domingo, 29 de março de 2009

O ano aziago de 2009


Já leram as crónicas do Luís Filipe Borges, na TABU? Chama-se PORTUGAL REVISTO E AUMENTADO e o magano diz coisas muito interessantes. Vão ao barbeiro/cabeleireiro na semana que vem e podem ler à borla, vale a pena se o barbeiro/cabeleireiro for minimamente decente.

Este Sábado, depois de algumas fotografias fascinantes, dizia ele: "(...) conversa entremeada de mortes e separações, doenças e convulsões, a triste sina de 2009. Está aí a Primavera e já morreram demasiadas andorinhas, diz alguém".

Ora batatas, pensei eu, tenho de começar a patentear o que me anda na tola para ver se fico rica, porque a 14 de Janeiro já eu proclamava a triste sina de 2009, ano aziago!

Ou isso ou monto uma funerária de andorinhas.

Hélas!

segunda-feira, 23 de março de 2009

Uma questão de temperatura


Bom, toda a gente sabe que há dias para esquecer.

Dias que correm mal, de manhã à noite. Aqueles dias em que suspiramos por ir dormir, para ver se a sorte aziaga se perde de nós no escuro.

Nesses dias, temos o pavio muito curto, não é? Explode-se sem razão para isso - diacho, razões até há muitas, não têm é nada a ver com o que se passa no momento ou com quem tem o azar de estar à nossa frente a bocejar...

Tão alerta que estou para este fenómeno, já tenho um reflexo quase condicionado: quando a minha própria temperatura começa realmente a subir, caem as persianas da alma. Fico assim tipo boi de olhos mornos e ouço tudo com uma impessoalidade total, incluindo insinuações maldosas, falsos factos, acusações injustas ou mesmo insultos. Raramente fico alterada - quanto mais grave o conflito, mais grossas as persianas descidas.

Parece até bom, não parece? O problema é que normalmente também tomo decisões. São usualmente definitivas e impermeáveis a qualquer raciocínio posterior, por muito razoável e sensato que possa parecer. 99,999% das vezes a decisão é definitivamente definitiva (só me lembro uma vez na vida de ter voltado atrás numa decisão deste tipo e foi por causa de uma paciência absolutamente de santo, uma persistência pior que uma pastilha elástica no cabelo, tudo aliado a uma delicadeza quase oriental).

A temperatura, embora pareça baixa, na realidade está alta. Queima-se o pavio e é a cera que está a ser consumida, em chama alta ainda que invisível - é assim.
Em outros vejo reacção diferente, esbravejam, discutem e cospem, são tão emocionais, subjectivos, pouco racionais! As tais minhas decisões inamovíveis podem não ser as melhores mas são racionais e objectivas.
E depois, quem cospe, esbraveja e se ofende, 3 dias depois parece ter esquecido tudo - o ultraje escafedeu-se no éter, desapareceu e não deixou descendência. Já comigo, o conflito que fez descer as persianas jamais é esquecido, mesmo que não tenha sido pessoal. Não sou rancorosa, não sou mesmo, e também não faço minhas as dores alheias. Mas não me esquece, ainda que não tenha sido comigo, o que me fez subir a temperatura.

A que propósito vem isto? Bem, é que me deu para a introspecção e surgiu a pergunta: será realmente melhor isto que desatar a insultar o pirralho que me tocou num ombro, na fila do autocarro?

Deixo-vos a questão. Não sei o que parece mas garanto que não é nada simples.

Hélas!

domingo, 22 de março de 2009

Cogitações


Andei aqui a cogitar (é um perigo, acreditem!).

Pensei nas mil acções que temos diariamente, algumas inconscientes e mecanizadas, outras pensadas no foro racional e lógico, outras de natureza puramente emocional...

São tão raras, as acções concertadas, não acham?

Há quanto tempo não pondero uma determinada acção levando em conta todas as suas componentes? Tendo em conta, analisado, pesado e medido, as suas consequências estritamente racionais, estritamente sociais, estritamente familiares, estritamente emocionais, e - o pesadelo - todas as interacções destas coisas todas?

