segunda-feira, 25 de junho de 2012

Camões


A malta queixa-se:

- Dói-me a perna
- Torci um braço
- A minha sogra tem mau hálito
- Parti um dedo no futebol
- O raio da sandália partiu-se e só tem 4 dias

No café onde tomam todos os dias o pequeno-almoço, sumo de laranja natural (muito saudável!) e uma sandocha de fiambre, a malta queixa-se:

- Tive de tirar a miúda do ballet
- Dispensei a empregada em metade da semana
- Já não vou ao concerto da Madona
- A chefe anda com ar de má
- A vida está pela hora da morte

Olham, preocupados, uns para os outros:

- Não sei o que hei-de fazer
- A culpa é dos gajos que não fazem nada
- O jardim Zoológico está caríssimo, acho que dão bifes aos leões
- Tenho medo de ir aos saldos
- Se eu mandasse, outro galo cantaria

É a calma do reino de Camões. A malta queixa-se, é um desporto barato.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

A adega é pública

Nós nunca termos visto não é exactamente o mesmo que ser uma coisa nunca vista. Pois, não há nada de novo à superfície da terra (já não me lembro de quem disse isto e obviamente que não me refiro ao filme).

Só que não é bem assim. Quem é que alguma vez viu, na História da Humanidade, toda (quase...) a sabedoria humana nas pontas dos dedos? 
Umas teclas e voilá - em segundos fiquei a conhecer o poema e o seu autor, mais umas notas biográficas que se consideraram relevantes para a completa compreensão do texto. De umas linhas adaptadas de acoli, fiquei a conhecer uma obra especial - em minutos. 

 Isto é tão completa e maravilhosamente tortuoso... 

Por um lado, a ignorância de hoje fica-se pela língua - quem não fala (mais propriamente, lê/escreve), fica de fora de uma parte do mundo (meu Deus e a China que é enoooooorme... Tenho de aprender mandarim). 

Por outro, a sabedoria está à disposição de todos mas é mais sabedoria do que aquela que o comum dos mortais consegue absorver e interiorizar. Não sei - duvido que alguém saiba - qual será o impacto desta adega à disposição de quem tiver sede. 

Eu sempre gostei de malta com bom vinho mas por outro lado não há pachorra para bêbedos.

Isto é só coisas que me ralam.

domingo, 3 de junho de 2012

A dança

Dançai, dançai
A dança da alegria
No parque sem crianças
Na terra vazia

Dançai, dançai
A dança da vitória
No chão sem pedras
Na morte sem história

Dançai, dançai
A dança dos vivos
Na fonte sem água
Na jaula dos cativos

Dançai, dançai
A dança dos clamores
No caminho sem lugar
No bosque sem flores

Dançai, dançai
Com energia
O futuro já não vem
Venha pois a magia