dias de férias mas acho que o descanso de que necessito não cabe. E não sei como, este sentimento obscurece um pouco o maravilhoso sol da meia praia...

Arre! O Homem é um animal mesmo estúpido. Ou pelo menos, assim é a personificação da besta neste momento, aqui a aventesma ao dispor.

Hélas!

domingo, 20 de setembro de 2009

Relatório


Voltei e volto a partir amanhã - passei por aqui só para dizer olá e fazer o relatório da semana:

Gibraltar: tanto as estalagmites como os macacos olharam para nós com igual e soberana indiferença.

Casablanca: melhor dizendo, Rabat, para onde fomos assim que pusémos os pés em terra firme: giro. A tumba do Mohammed tem que se lhe diga.

Agadir: gamaram-me a cigarreira no mercado; senti o empurrão mas não a tempo de determinar quem fora o ladrão; já nem o Ramadão é o que era, eu tinha estimação naquela cigarreira...

Lanzarote: fiquei apaixonada. Com a antipatia que tenho ao Saramago, como é possível aprovar tão entusiaticamente a sua escolha?!? Quando for grande, também eu irei viver para uma ilha vulcânica.

Amanhã: Legues. Espero que esteja mais sol do que o que vi esta semana! Adoro viajar mas o sol faz-me falta. Principalmente com uma piscina perto, já meditaram no desperdício enoooooooorme que é uma piscina sem sol?!? Nem sei o que é pior, se piscina sem sol ou sol sem piscina; mas o segundo, pelo menos, bronzeia.

Hélas

sábado, 12 de setembro de 2009

Vacanças


Caríssimos, estou de alforria.

Durante uma semana inteirinha, não haverá telefone, telelé ou Internet. Estarei com quem estou e sem saber de mais ninguém. Será um descanso (olhos que não vêem, coração que não sente...).

Todos aqueles capazes de me tirar o sono por preocupação irracional ou estão comigo ou têm o apoio necessário para sobreviver uma semana sem eu saber deles (há um que enfim... Mas é maior, sensato, racional e saudável, tem amigos verdadeiros... Não há de ser nada, é só uma semanita).
Gosto de muitos outros mas não me tiram o sono sem razões concretas que, neste momento, não existem.

É fantástico, tenho de acender uma velinha a S. Teotónio, que nem toda a gente tem esta graça.

Hélas!

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Incompreensão e tradutores (brokers, em inglesismo)


Questionaram-me e eu, completamente offside, a princípio nem percebia a questão.

Se eu gosto do Sonny, d' "O Padrinho"? Ora batatas, é uma personagem, não é uma pessoa; pode-se gostar de um personagem??? Simpatiza-se com este ou aquele traço, abomina-se outro, questiona-se a coerência de mais uns quantos, mas gostar? Gosta-se de pessoas, cães, gatos, peixes e outras existências reais, não se gosta da mulher do quadro (embora se possa gostar do quadro), parece-me. Como diacho se gosta de algo que não existe, que apenas personaliza uma realidade?!? Pode-se gostar da realidade, mas gostar do símbolo que a representa? Continuo a achar que a pergunta não faz sentido.

Bom, depois de perceber o que queriam que eu respondesse, nem tentei a resposta real. Apenas reafirmei que Sonny, como já tinha dito antes, nalguns aspectos personifica a felicidade de quem dá o seu melhor - que não chega - e morre antes de se aperceber que, faça o que fizer, não faz o que é necessário. De certa maneira morre feliz, com o sentimento de que fez o que se podia fazer e sem a mínima idéia de que o que ele pode fazer não encaixa com o que é necessário fazer - por estas e outras é que eu adoro "O Padrinho", as suas entrelinhas são do melhor.

Eu cá sempre disse: "Felizes os pobres de espírito que nem se apercebem de quão longe estão de responder à necessidade". Agora acrescento: "Pobres daqueles que, dando o seu melhor, se apercebem que não chega e que só alguém com outras mestrias poderá realmente prover à necessidade existente". Isto, claro, na suposição de que o que importa é prover a uma necessidade existente. Nesta suposição, a maioria das pessoas corta-se e não arrisca. Para elas, é mais importante não falhar (por isso, se for demasiado arriscado não tentam, doa a quem doer), que prover à dita necessidade.

Ou seja, na realidade importam-se mais com o seu sucesso que com a necessidade existente.

Já estava embarcada na filosofia doméstica... Voltando atrás, caraças, até para comentários descuidados são precisos brokers (esta palavra é extraordinariamente bem escolhida, já repararam? Broker é aquele que rompe, neste caso a barreira do entendimento. Extraordinário.)

Hélas!

terça-feira, 8 de setembro de 2009

O Padrinho


Zip, zap, zip, TUNGA!

Pronto, fui caçada. Apareceu o Padrinho no écran e pronto, já está. Aqui a totó já não tem safa, é mais fácil que caçar moscas com açúcar.

Sobem-me novamente as lágrimas aos olhos quando vejo o triste destino de Sonny: um gajo dá tudo o que tem e não é suficiente. Não é culpa dele, pois não se poderia esforçar mais; mas não chega. Simplesmente, não é suficiente.

Pobre Sonny, que não tem o necessário, feliz Sonny, que bateu as botas antes de perceber que não chegava, independentemente do esforço ou sacrifício.

Adoro "O Padrinho", prontes

Hélas!

domingo, 30 de agosto de 2009

Brilhante, Watson!


Cheguei a uma conclusão verdadeiramente brilhante, digna dos meus pirolitos: a vida é complicada, mas o Homem faz da complicação o objectivo da vida.

Quero eu dizer, há doenças, há velhice, necessidades, desemprego, dificuldades reais que impedem que se viva no bem-bom. Claro que sim, toda a gente tem a sua quota-parte destas misérias.

Mas o Homem, que é sempre perfeccionista, considera esta uma realidade pobre e, vai daí, complica. Complica sempre, porque as coisas simples são para ele anti-naturais.

Há doença? Pois é melhor fazer um check-up à família toda, porque deve haver mais alguém muito doente. Se não houver ninguém, alarga-se o rastreio.

Velhice? O raio do velho não pensou nisso quando era novo e agora eu é que me aguento? Sinceramente, o velho não vê que a vida já é tão difícil, quem é que o mandou envelhecer até esse ponto, afinal?!?

