quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Paredes


== Actualização gráfica para sublinhar o meu ponto de vista, nas conversas extemporâneas com Funes, Blimunda e Mofina; também é falta de inspiração mas isso agora não interessa nada ==

Tenho uma parede luxuriante (não é bem uma parede, é mais um bocado dela mas enfim, isso já são pormenores), rica de flores e borboletas, tudo natural ou construído, super-populada, apertam-se as cores e as formas e contidamente agridem o circundante espaço nu.

A outra parede em frente tem 3 formigas. Solitárias buscam o carreiro ou a felicidade ou lá o que as formigas buscam; estão sozinhas, negras num deserto inóspito de brancura.


Gosto destas paredes.

Hélas!

sábado, 25 de setembro de 2010

Momento


A TV está desligada.

No canto, o homem canta baladas quase em surdina, acompanhando-se a si próprio à guitarra. Do outro lado da sala estou eu, a vadiar na rede.

Quando ele pára à procura de uma nota fugidia, eu refilo imediatamente, agreste: Atão? Ele olha para mim espantado, não tinha dado conta que eu estava dependurada nas cordas da guitarra como roupa a secar, presa pelas molas da sua voz. Sorri: Já vai, pá! e os sons voltam. Fluentes uns, hesitantes outros... Já não refilo.

Algumas das letras são surrealistas, o fado no seu melhor a tentar fazer chorar as pedrinhas da calçada, outras são corações despedaçados da mesma forma mas expresso com mais arte; alguns são lamentos desesperados, outros pura alegria.
Todos eles me tocam algures.

Lá fora não se ouve cão, gato ou grilo; tão-pouco rádio, TV ou vozes.
Dir-se-ia que o Chinicato se uniu a ele para me proporcionar mais uma noite que chamarei a mim quanto necessitar de paz.

Há malta com sorte, não há?!?

Hélas!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Ummmmmhhh...


Não adianta teimar. Hoje em dia e na minha realidade actual, só mesmo mojitos. Quem sabe, uma caipirinha; dá muito trabalho mas veremos.

Este mundo está à beira do abismo mas eu estou lá, na linha da frente!

Hélas!

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Cantai a vida que a morte é muda


Cantai a alegria do Sol e a ternura da Lua e, quando nem o Sol nem a Lua se mostram, cantai as nuvens pesadas que nos fazem companhia.

Cantai as folhas do Outono e as flores da Primavera, cantai o riso da alegria e as lágrimas do desgosto; cantai o andar pesado do vagabundo e o gesto solto da bailarina, cantai o picar da vespa e o voo da andorinha.

Cantai a água fresca da nascente no Verão, cantai o fumo da lareira do Inverno, cantai a bebedeira da borboleta e a disciplina da formiga; cantai a inocência do animal que corre e os montes que ao longe se quedam, cantai o ontem que morreu e o amanhã que nascerá.

Cantai o peixe que nada e o pássaro que voa, cantai o vento que sopra e a chuva que molha, cantai o dia que nasce e a noite que cai. Cantai o mundo todo por inteiro, cantai aquilo que é e aquilo que não é; cantai o sonho e o pesadelo que podiam ter sido e não foram ou que podiam não ter sido e foram.

Cantai os que se aproximam e os que se afastam, cantai quem compreendem e quem não percebem, cantai quem ajuda em horas de necessidade e quem foge ao sacrifício, cantai os que vêem e os que são cegos, cantai tudo o que à vossa porta passe. Ou que não passe.

Cantai, que eu não tenho voz.
Mas tenho ouvidos.

Hélas!

domingo, 19 de setembro de 2010

Um conto em Setembro


Jazia deitado na cama, enrolado sobre si próprio.

Mergulhado em sofrimento amorfo, sem esperança, imerso num cansaço entranhado nos ossos, um desânimo cuja profundeza não tinha medida. Não estava desesperado, o desespero leva à acção; estava... desesperançoso, um estado em que tanto a esperança como a falta dela não têm lugar.

Tinha os olhos secos - o choro é uma reacção à tristeza mas a tristeza requer razão e ele estava para além disso. O cérebro tinha-se ausentado num desligamento automático provocado por mecanismos de segurança interna - se pudesse pensar, teria já feito asneira - a natureza é sábia.

Ouviu ranger a porta mas tudo o que não exigisse uma acção imediata e inadiável era trivial e podia ser ignorado. Ignorou o ruído.

Assim esteve, muito e muito tempo. Quando a sede se tornou inadiável, levantou-se lentamente e foi à cozinha.

A porta estava entreaberta e em cima da mesa estava uma pétala. Pegou-lhe: estava murcha mas cheirava bem. Inexplicavelmente sentiu-se melhor, capaz de aceitar que nunca poderia providenciar por inteiro.

Desde que não tivesse medo nem egoísmo, que não colocasse em outros o próprio peso ou culpa, que não renegasse passado ou futuro, que não fugisse à própria incapacidade, a necessidade que não podia satisfazer seria como aquela pétala: murcha mas com aroma a paz.

Nunca mais fecharia a porta da cozinha - abençoado visitante, o que assim lhe devolvia a vida.

Hélas!

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Ah! Pois é...


Eu queria ser feliz. Portanto, queria que aqueles de quem gosto fossem felizes (provavelmente só seriam felizes se as pessoas de quem gostam fossem também felizes, uma reacção em cadeia que só por si inviabiliza qualquer concretização).

