quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Incompreensão e tradutores (brokers, em inglesismo)


Questionaram-me e eu, completamente offside, a princípio nem percebia a questão.

Se eu gosto do Sonny, d' "O Padrinho"? Ora batatas, é uma personagem, não é uma pessoa; pode-se gostar de um personagem??? Simpatiza-se com este ou aquele traço, abomina-se outro, questiona-se a coerência de mais uns quantos, mas gostar? Gosta-se de pessoas, cães, gatos, peixes e outras existências reais, não se gosta da mulher do quadro (embora se possa gostar do quadro), parece-me. Como diacho se gosta de algo que não existe, que apenas personaliza uma realidade?!? Pode-se gostar da realidade, mas gostar do símbolo que a representa? Continuo a achar que a pergunta não faz sentido.

Bom, depois de perceber o que queriam que eu respondesse, nem tentei a resposta real. Apenas reafirmei que Sonny, como já tinha dito antes, nalguns aspectos personifica a felicidade de quem dá o seu melhor - que não chega - e morre antes de se aperceber que, faça o que fizer, não faz o que é necessário. De certa maneira morre feliz, com o sentimento de que fez o que se podia fazer e sem a mínima idéia de que o que ele pode fazer não encaixa com o que é necessário fazer - por estas e outras é que eu adoro "O Padrinho", as suas entrelinhas são do melhor.

Eu cá sempre disse: "Felizes os pobres de espírito que nem se apercebem de quão longe estão de responder à necessidade". Agora acrescento: "Pobres daqueles que, dando o seu melhor, se apercebem que não chega e que só alguém com outras mestrias poderá realmente prover à necessidade existente". Isto, claro, na suposição de que o que importa é prover a uma necessidade existente. Nesta suposição, a maioria das pessoas corta-se e não arrisca. Para elas, é mais importante não falhar (por isso, se for demasiado arriscado não tentam, doa a quem doer), que prover à dita necessidade.

Ou seja, na realidade importam-se mais com o seu sucesso que com a necessidade existente.

Já estava embarcada na filosofia doméstica... Voltando atrás, caraças, até para comentários descuidados são precisos brokers (esta palavra é extraordinariamente bem escolhida, já repararam? Broker é aquele que rompe, neste caso a barreira do entendimento. Extraordinário.)

Hélas!

2 comentários:

Blimunda disse...

Para elas, é mais importante não falhar (por isso, se for demasiado arriscado não tentam, doa a quem doer), que prover à dita necessidade.

Não é covardia o nome desta postura?

mac disse...

Acho que não, Blimunda. Toda a gente e a toda a hora, nós incluídas, faz um balanço custo/benefício.

A questão é que tanto um como o outro são altamente subjectivos: O que vale a necessidade Vs o que custa o sacrifício... Para nós, obviamente.

O que me parece é que a imagem pública (que acho até que é distorcida pela própria cabeça, onde o suposto "Fracasso", além de pobremente avaliado tem um peso desmedido) pesa bastante mais que a eliminação da necessidade.

Ou seja: se se achar que vale a pena batemo-nos como leões sem traço de medo - mas não achamos que valha a pena.

Acho que não é cobardia, é mais egoísmo.

Penso eu de que.