Necessidades? Era o que mais faltava, já me bastam as minhas. Além do mais, a culpa é desses gajos, quem os mandou precisar de terceiros?

Desemprego? Ora eu sempre disse que a rapariga devia ter ido mas é estudar costura, há sempre falta de costureiras. Mas claro que não me ouviu, quis ir para Física Nuclear e agora não tem que comer... Bem, pode vir jantar cá a casa, mas terá de me ouvir até sair porta fora.

Dificuldades? Ora esta gente pensa que é tudo simples, pois não vêem que é tudo muito complicado?!? É que se não for complicado é porque alguém não está a ver bem o problema. De certezinha. Mas nós estamos disponíveis para explicar.

E se não se arranjar mais nada, mesmo mais nada, pode-se sempre ter uma discussão irritada sobre o Dalai Lama e a situação do Tibete. Essa resulta sempre, mesmo que as coisas estejam bem - é certinho como a noite que de repente fica tudo complicado.

Hélas!

domingo, 23 de agosto de 2009

Ó tempo, volta para trás...


O meu relógio deve estar avariado.

Ainda ontem disse a uma amiga que lhe telefonava para combinar um jantarito no sábado. Hoje ela telefonou-me e verifiquei que entretanto se tinham passado 2 meses. Não me perguntem por onde passaram porque eu nem os vi.

O meu vizinho de cima rosna qualquer coisa que soa como "pois, minha linda, julgas que grrunf, grraf, tá-se a ver, grrof, o tempo espera por ti..."

Não o entendo e não é por causa dos grunhidos - tenho lá culpa que os meses desapareçam como o Houdini?!?

Hélas!

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Férias


Agosto é desesperante.

- Já foste de férias?
- Quando é vais de férias?
- Quando é que voltas das férias?
- Ai, a gaja está de férias?!? E quem é que a substitui? O Manel? Ah, mas esse também foi de férias, só volta para a semana.
- Não te preocupes que o cliente está de férias (eu estou rouca de explicar que o cliente NUNCA está de férias, está simplesmente à espera da nossa resposta. Esperar na praia ou no sofá do escritório é irrelevante)

Ora batatas que nunca mais chegam as minhas.

Hélas!

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Mas que desleixo!


Isto está um Congo, nunca vi coisa assim.

Já passou mais de uma semana depois do último artigo e o silêncio na horta é sepulcral, nem se ouvem as minhocas; passou-se o dia 11 e a poesia ficou onde mora, amuada e muda; há umas visitas relâmpago - normalmente silenciosas - a sítios do coração e mais nada.

Uma vergonha verdadeiramente vergonhosa, tal calaceirice. Só para perceberem bem a gravidade da coisa, o meu vizinho de cima desceu as escadas a assobiar, olhou para a minha cara e tornou a subir. Não disse nada (eu também não, só olhei para ele, um olhar inocente, juro!).
Fiquei com medo de me ver ao espelho, o meu vizinho não se assusta com facilidade e ainda é mais difícil manter aquela boca fechada.

Isto é de um desleixo verdadeiramente digno de político, ai isso é. Deve ter sido isso que o assustou.

Hélas!

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O Poste


Eu vinha para casa (mais precisamente, ia a caminho do parque de estacionamento onde está o carro que me levará a casa mas isto já são minudências), como sempre de olhos postos no chão, cega, a fitar as pedrinhas hipnóticas da calçada, a pensar na contingência da vida, nos gafanhotos e nas ameijoas de aquacultura, óptimas porque não têm qualquer areia, e nisto atropelei um poste.

Nasceu ali, sem qualquer aviso e à sorrelfa; aposto que mantém a contagem dos palermas que chocaram com ele, que isto agora já não há respeito nem por parte dos postes.

Uma coisa leva a outra, já sabemos o caminho destas coisas portanto deixo aqui apenas a pergunta final de um longo caminho muito lógico (entretanto entrei no carro e fiquei novamente hipnotizada, desta vez a ouvir o Nabucco):

Porque diacho é que toda a gente acha o pôr-de-sol no mar mais bonito?

Hélas!

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Olhai os lírios do campo


Olhai os lírios do campo: não trabalham nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, com toda a sua glória, se vestiu como um deles.

Olhai os lírios do campo e vede: metidos no campo ou no vaso horrorosamente roxo da vizinha, sem qualquer liberdade de vestir umas jeans fora de moda e uns ténis rotos. Olhai para eles mas olhai bem: não podem apanhar uma piela, bater no vizinho, correr a salvar uma filha do desespero ou deitarem-se do vigésimo andar a rir.

Olhai e tende misericórdia - uma espécie de vitamina da alma - mas sobretudo, sobretudo, olhai e tende gratidão.

Olhai os lírios do campo. E reconhecei a graça de não serdes um deles, ricamente ajaezado, ricamente agrilhoado, ricamente limitado.

Antes ser pobremente feliz e dolorosamente livre. Com umas sandálias freak, uma camisa aos quadrados, umas calças roxas com riscas azuis e a infelicidade garantida em qualquer dos ilimitados recantos do livre arbítrio.

Obrigada, Senhor, por não ser um lírio do campo.

Hélas!

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Simplicidade


Às vezes invejo os simples de espírito - parece-me tão mais fácil ser feliz quando se é simples de espírito (mas também deve ser mais fácil ser infeliz, embora isso neste momento não me interesse nada).

Outras vezes invejo os simplesmente simples. Também deve ser mais fácil ser feliz, quando se é simples (mas também deve ser mais fácil ser infeliz, embora isso neste momento também não me interesse nada).

Ainda outras vezes - menos, naturalmente - invejo a pessoa que seria, se fosse como algumas pessoas dizem que sou: um parafuso com roscas a mais, uma complicadinha dos pirolitos (são uma cambada, os alguns, ah! pois são!).

Pensando nisto hoje, chego à conclusão que sou, muito simplesmente, invejosa.

Que chatice, sempre detestei invejosos.

Hélas!

sábado, 25 de julho de 2009

O outro bem sabia


Há dias em que desejamos não sermos nós. Como é que dizia o outro? "Que grande felicidade não ser eu!", era uma coisa assim.