Querer ser feliz não é inteligente, há que querer a paz no mundo, o fim das guerras, ganhar sozinho o jackpot do Euromilhões, ser pago para sonhar, ter uma varinha de condão, coisas assim, concretas - só por coisas concretas nos podemos lançar em perseguição, estudar, construir estratégias, sei lá, gastar anos.

Não me apetece gastar anos numa coisa que depois de obtida se revela uma decepção - para decepções dessas bastam-me os anos investidos em pessoas que julguei incorrectamente. Demorei cinquenta anos a perceber isto mas mais vale tarde do que nunca, diz o povo supostamente ignaro.

Já não quero ser feliz, agora quero não ser infeliz. Mas parece que é igualmente difícil, que isto da ingrícola é tramado: ou chove de mais ou de menos, ou faz calor ou frio, ou está sol ou sombra... Mas sempre no momento errado, ou no local errado, ou nas circunstâncias erradas.

Hélas!

sábado, 11 de setembro de 2010

Cansaço


Não sei.
Não sei nada,
Por amor de Deus
Não mo perguntem!
Porque saberia eu
Se vocês não sabem?

Não posso.
Não posso nada,
Por amor de Deus
Não mo peçam!
Porque poderia eu
Se vocês não podem?

Estou cansada.
De tanto e tantos.
Por amor de Deus
Acordem.

Hélas!

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Slow dance


Não é meu, obviamente. E embora eu não saiba o nome da autora, aqui fica a minha homenagem:

SLOW DANCE

Have you ever watched kids
On a merry-go-round?
Or listened to the rain
Slapping on the ground?
Ever followed a butterfly's erratic flight?
Or gazed at the sun into the fading night?
You'd better slow down.
Don't dance so fast.
Time is short.
The music won't last.

Do you run through each day
On the fly?
When you ask "How are you?"
Do you hear the reply?
When the day is done
Do you lie in your bed
With the next hundred chores
Running through your head?
You'd better slow down
Don't dance so fast.
Time is short.
The music won't last.

Ever told your child,
We'll do it tomorrow?
And in your haste,
Not see his sorrow?
Ever lost touch,
Let a good friendship die
Cause you never had time
To call and say "Hi"?
You'd better slow down.
Don't dance so fast.
Time is short.
The music won't last.

When you run so fast to get somewhere
You miss half the fun of getting there.
When you worry and hurry through your day,
It is like an unopened gift....
Thrown away.
Life is not a race.
Do take it slower
Hear the music
Before the song is over.


Hélas!

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Don't Judge Too Quickly


Como já disse - acho que várias vezes, bolas... - há obras de arte na publicidade.
Como todas as obras de arte, podem ser lidas/vistas/ouvidas/ compreendidas a tantos níveis...



Este é óptimo. Faz-me pensar nas vezes todas em que temos a certeza do que se passa... Luto contra isso mas é assustadoramente fácil cair na ratoeira. A maldade propaga-se com muito mais facilidade que a bondade e, deixem que vos diga, este tipo de conclusões são sempre para pensar mal de alguém.

O que isso diz de nós próprios...

Hélas!

domingo, 5 de setembro de 2010

Assuntos, assuntos...


Apetece-me escrever mas não sei o quê.

Podia desfolhar um rol de infelicidades, chorar o egoísmo do mundo e a contingência da vida; mas não é isso que me apetece, além de que dá uma trabalheira a despersonalizar a escrita de forma a não se reconhecerem a Maria e o Manel e mesmo assim o texto ser compreensível.

Podia falar dos mecanismos de auto-defesa que se adquirem para não sofrer e não enloucar mas que diminuem drasticamente a nossa humanidade... Não, também não me apetece ir por aí, talvez outro dia.

Deixa ver, que tal um artigo cheio de humor sobre as Amazonas, que cortavam o seio direito para ter melhor pontaria com o arco? Ná, ainda me saia uma diatribe sobre a exclusão social dos canhotos.

Mais assuntos, mais assuntos, deixa ver... O abandono dos animais no verão? Já escrevi sobre isso, além de que o verão já acabou.
Incêndios? Também não, esse assunto já enjoa de tanto que se diz e tão pouco que se faz, pobres bombeiros.
A Casa Pia? Não.
A política que não existe, apesar de existirem imensos políticos? Não, hoje não me apetece gozar com isso.
Parentalidade, família? Ui, nem pensar.
Educação? Não, estou demasiado desfasada da realidade.
Amizades? Hoje não. Tenho-as, hoje isso chega-me.
O dr House? Esse é para ver, não serve para filosofar.
Burros! Sim, burros é um excelente tema. Além do Juliano Silvério ser um tipo bestial, a transversal raça burrófona tem imensos traços interessantes.

Caramba, agora que descobri, já não me apetece escrever mais - belo retrato da raça, quando vê ao longe o que tanto procurou, senta-se a descansar.

Mas os onagros ficam para a próxima vez - é um assunto fascinante, a vários níveis!

Hélas!

sábado, 4 de setembro de 2010

Expertise


Os entendidos dizem uma coisa mas eu vejo outra quase oposta.

Devo confiar no que vejo ou na sabedoria de quem estudou o assunto e tem anos de experiência? A experiência inclui muita prática em mentir descaradamente.

Tanto num caso como noutro não há muito que eu possa fazer directamente e portanto parece irrelevante a diferença; mas não é, há aspectos colaterais que beneficiariam desse conhecimento.

Hélas!