segunda-feira, 29 de junho de 2009

Sonho


Eu não sei o que faria, para ter o dom necessário para adorar pintar. Ou desenhar. Ou cantar. Ou tocar, este, ou aquele, ou outros mais instrumentos. Adorava ter aquela compulsão que nos leva a deixar de almoçar para poder comprar o material necessário para fazer uma coisa. Aquela coisa, não uma coisa qualquer.

Deixem-me clarificar: não é o aplauso público (de que toda a gente gosta, mesmo quando diz que não - mas que normalmente não é, de facto, a força motriz) que eu quero. Não sonho com a fama, pois na verdade prefiro a privacidade do anonimato; nem com a fortuna, embora uns cobres a mais não fizessem mal nenhum.

Não. Aquilo que me faz verde de inveja é a paixão por uma actividade. Não sou burra, praticamente poderia ser qualquer actividade que se aprenda; mas o que não me falta em inteligência ou persistência falta-me em paixão.

Uma chatice, realmente (e um peso indecente para aqueles que nos consolam no desespero). Dá uma trabalheira danada, reinventar todos os dias a razão de viver.

Hélas!

10 comentários:

Fátima Santos disse...

coitada!

Alferes disse...

Paixão, dura tão pouco! Prefiro "paixonites" todos os dias. Já viu o que é ser apaixonado por uma só coisa? Qual é a piada? Hoje o azul a as laranjas, amanhã o vermelho e as cerejas, depois o amarelo e o melão... não é muito melhor que verde e maça, porque adoro, sempre?!

mac disse...

Maria de Fátima, podes crer. E só quem conhece este fado o pode cantar com alma...

Alferes, isso era muito bom. Não nos dava tempo para nos aperfeiçoarmos mas resolvia as manhãs sem destino e a vida sem objectivo maior que um básico e irracional instinto de sobrevivência.

lenor disse...

Eu já me dava por contente se reinventasse - e conseguisse - a razão de viver uma vez por semana. De quem o faz todos os dias tenho inveja!
(deve ser mais ou menos isto que eu disse que eu quis dizer, mas não tenho bem a certeza)

Marques Correia disse...

Como de costume, não percebo estes dramas.
Não percebo, não obstante também eu gostar de fazer imensas coisas (mesmo imensas), mas ão poder dizer, honestamente, que tenho uma paixão assolapada por isto ou aquilo.
Podia (e gostava) de ter sido imensas coisas: acho que teria dado um belíssimo padre, um bom advogado (nem sequer gaguejo quando discurso!), um bom shrink, um finíssimo polícia, etc, etc, sempre com muito gozo no que fizesse. Até poderia ter dado um bom engenheiro civil se tivesse começado mais cedo e não tivesse mudado de direcção ao sabor das oportunidades.
E no entanto acordo todos os dias sem qualquer frustração por não ter uma actividade-paixão que me arrebate.
. . . . .
Chateia-me, isso sim, ter tanta merda para fazer que não consigo fazer bem tudo o que faço sem deixar por fazer (bem) muito do que teria que fazer.
Mas como não consigo esticar o dia, nem esticar-me a mim próprio(para além do razoável)vou fazendo o melhor que posso.
Por isso, para esse lado também não durmo pior...

Blimunda disse...

Eu acho que teria dado uma boa dançaria porque quando danço ( de dois em dois anos prá aí) faço-o com tal paixão que seria certamente feliz nessa profissão! E compreendo-a embora também não me levante todos os dias com esse pensamento na cabeça! Vou fazer-lhe uma pergunta pessoal. Peço, desde já, desculpa pelo atrevimento mas impõe-se que a faça. A Mac não tem filhos?

Blimunda disse...

Eu explico: é que os filhos poupam-nos o trabalho de termos que reinventar todos os dias a razão de viver. Eles próprios se encarregam de a arranjar por nós!

mac disse...

lenor, e quem diz que se consegue?!? Mas tenta-se, isso sim.

Marques Correia, qual drama? Apenas um suspiro de inveja por quem gosta de fazer imensas coisas...

Blimunda, o meu filho é já crescido e debate-se, ele próprio, com a mesma falta de incentivos...
Os filhos são más razões de viver porque não são nossos, são emprestados por breve tempo.

Há uma altura em que os devolvemos a si próprios e volta tudo à mesma, excepto a nossa capacidade de nos reinventarmos que normalmente já está um bocado embotada.

AC disse...

Para ter uma paixão é preciso saber ouvir a voz do coração.

mac disse...

AC, sei que não sou mouca e o coração, mal ou bem, lá vai batendo... Ainda que com voz fininha. Pelos vistos, falta-me o saber. Há cursos disso?