Quando o peso da carga parte as costas, o facto de termos sido nós próprios a por o saco aos ombros é avassalador. Não se vislumbrar uma alternativa decente é apenas a cereja em cima do bolo.

Dizem que o que não tem remédio, remediado está; mas é mentira, acreditem.

Hélas!

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Piloto automático


Ia escrever sobre uma coisa muito interessante que, aliada a estranhos hábitos humanos, ainda ficava mais interessante. Daquelas coisas que nos passam pela cabeça à noite quando, já quase a dormir, pensamos na Vida. Na nossa e na dos Outros.

Lembrei-me disso anteontem mas depois meteu-se não sei o quê. E lembrei-me ontem mas intrometeu-se a caça às bruxas. Hoje estou para aqui parva, a tentar lembrar-me do que era assim tão interessante... E não me aparece nada na carola.

Cada vez percebo melhor os robots e devo confessar que isso me rala um bocadito.

Hélas!

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Pensamento


Pensem nisto e digam-me qualquer coisa se vos apetecer e se não houver uma festança divertida no horário.

Porque é que o homem dá sistematicamente mais importância à perseguição do supostamente culpado que à resolução do problema existente?

E não me digam que é para evitar repetições de erros passados, porque nisso não acredito eu.

Hélas!

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Sonho com sono


Sonhei que o Obama morria de acidente e acordei sobressaltada.

Nunca tinha sonhado com um presidente - estrangeiro ou nacional. Nunca tinha sonhado com a morte de um desconhecido e eu não conheço o homem de lado nenhum. Não foi um pesadelo mas acordei sobressaltada.

Só me faltava agora, depois de velha, andar a sonhar com coisas que me acordam. Qualquer dia acordo com o sonho de uma noite de verão.

Bom, pensando bem, isso até era fixe, não era?

Hélas!

sexta-feira, 17 de julho de 2009

O sentido da prosa


Hoje não é dia de poesia.

O vizinho de cima sorri, escarninho - É dia de prosa com sentido - diz ele e vai-se embora, deixando-me sozinha a contas com o sentido da prosa.

E agora, Adalberto?!? Que hei-de eu dizer em prosa aos meus pares, que valha o tempo que gastam a ler?? Guerra, política, Nietzsche, roubos, spam, moral... Batatas, isto são tudo lugares comuns, gastos como os degraus da igreja velha.

E ainda dizem que difícil é ter um filho. Caraças, foi muito mais fácil, ele tinha de nascer e nasceu, ficou feito e prontes, não há cá confusão nenhuma.

Agora prosa... E com sentido, ainda por cima?!?
Estão a brincar com a tropa - um dia destes arrependem-se.

Ora batatas.

Hélas!

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Contra-relógio


O sono é muito e as horas são poucas.

Dão-se alvíssaras a quem conseguir colocar 3 horas de sono em 1 de relógio - podiam cooperar, em vez de estrebuchar, caramba!

Qual modelo de negócio, qual carapuça! Isto sim, era inovação com dentes.

Hélas!

terça-feira, 14 de julho de 2009

A vida continua


É um cliché.

E é a realidade. Uma calamidade, um terramoto, maremoto ou whatever depressa são engolidos pelas necessidades dos vivos, porque os mortos estão para além disso, não necessitam de nada na nossa dimensão.

De certa forma, é triste - parece que os mortos não fazem falta, o que todos sabemos que não é verdade.
De outro ponto de vista, é um hino fantástico à Esperança - seja o que for que se passar, a humanidade continua a bulir - mesmo a humanidade tão próxima que deixa de ser humanidade para ser simplesmente irmão, mãe, pai, amigo, tio, entidades concretas.
De um terceiro ponto de vista (?!?), não há qualquer relação entre as coisas; são assuntos disjuntos e é tolo meter os dois no mesmo raciocínio.

Haverá mais, certamente, muito mais. Amanhã pensarei sobre isso.


Hélas!

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Hoje


Hoje, há uma jovem que chora.

Sei que ontem houve muitas, hoje muitas há e amanhã mais haverá - mas não me interessa, egoísta na minha triste natureza humana - hoje, há uma jovem alegre que eu conheço e que chora.

O desespero da impotência, conheço-o bem; também conheço bem o medo profundo, oleoso, peganhento e traiçoeiro. Mas não conheço a dor funda e irreparável da perda dela. Apenas posso imaginar, confortavelmente longe da realidade.

Ela chora, hoje. Amanhã não chorará porque o físico é fraco e as lágrimas esgotam-se. Mas o desgosto continuará imenso, arrasador, incalculável.

8 anos, foi-lhe roubado o futuro. Que dizer?!? Menina, eu sei que não vale nada mas o meu coração chora contigo.

Hélas!

domingo, 12 de julho de 2009

Amor é água que corre


Eu não gosto muito de chavões. Ou, se calhar, gosto demasiado.

Normalmente são frases profundas e que merecem meditação mas são usados de forma descuidada e irresponsável, a propósito das coisas mais triviais e sem qualquer rebuço. Isso irrita-me.

Há lá pachorra para ouvir, a propósito duma aula péssima, que "Quem sabe faz, quem não sabe ensina"?!?

Hélas!

sábado, 11 de julho de 2009

Tempos


O sol brilha forte
Hoje não é ontem
E é outra a sorte
Outros que contem
As fugas à morte.



Hélas!

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Serralharia


Hoje foi um dia chave.

Não sei ainda é se a fechadura serve.

Hélas!

terça-feira, 7 de julho de 2009

Parar é morrer


Acreditem, o pior de tudo o que nos pode acontecer é parar.

Quem pára entra imediatamente em estagnação.
Os fungos da resistência à mudança explodem de vida, os neurónios entram rapidamente em inanição, as traças fazem uma festa desenfreada abrindo buracos no espírito, tudo se torna enormemente complicado, trabalhoso e sem interesse, a rotina, o sofá, a TV e o PC ganham o estatuto fantástico de necessidades de primeira ordem.

E arrancar, depois de parado? Estão a brincar?!? A inércia é incalculável. Os fungos demonstram uma estranha vitalidade vegetal, abafando o movimento. As traças abocanham os neurónios inertes, o sofá aparece em sonhos declamando I have a dream and you can have it too, just seat on me and think about it. Boo!, o PC sussurra "Anda cá, tenho o mundo que queres à tua espera" e a vontade fraqueja.

