domingo, 28 de novembro de 2010

Deserto


Estou seca, como já vai sendo costume ao Domingo.

Sem soluções, sem ideias, sem pensamentos, sem sonhos, sem planos, sem remorsos, sem futuro, sem passado... Sequinha como a lenha para a lareira.
Ao menos que arda bem, que aqueça alguém com frio.

???
Olha, afinal havia um pensamento perdido algures, que fixe.

Hélas!

sábado, 27 de novembro de 2010

Objectivo


Amo e sou amada.
Já escrevi um livro (quer dizer, tinham capa e folhas e houve gente que leu, portanto acho que contam), já plantei uma árvore (de fruto!) e já tive um filho (um calaceiro de coração de manteiga, intelecto honesto e espírito livre, a quem não hesito em entregar o futuro).

Já sonhei sonhos loucos e prosaicos. Também já ri e chorei, tanto com coisas próprias como com alheias. Já ajudei e já fui ajudada.

Mas acho, sempre achei, que o objectivo da vida humana é deixar o mundo um bocadinho (piquinininho...) melhor, pelo facto de termos passado por cá. Isso ainda não consegui.

Ora batatas, estou tão cansada e ainda tenho de esfolar tanto...

Hélas!

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Choque


Morreu. Ou, mais precisamente, matou-se.

Eu não o conhecia bem, estive com ele em meia dúzia de reuniões. Circunspecto, algo fechado, mas a quem não era alheio um certo humor inglês muito ao meu gosto. Jovem (na minha idade quem tem menos de quarenta é jovem), com 2 catraios em idade escolar.

Quanta dor é necessária para uma pessoa não se lembrar do efeito dos seus actos nos seus filhos?
Quanto desespero é necessário para levar um adulto a não aguentar nem mais um minuto?
Quanta solidão é suficiente para que ninguém lhe trave o passo?

Uma colega dizia-me que "é assustador, hoje tudo nos leva a querer ser super-homens mas isso não existe fora da BD" e tinha razão, claro. Como tinha razão quem me disse que "para uma pessoa forte pode ser simplesmente impensável admitir uma derrota pessoal (e qualquer fragilidade é uma derrota pessoal para uma pessoa forte; significa simplesmente que não conseguiu)".

Foi um choque, confesso. Como disse antes, não o conhecia bem mas a imagem era de uma pessoa equilibrada, controlada. De certa maneira a imagem era verdadeira mas este tipo de controlo é discutível, não é?

E deixa-me a pensar, o facto do choque ser generalizado: nunca sabemos o que realmente se passa dentro da cabeça das pessoas. Num minuto trocam graçolas connosco, no seguinte deitam-se ao Metro.

Concordo com a minha colega: é assustador. E triste, também.

Hélas!

domingo, 21 de novembro de 2010

Velhice


Eu sempre disse que é tudo uma questão de prioridade.

O que não torna mais simples o problema, antes pelo contrário; as prioridades são voláteis e têm a ver com a maneira como - a todo o instante - avaliamos a realidade que nos rodeia e o valor que lhe damos. Se qualquer coisa absolutamente essencial para nós pode esperar 5 minutos, passa-lhe à frente naquela hora exacta uma outra coisa com muito menos importância mas que não pode esperar minuto nenhum.

Eu costumava reagir a isto instantaneamente. Computava tudo em milésimos de segundo e agia sem dúvidas. Suponho que fui muitas vezes de uma enorme injustiça e de uma enorme arrogância, tão convicta estava de que fazia o que era de facto correcto...

Agora já não consigo fazer isso. Estou permanentemente a pensar que se calhar não estou a ver bem a coisa, se calhar há um aspecto fundamental de que não me estou a dar conta... Se calhar, se agir assim estou a estragar tudo no assado. Se calhar, ao pensar nisto é o meu egoísmo que fala, se calhar ao fazer aquilo estou a desperdiçar um tempo inadiável, se calhar não vi o pôr-do-sol porque estava a lavar o chão da cozinha e amanhã o pôr-do-sol será diferente e o chão da cozinha vai estar sujo novamente.

Não sou mais feliz por já não ser capaz. Duvido que alguém seja mais feliz por eu já não ser capaz.

Não há dúvida que a velhice não traz sabedoria. O que a velhice traz, meus amigos, é a consciência que de que falhámos no que nunca julgámos falhar.
E isto é uma grande chatice.

Hélas!

sábado, 13 de novembro de 2010

Estupidez


Que diabo, não sou estúpida!

Li isto e aquilo, este e o outro. Ouvi este e aquele, contaram-me da outra. Meditei friamente sobre mim própria. Falei com este, escrevi àquela.
Pensei, pensei e pensei.

Não tenho soluções e se alguma coisa nasceu de tanto esforço foi constatar que há problemas que não posso resolver, ou pelo menos que não posso resolver sozinha, como gostaria.

Em consequência, constatei na prática o que já sabia em teoria: resolver problemas em companhia é muito complicado. Porque a companhia não é como eu.
Não tem os mesmos valores que eu - tem outros que eu não tenho.
Não tem as mesmas prioridades que eu - tem outras que eu não tenho.
Não tem o mesmo ponto de vista que eu - tem outros, que não são o meu.
Não vê as alternativas como eu - vê outras, que eu não vejo.

Não esqueçamos que, para a companhia, sou eu que não vê as coisas como elas são. Some-se o facto de que a companhia é superior em número e as mais das vezes não se apercebe que as discrepâncias são individuais, de elemento para elemento da companhia - não são pontos de vista comuns em discrepância com o meu ponto de vista, são pontos de vista individuais, em discrepância entre eles e que têm em comum a discrepância com o meu ponto de vista.

No fim, o problema que todos querem resolver depende da maneira como todos estes desencontros são geridos. E toda a companhia o gere de forma individual e diferente.
Uma salganhada que me custa a gerir, confesso.

Que diabo, parece que sou mesmo estúpida, afinal.

Hélas!

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Sarna


É extraordinário como a vida encurta o tempo.


À medida que a vida passa, o tempo livre desaparece - não é por nada mas suspeito que faz parte da natureza humana arranjar sarna para se coçar.

Isto é só coisas que me ralam.

Hélas!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Arco-íris


Dizem que o azul é frio
E que o vermelho aquece
Ao meu gosto vadio
Os dois lhe apetece.

Render-me ao passado
Mas viver o presente
Apreciar o traçado
Reconhecer a nascente.

Hélas!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Outono


Estava sol.
Depois choveu.
Depois fez sol outra vez.
Depois choveu.
Agora está sol.
Este dia é o retrato da vida.

Mas é no Outono que se comem castanhas, quentes e boas, quentes e boas!

Hélas!

domingo, 7 de novembro de 2010

Dores


Oiço uma auxiliar a falar mansamente com uma velhota: "D. X, não seja assim porque depois a sua filha ralha connosco porque gasta muitas fraldas, vá lá, tenha paciência... Já lá vamos daqui a bocadinho, é só um bocadinho. Assim a sua filha já não ralha connosco... É só mais um bocadinho, D. X, está bem?"

A ternura na voz sente-se.
Doi-me a impotente auxiliar com ternura e sem senso, o local, a filha que tem de contar as fraldas, a D. X que não devia fazer tanto xixi e se sente triste por pesar à filha que conta as fraldas.
Rais parta a vida, estou como o leão moribundo: antes a morte que tal sorte.

Mas não podemos escolher, estamos sempre impotentes face à vida. E a vida é sempre tão cruelmente indiferente.

Hélas!

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

TPC


Analisar a influência da goiaba na contingência da vida.

Hélas!