Ora batatas. Quando eu era uma jove inconciente dizia que uma pessoa realmente feliz tinha de ser um bocado estúpida (para não se aperceber da infelicidade existente no resto do mundo, que certamente toldaria a sua própria). Hoje, bem mais velha, refino: para uma pessoa ser tranquilamente segura de si própria tem de ser completamente tapada no que diz respeito às suas próprias insuficiências.

Batatas, batatas, batatas. Até tenho medo do que eu própria direi, daqui a uns anos.

Hélas!

terça-feira, 17 de março de 2009

A cama


O colchão tem um poder fantástico - e aviso já que quem leu o título com um olhar concupiscente pode ir tomar a bica que hoje o assunto não é esse.

Dizia eu que a cama tem poderes. Descansa e relaxa. Proporciona o esquecimento que tantas vezes buscamos, um alívio da vida, um intervalo no raciocínio. Repõe forças perdidas, sonhos perdidos e esperanças perdidas - é assim uma espécie de são-bernardo da vida, com reconstituintes poderosos ao pescoço.

A almofada, por sua vez, passa a noite a encontrar soluções simples de problemas complexos; enquanto o corpo repousa e retoma energia, a almofada vai cogitando na melhor maneira, a mais eficaz, a mais eficiente, de resolver o problema perene de estar vivo. E aconselha-nos com bons conselhos, embora a malta não oiça porque está a dormir.

Por isso, o verdadeiro sono é aquele que se tem na cama, aconchegado no lençol, a cabeça apoiada na diligente almofada e o corpo no carinhoso colchão.

Há anos que sei disto, devo ser muito inteligente. Ou muito estúpida, porque sabendo disto há anos, teimo em não dormir o suficiente.

Hélas!

domingo, 15 de março de 2009

Stress urbano


O bebé dormia pacificamente, no banco de trás. A sua respiração calma não fazia ruído.

O homem ia embrenhado em pensamentos e preocupações. Tinha tanta coisa para fazer! Se aquilo não corresse bem de manhã, era certo e sabido que seria chamado a prestar explicações que na verdade ninguém queria ouvir. Eles queriam resultados, não queriam compreender a falta deles.

E não se podia esquecer de tratar também do outro assunto, no fim da semana era a deadline, isto de andar sempre a trabalhar no fio da navalha criava uma ansiedade permanente... Será que a rapariga tinha tratado dos documentos todos que ele lhe tinha pedido? Tinha de confirmar, seria muito mau se faltasse qualquer coisa.

Ah! E tinha de telefonar àquele tipo, nunca mais entrega as coisas, isso vai dar chatice de certeza, vai ficar tudo atrasado e depois ainda têm de se apressar mais!

Chegou ao escritório e apressou-se; havia tanto para fazer!

O bebé morreu. Como se sobrevive a isto?!?

Hélas!

sábado, 7 de março de 2009

Os bons velhos tempos


Toda a gente gosta d"os bons velhos tempos". Sonha-se com eles, tem-se saudades... Quem se lembra já de que na altura não os achou assim tão bons?!

Ora batatas! Virão no futuro óptimos tempos, embora estejam destinados a serem, também eles, velhos. Mas neste momento não são, são não-nascidos ou seja, ainda mais novos que os novos - mas serão bons na mesma, tenho a certeza.

Abramos os olhos para "os bons actuais e futuros tempos", para os gozarmos, ao invés de apenas nos lembrarmos deles com saudade, quando já forem velhos e fora de prazo.

Para já, aproveitem este glorioso dia de sol.

Hélas!

terça-feira, 3 de março de 2009

Flores


== Dados os comprovados erros de ortografia, acorro prestes à devida correcção. Ora batatas! ==

Tenho a casa cheia de flores e cheiram bem.

Não faço a mais pequena ideia se o agradável cheiro é mais do que uma agonia floral mas isso não me preocupa - o que me preocupa é o facto de isso não me preocupar.

É real e normal, sermos completamente insensíveis a coisas distantes. Uma flor é distante, não é? Ou não é e eu é que me distancio do que não me interessa nesta altura?

Ora batatas, devia haver um interruptor para este tipo de elucubrações. Caramba, agora preocupo-me por não me preocupar?!? Isto já é vício!

Hélas!