O esforço é hercúleo; a curiosidade, comida pelas traças, prima pela ausência. A necessidade não se revela e é tudo baseado nuns vagos conceitos de que "não se pode estar 20 anos a ver TV sem sentido" e "daqui a nada estou uma couve de Bruxelas num sofá plantada". O pior é que sabemos bem que sim, pode-se viver de TV. E nunca ninguém ouviu falar de couves de Bruxelas infelizes.
E embora um neurónio moribundinho tenha ainda a resistência suficiente para gritar "NÃO!", a verdade é que as pernas já não lhe obedecem.

Então quando as contingências da vida estão contra nós, é dramático. Se bem que toda a gente sabe que as contingências da vida são a melhor desculpa do mundo.

Enfim... Um dia disseram-me que o que conta é tentar. Eu não perguntei para que conta é que isso contava, tive receio da resposta. Mas há-de ser para alguma...

Hélas!

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Pois é...


Conhecem alguém que vos encha as medidas de forma completa? Não falo de amores, que o coração tem razões que a razão desconhece e que para aqui também não são chamados
Falo de outra coisa: uma pessoa, viva e ainda capaz de vos desapontar, a quem se admira como expoente daquilo que se deseja ser.

Conhecem alguém - vivo - que seja um modelo? Com quem aspirem a parecer-se? Alguém que admirem de tal forma que não vos custava nada dobrar o joelho em público?

Eu também não. Acho que é por isso que se diz que vivemos uma crise de valores.

Hélas!

domingo, 5 de julho de 2009

Fuga


Gostava de fugir para uma ilha paradisíaca do Pacífico e ficar por lá uns anos, a viver do sol e da boa disposição.

O problema é que teria de trazer comigo uma data de gente que não tem qualquer interesse em ilhas atrás do sol posto.

Isto é só coisas que me ralam.

Hélas!

sábado, 4 de julho de 2009

Janica


A Joãozinha vai renunciar à nacionalidade portuguesa? Fantástico.

Está farta, diz ela. Sim, digo eu, isto de não se ser tratado como mba na nossa casa farta uma pessoa, principalmente uma pessoa que toca bem, o que devia ser certificado suficiente para gerir uns tostões de dinheiro alheio - não há direito.

Aliás, costuma ser por isso que os jovens saem de casa dos pais: querem ser tratados como senhores da casa, não como filhos - o facto de receberem mesada é irrelevante para o caso. É verdade que normalmente não renegam os pais mas já tem havido casos.

Boa sorte, Janica. Um conselho de ex-compatriota: fica-te pelo Chopin e não te ponhas com mbas em Jericoacoara. Senão ainda tens de renegar os pais adoptivos, ficavas orfã, era uma chatice.

Hélas!

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Vejo => penso => sinto => quero => desejo


Entre outras coisas, no tal curso de soft skills ensinaram-nos que a mais produtiva forma de refilar - ou falar do tempo - é ser assertivo (palavrão muito na moda e que quer mais ou menos dizer falar com controlo + verdade + objectividade + emoção - agressividade. O palavrão justifica-se, portanto, é muito mais económico).

A ideia geral do discurso é: primeiro o retrato objectivo da realidade, depois a interpretação desse retrato e depois a verbalização das emoções suscitadas pela interpretação; no segundo passo, informa-se o outro da acção concreta que desejamos e por fim explicam-se os objectivos que julgamos conseguir com essa acção concreta.

Ocorreu-me na altura que deve ser até divertido: imaginem só a reacção assertiva perante um assalto à mão armada. O assaltado, muito controlado, diz com voz firme para o ladrão, antes mesmo deste abrir a boca:

- Vejo que tem uma pistola na mão e penso que me quer assaltar; sinto-me ao mesmo tempo assustado e indignado. Quero que meta outra vez a pistola no bolso e se vá embora, pois não pretendo ficar sem qualquer das coisas que trago comigo.

Isto segue a regra da forma mais académica. E se calhar, o assaltante ficava tão espantado e desconfiado que dava resultado.

Hélas!

quarta-feira, 1 de julho de 2009

言語日本語


Ocorreu-me uma experiência: em 24 horas, quantos visitas virão do Japão, se o título for em Japonês?

É relativamente científica, visto que nunca tenho visitas do país do sol nascente. E se correr mal, posso sempre dizer mal do tradutor automático... Que terá traduzido uma frase simples para qualquer coisa inominável.

Hélas!

Malandros!


Uma vez mandaram-me com todo o charme, às urtigas. Disseram-me claramente que me deixasse destas filosofias sob pena de passar a vida toda a buscar causas e mais causas até à origem da criação de vida... Se não me perdesse por tão ínvio caminho.

Ela tem carradas de razão, claro. Aliás, estou farta de passar o conselho a outros, a prova provada de que acho que é realmente um bom conselho!

É uma pena que não lhe tenha ligado nenhuma. Também é pena que, com a fomeca, ter comido o pão todo sem me lembrar que era conveniente deixar umas migalhas para saber como volto para casa.

Por consequência, agora estou aqui. Sem fazer a mais pálida idéia onde é o aqui, só me ocorre que é indecente não haver cobertura mental e não poder chamar o 112 por telepatia (chama-se o 112 para qualquer aflição, não é?).

No meio desta infelicidade e porque eu sou eu, desculpem lá mas tenho mesmo de me queixar: como não pode de forma alguma ser minha - eu nunca, nunca eu! - a culpa disto tudo é daqueles malandros (os gajos que não são eu).

Hélas!

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Sonho


Eu não sei o que faria, para ter o dom necessário para adorar pintar. Ou desenhar. Ou cantar. Ou tocar, este, ou aquele, ou outros mais instrumentos. Adorava ter aquela compulsão que nos leva a deixar de almoçar para poder comprar o material necessário para fazer uma coisa. Aquela coisa, não uma coisa qualquer.

Deixem-me clarificar: não é o aplauso público (de que toda a gente gosta, mesmo quando diz que não - mas que normalmente não é, de facto, a força motriz) que eu quero. Não sonho com a fama, pois na verdade prefiro a privacidade do anonimato; nem com a fortuna, embora uns cobres a mais não fizessem mal nenhum.

Não. Aquilo que me faz verde de inveja é a paixão por uma actividade. Não sou burra, praticamente poderia ser qualquer actividade que se aprenda; mas o que não me falta em inteligência ou persistência falta-me em paixão.

Uma chatice, realmente (e um peso indecente para aqueles que nos consolam no desespero). Dá uma trabalheira danada, reinventar todos os dias a razão de viver.

Hélas!

domingo, 28 de junho de 2009

Simples?!?


Não falo de situações extremas, no limite ou abaixo das necessidades básicas, doenças terminais, morte violenta, guerra... Não, não falo disso porque tenho a ventura de não as viver. Mas desconfio que aí é ainda mais simples: viver ou morrer.

Mas não, agora estou a falar da vida corriqueira de gente acima das necessidades básicas, gente vulgar da minha afortunada vulgaridade.

É tão fácil a infelicidade! Um trejeito de lábio, um resmungo. Uma frase infeliz. Um silêncio.

É tão fácil a felicidade! Um sorriso. Uma carícia, os nós dos dedos mal afloram a face. Um olhar.

A vida parece simples. Mas não é.

Hélas!

Que chata!


Perguntaram-me porque era eu tão chata.

Porque é que insistia para se levantar quando não há nada para fazer, porque é que insistia para se mexer quando estava tão cansada, porque é que queria que se vestisse e penteasse, quando nem sequer ia à rua. Qual o objectivo do enorme esforço?!? "És chata! Porque é que és tão chata?"

Eu não soube responder.

Estes cursos de soft skills são uma treta.

Hélas!

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Michael Jackson


Morreu inesperadamente, com meses de trabalho planeado para o futuro. Foi-se.

Não tenho a veleidade de pretender saber a verdade mas e como toda a gente, sou sensível a estes dois ditos:
  1. Onde há fumo há fogo;
  2. Caluniai, caluniai, que alguma coisa há-de ficar.
Posto isto e porque não tenho qualquer interesse no homem, deixem-me chorar publicamente o artista que tantas vezes me tirou do desânimo.

O meu mundo ficou hoje mais pobre de futuro.

Hélas!

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Um dia


Um dia acordarei em paz e não me ocorrerá perguntar o porquê dos homens não serem felizes.

Um dia a incoerência, minha e alheia, me passará desapercebida no alegre revolutear dos pássaros.

Um dia, a Injustiça e a Dor ficarão escondidas com vergonha da luz e a única coisa que se passeará ao sol será a vontade de crescer.

Um dia.

O que me chateia é que nesse dia provavelmente estarei mortinha da silva.

Hélas!

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Soft skills


Acabou hoje um ciclo de 4 dias de formação. Tema geral em epígrafe, temas particulares: recursos humanos (nome odioso), liderança, delegação, auto-conhecimento e auto-controlo, QE, comunicação.

Tudo coisas de senso comum, embora comummente não sejam dissecadas, analisadas, sintetizadas e organizadas; as pessoas não gostam da frieza de uma análise e síntese objectivas, especialmente quando aplicada a si próprias.
Mas em geral são coisas do conhecimento e aprovação de todos; muito poucos se atrevem hoje a ir contra isto e, se o fazem, normalmente é por uma de duas razões: ignorância do assunto ou incapacidades na área.

Gostei, claro. Quem me conhece sabe que adoro psicologia, sociologia, e outras ias relacionadas com pessoas.

Conheço relativamente bem quase todos os formandos e regra geral são pessoas a quem respeito pelo menos a inteligência; talvez por isso ficou consolidado hoje o desgosto. Na maioria das vezes, discutia-se o que não estava em questão ali e naquele momento (valores morais, educação, status, incompatibilidades pessoais... Assuntos para outro forum.) Nunca ou quase o assunto que está na mesa: técnicas de auto-controlo, técnicas de comunicação, técnicas de influência. Técnicas, senhores, técnicas. Para o que são usadas, isso é outro curso...

PS.: expliquei-me bem? Eu pertencia à tribo dos formandos, nesta formação. Mas já dei aulas de várias coisas, em diversas fases da vida; não sou estranha à tão bem controlada frustração da formadora.

Hélas!

terça-feira, 23 de junho de 2009

Oferenda


Um cacho de uvas. Meia dúzia de bagos redondos, num saquinho transparente de papel celofane.

Ora batatas, mas isto tem algum jeito?!? Ficar comovida por umas tolas bolas sumarentas - ninguém diz que são doces, se calhar são piores que limão, só com cachaça, gelo e muito açucar é que marcham - num papel pindérico de loja, por muito poeticamente descrito que tenha sido?

Caramba, tenho mesmo de ir à bruxa para me assegurarem que não, o meu desconcerto é apenas mau-olhado e por meia dúzias de patacas posso ver-me livre disto.

Se ao menos fossem melancias, haveria peso na razão. Mas tintol e apenas em potência??

Hélas!

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Atacadores


Fui ver na Wikipedia: cadarço é um cordão usado para prender os sapatos e ajustá-los ao pé (olha a novidade).

São compostos de um determinado número de fios longitudinais (urdume) e transversais (trama), além de possuir um acabamento chamado de ourela. Pode também servir para o ajuste do tamanho da cintura em peças de roupa como o calção, a bermuda, a sunga ou as calças de pijamas (aparte o nome estrambólico de urdume, também aqui não há nada de novo).

Cadarço também é a denominação técnica para artigos produzidos em teares planos, com inserção de trama por agulhas (ah?). Em português de Portugal, chamam-se atacadores (pois, eu não sabia... Quando vou à loja peço "aqueles atilhos para sapatos").

Fico na mesma. Porque diacho se chamam atacadores? O homem diz que é porque "atacam" o sapato, prendendo-o ao pé. Ou então, explica ele, porque se tiram do sapato e atacam-se com eles os pescoços dos outros (desde que estejam distraídos). Pois, pode ser.

Fascinam-me, estas palavras de parentalidade incógnita.

Hélas!

O porta-chaves é sempre útil?


A propósito de bolas de papel, a
Lenor disse um dia que acertamos sempre em qualquer coisa mas para acertar naquilo que se quer, e não é garantido!, tem que se levantar muitas vezes o rabo da cadeira.

Tem razão, carradas de razão. Mas o problema agrava-se, face à razão que ela tem:
  1. Ficamos com aquilo em se acertou (como na bancada da feira, em que se aponta para o urso de peluche e se ganha o porta-chaves do pinóquio) ou
  2. Levantamos o rabo da cadeira, uma, e outra, e outra vez ainda, cheios de porta-chaves que ainda dificultam mais a pontaria, para tentar mais uma vez o urso?
A minha proverbial teimosia aponta para a segunda hipótese, claro.

Mas... E se, depois de esforço insano, se ganha o urso e se verifica que não é nada do que sonhámos? Que andámos a perder tempo e vida, ambos insubstituíveis, desde o primeiro pinóquio?

Sim, devemos perseguir o sonho incerto ou regozijarmo-nos com a realidade certa?

Só coisas que me ralam.

Hélas!

sábado, 20 de junho de 2009

Sou uma princesa


Mais precisamente, sou a princezinha das preciosidades de perguntar o porquê das coisas.

Este epíteto inflou-me o ego e nem me interessa nada que a sua fonte seja uma irmã do coração. Não interessa nada pois é também uma pessoa inteligente (inteligentíssima aliás, para me ver assim só podia ser uma cabeça de respeito), nada mariquinhas (tenho as costas cheias de nódoas negras, tanto me zurziu nos últimos tempos e nem me deu uma pomada calmante, a bruta) e experiente (está reformada e toda contentinha com o tempo livre para as suas muitas outras ocupações, já me viram esta rapariga?...)

Que querem?!? Senti-me lisonjeada e não sou (alguém é, realmente?...) totalmente imune á lisonja.

Reparem:

  1. na importância: não sou uma, sou a;
  2. no carinho: não sou princesa, sou princezinha;
  3. no respeito: são preciosidades, não trivialidades;
  4. na proximidade: é perguntar, não explicar;
  5. na relevância: não são as coisas, são os seus porquês.
O meu vizinho do cimo das escadas nem tosse, tal é a inveja. Bem feita; da próxima vez que vier cá abaixo gozar comigo, obrigo-o a ajoelhar primeiro - afinal, não é todos os dias que se está em presença da monarquia.

Hélas!

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Desinfeliz


A propósito de uma coisa que agora não interessa nada, achei que fazia sentido re-editar aqui um artigo da defunta Folha de Couve.

É perfeitamente legítimo ainda que repetitivo, porque a dita Folha me deixou em testamento todos os seus bens (os que não eram dela foram a enterrar também, para lhe fazer companhia):

Porque é que "desinfeliz" se refere a uma pessoa que não é feliz?
Des-in-feliz. A negação de uma negação não devia ser a afirmação?

Só coisas que me ralam.


Vêem? As minhas ralações são antigas, veneráveis e reincidentes. Até já aqui fiz referência a este assunto.
Ora batatas, pareço gaga a repetir-me desta maneira.

Não voltarei a dizer o que já disse, antes de se passarem 10 anos.
(isto é um bocado estúpido...)
Não voltarei a dizer o que já disse, antes de se passarem 10 anos.
(principalmente quando se pensa na própria frase...)
Não voltarei a dizer o que já disse, antes de se passarem 10 anos.
(um contra-senso completo...)
Não voltarei a dizer o que já disse, antes de se passarem 10 anos.
(estás a repetir que não te vais repetir...)
Não voltarei a dizer o que já disse, antes de se passarem 10 anos.
(Vou lá para cima que isto aqui já deu o que tinha a dar)
Não voltarei a dizer o que já disse, antes de se passarem 10 anos.
(Arre!)

Hélas!

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Charlot electrocutado


Do alto das minhas muitas primaveras, costumo dizer que actualmente há muito pouca coisa que me choque. É verdade: há muitas coisas que continuam a entristecer-me mas ficar chocada é cada vez mais raro.

Hoje fiquei chocada: numa sala cheia de gente nova, semi-nova e já entrados na terceira fase como eu, veio uma jovem pedir voluntários para ir à praia. Como é óbvio, não se tratava de saber quem gosta de mar; tratava-se de haver uma necessidade numérica de pessoas adultas e responsáveis que levassem à praia quem não pode lá ir sozinho.

Não me chocou que ninguém quisesse, é natural. O que me chocou foi a rapariga ter sido - não muito discretamente - gozada. Brincadeiras(?...), ditos cómicos e risadinhas. É assim tão cómico, pedir ajuda para ajudar pessoas desfavorecidas pelas Sortes?

Suponho que devia sentir-me contente: nem sempre se consegue voltar a sentir estas emoções da juventude, não é?

Hélas!

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Adamastor


Passou-me subitamente uma coisa pelos olhos. Uma descoberta, um retrato da nossa natureza.

Vejam bem: uma pessoa gasta montes de energia - na forma eléctrica, claro, mas não só; há também gasto de outras coisas, água, sabão, esforço, tempo, etc - uma pegada ecológica enorme para pegar num bocado de carne e moer. A idéia é pegar naquela coisa una para ela passar a ser muitas, aos bocados, partidas, estilhaçadas, esmigalhadas. Moídas, enfim.

Mas depois - e foi aqui que o carro de trás me ia batendo, com grande alarido sonoro e gestos enraivecidos no espelho retrovisor - juntamos os pedaços obtidos, compactamos, desfazemos o melhor que conseguimos aquilo que acabámos de fazer e servimos com um sorriso as coisas mais estranhas: hamburger, bife raspado (!!), rolo de carne fingido (!!!!), etc.

Qualquer dia tenho um acidente de viação sério, isto é só coisas que me ralam.

Hélas!

terça-feira, 16 de junho de 2009

Amigos


Aqui há muitos, muitos anos, eu era cegueta como sempre fui - mas na altura não tinha carta de condução e portanto não usava óculos ou lentes de contacto. Era alegremente cegueta a pé pelos passeios, não corria o risco de atropelar alguém... Engano meu.

Um dia passei por alguém a quem não vi - e como não vi, não lhe falei. Ela tomou aquilo por desprezo. E o desprezo, sabe-se lá como, estendeu-se à família. Uns dias depois, no cinema, vi a filha. Falei-lhe mas ela não me respondeu, olhou em frente de olhar fixo. Eu não percebi - de vez em quando sou tão estúpida como um calhau redondo. Semi-estranhei mas o filme estava a começar, ela nem devia ter ouvido, era uma miúda bem porreira. Esqueci a coisa.

Dois dias depois, não dava para enganar: frente a frente, eu disse com um sorriso: "Olá!" E a filha, sem desviar os olhos mas desviando o passo, népias. Um sepulcro. Nem bom dia nem boa tarde, nem olha, pá, vai à merda.

Fiquei espantada. Valeu-nos uma amiga comum a quem contei o caso, confundida: ela era uma miúda porreira, eu sabia que era, porque raio teria feito tal cena surrealista??? A amiga explicou.

Eu fui falar com a mãe, explicar a minha falta de visão e assegurar que não tinha sido propositado. Pedi compreensão para a deficiência e eles deram-ma: no dia seguinte, toda a família me cumprimentou com sorrisos e eu sorri de volta... Foi bom.

Hoje, velhota a rememorar lembranças, deu-me para questionar. Não ela (que se ofendeu por um pretenso insulto mas esqueceu tudo quando percebeu que o insulto não tinha existido), nem a família dela (a quem ninguém tinha ofendido mas que cerraram fileiras solidárias - eu não concordo com esta actuação mas percebo perfeitamente), mas a amiga comum. A que me esclareceu e permitiu resolver a coisa.

Ora batatas, então não me podia ter chamado de lado e dado uma desanda?!? Perguntado porque raio eu andava eu a ofender assim os amigos?

Não percebo nada de gente, está visto. É que também ela era uma miúda porreira, essa amiga. Estou certa que não me chamou de lado porque não me quis chatear e não percebo isso - sendo minha amiga, não me devia inquirir quando me via a fazer asneira?!? Os indiferentes são às montanhas, ninguém precisa de mais.

Isto chateia-me para caraças - sou cegueta de outros olhos e nem sequer sei onde é o oculista.


Hélas!

domingo, 14 de junho de 2009

Portadores de diferença visual


Vulgarmente chamados "cegos" - eu sou uma pessoa muito, muito vulgar. Além disso, detesto eufemismos, principalmente estes que querem fazer de conta que um cego não é cego e um coxo não é coxo. Como se chamar goiaba a uma cebola lhe retirasse as propriedades irritantes para os olhos e anulasse a sua contribuição ao refogado. Parvajolas.

Bem, voltemos aos cegos:

Um foi atropelado por uma vaca. Ficou com uma costela partida; nem o cão-guia lhe valeu, isto de passear tranquilamente no campo é perigoso.

Outro foi preso por infracções de trânsito; foram-no buscar a casa porque o tipo nunca guiou na vida (ficou cego em criança). Viver na cidade, com tanta informática também é perigoso. Ou pelo menos incomodativo.

Foi em terras de sua Magestade, sabe-se lá que mais aconteceu noutras terras menos tolerantes com os media...

E eu, que sempre julguei os Monty Python uma série sarcasticamente exagerada, verifico que mais uma vez, a realidade supera a ficção.

Hélas!

sábado, 13 de junho de 2009

Humanidade III


Estive a ver um documentário sobre elefantes.

Como são apanhados. Como, depois de apanhados, são submetidos ao ensino da obediência, antes de os ensinarem a trabalhar... Nada de especialmente violento ou maldoso, apenas barulho e estímulos tácteis permanentes durante cerca de uma semana, o necessário e suficiente para lhes quebrar a vontade.

É sempre triste a perda de liberdade, triste a sujeição a quem é mais forte. Muito mais triste ainda é essa sujeição ser interior e não apenas coisas físicas que nos limitam, correntes ou grades.

Às tantas, a voz off informa-nos que durante tal ensino, alguns simplesmente morrem, outros enlouquecem. Os que resistem estão aptos a aprender a trabalhar.

Os elefantes são parecidos connosco, acho eu. Aliás e relembrando uma outra reportagem sobre ursos (também morrem, enlouquecem ou sujeitam-se durante o treino) chego à conclusão que temos realmente muitas parecenças com os nossos primos mamíferos, mesmo sem ter pelo ou cauda.

A maior diferença de todas é mesmo a capacidade de escravizar outrém. E por muito de me doa, é graças a ela que estamos onde estamos; além de matar e escravizar, curamos o cancro e temos centros de acolhimento de animais moribundos.

Ora batatas.

Hélas!

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Palavras leva-as o vento


Passas pela vida como um rafeiro sem dono
Desconhecido e ignorado pelos teus pares
Matas a esperança nas noites sem sono
O mesmo náufrago em não sei quantos mares.

Doi-te a alma em que não acreditas
Tens sede de água com sabor e cheiro
Afogas-te nas mesmas pragas malditas
Com que se apaga o sol no aguaceiro.

Agonias e vomitas na solidão
Sem nunca sequer estares sózinho
Choras, ganes que nem um cão
A quem a trela ficou no caminho.

Perdeu-se a bússula e o Norte
Ficou a vaga idéia de um destino
Andas aos tombos e à Sorte
Perseguindo a sombra de um Ninho


Hélas!

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Contentamentos


Acordei hoje normalmente com o despertador, às 6:50.

Olhei com os olhos remelosos o display do relógio da mesa de cabeceira e de repente lembrei-me - hoje é feriado! Virei-me para o outro lado e voltei a dormir.

Há contentamentos tão simples... Gostava de ser assim simples no resto do dia.

Hélas!

segunda-feira, 8 de junho de 2009

A tranquilidade do rio sonolento


Quantas vezes a mente fraqueja, subjugada por qualquer coisa que, uns anos depois, até é risível?

No passado, os anos encolhem. Os acontecimentos condensam-se em factos e somos perfeitamente capazes de perceber o fenómeno causa-efeito... Mas continuamos tão cegos relativamente á causa da causa como sempre.
Infelizmente, não percebemos isto e pensamos que está tudo percebido, não vemos que a causa tem, ela própria, uma causa que não vemos. E fraquejamos quando a causa aparece novamente, não reconhecemos a repetição.

Pelo contrário, no futuro, os anos alongam-se. Parece-nos que há tempo para tudo, inclusivamente para corrigir os nossos erros. Puro engano, o tempo passa imperturbável ao seu próprio ritmo e quando reparamos a oportunidade passou, como a Primavera. Virão outras, claro, mas diferentes. Nunca, mesmo nunca, se terá a mesma oportunidade.
Infelizmente, temos uma obscura e deturpada consciência deste destino e não percebemos inteiramente que amanhã é realmente outro dia, nunca mais teremos o mesmo dia e a mesma situação.

Dito isto, meus caros, só me resta dizer-vos outra coisa: gostaria de perceber a causa da causa, pois acho que me traria tranquilidade. Gostaria de, tal como sou racionalmente capaz de perceber o fenómeno, ser também capaz de o digerir, apreender, interiorizar e viver em conformidade.

Mas não sou.

Hélas!

Plágio


Amor é fogo que arde sem se ver;
(...)

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?


O que está nas reticências é treta para rimar; o que não está infelizmente não fui eu que escrevi mas saiu-me da boca.

Rais parta a natureza humana.

Hélas!

quinta-feira, 4 de junho de 2009

O centenário


Estava a ouvir o centenário, de quem não gosto há anos e anos, aquele que tem montanhas de etiquetas catalogando-o na minha despensa como um fazedor de Xanax, um parvalhão arrogante e com a mania que é mais inteligente, potente, culto, ágil, cosmopolita, viajado, arguto, etc., etc., etc. e de repente o velhadas estraga tudo e diz uma coisa que não só é sensata como verdadeira e não peca por presunção. Mais ou menos isto:

- Já não tenho amigos, nem mais novos nem mais velhos, foram-se. Isso deixa uma grande melancolia... Gostaria de ser lembrado com essa melancolia.

Ora batatas, lá terei de colar um post-it sorridente naquela caixa forrada a caras feias. Já não bastava o resto, agora o estupor do homem ainda por cima me desarruma a estética.

Hélas!

quarta-feira, 3 de junho de 2009

A teoria do caos e a magia


Gosto imenso da Teoria do Caos. Adoro a história da borboleta que bate as asas na China, provocando um furacão na Europa.

Dá uma tranquilizante sensação de causa-efeito, como se o mundo fizesse sentido mesmo que sejamos tão limitados que não o podemos apreender. Eu até utilizo a palavra acaso, que quer apenas dizer "Não percebo como batatas é que tal coisa aconteceu". Fica subentendido que se eu não fosse tão lerdinha até poderia perceber - é reconfortante...

Deve ser por isso que não sou supersticiosa: a superstição, como a magia, querem apenas escapar ao inevitável.

Hélas!

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Dissonâncias


Quanto eu me sentir feliz, haverá algo ou alguma coisa que virá lembrar-me do que não me corre bem. Se por um inapropriado e extemporâneo alinhamento dos astros tudo, mesmo tudo, me estiver a correr bem pessoalmente na altura, algo me vai lembrar das criancinhas do Biafra ou qualquer coisa mais contemporânea mas igualmente horrorosa.

Se ao menos eu tivesse vocação para mártir! Mas não, prezo demasiado o meu conforto e bem-estar. Essa fuga está-me vedada.

Se eu fosse um génio, uma gaja capaz de inventar um milagre como o micro-crédito... Mas não, sou demasiado cumpridora das regras existentes para desafiar assim todo um sistema, não consigo sair o suficiente para fora da caixa.

Se eu fosse revolucionária, matava a ferro e fogo o que estivesse mal, ficávamos só com as coisas boas, seria tão bom! Mas não, o meu espírito está completamente infectado do vírus mais-vale-consertar-que-destruir, indissociável do já-viste-bem-pelo-outro-lado?, nem tem cura já, isto é uma chatice.

E se eu fosse supersticiosa? Isso era bestial, ia ali à bruxa da esquina, a mulher só prediz futuros radiosos (acho que os búzios dela estão viciados mas ela diz que não), era porreta. Mas eu acho que um gato preto é um gato que mia como os outros, uma escada é uma coisa prática que serve para subir e descer e um espelho é um rio sólido e sem azar quando chove; não me parece que consiga.

E se eu fosse simplesmente má? Borrifava-me para tudo e todos, só queria saber do que me trouxesse satisfação pessoal... Acho que era o mais prático mas depois o vizinho do cimo das escadas não me deixava dormir. E eu não me aguento sem dormir.

Não há remédio, parece. Ora batatas, acho que só me resta processar os meus pais, por perdas e danos causados por uma genética deficiente.

Hélas!

sábado, 30 de maio de 2009

A vida é bela


Está um dia de sol fantástico e eu estou feliz.

Não quero saber como estarei amanhã nem quero saber como estarei para a semana. Neste preciso momento, a vida é bela.

Hélas!

quinta-feira, 28 de maio de 2009

A Joaquina


- Joaquina? É um nome giro...
- Pois, menina, mas que quer? A minha mãe e o meu pai queriam tanto um rapaz! Quando lhes saiu uma fêmea na rifa, deram a volta ao desgosto assim.

Ela não viu mas vieram-me as lágrimas aos olhos. Não tanto por ver mais uma vez cuspir na sorte que se tem, foi mais por presenciar uma humildade tão genuina.

Ora batatas, ando mesmo uma mariquinhas.

Hélas!

quarta-feira, 27 de maio de 2009

A bicicleta


Eu sempre disse que a Humanidade anda dois passos para a frente e um para trás e que isso, na contabilidade geral da coisa, é positivo. Costumo até referir que detestaria viver no séc. XIX, mulher ainda por cima, mas ainda detestaria mais viver no sec. XVIII; e é absolutamente verdade.

Como este ano é aziago, no meu cômputo geral sempre que avancei um passo dei comigo dois atrás.

O meu vizinho de cima, que regressou embora debilitado, febril e desejoso de viajar novamente, diz-me que eu sou parva e devia era andar de bicicleta porque quando os pedais andam para trás a dita cuja não lhes liga pevide. Não sei se com a gripe o tipo não diz coisa com coisa ou se, pelo contrário, diz coisas com muita coisa.

Só coisas que me ralam.

Hélas!