domingo, 30 de outubro de 2011

Exeriência de vida


Detesto ser velha (vivida, para aqueles a quem a palavra velha choca); e não é pelas rugas, palavra de honra que não (agora com tanta porcaria que tomo, tenho até muito poucas!), é porque do tanto que já vi começa a faltar-me a esperança no que não vi.

Quando era mais nova, achava que cada caso era um caso, que nunca nada se repetia porque as pessoas e as circunstâncias não eram iguais e que era estúpido, derrotista e típico de uma velhice azeda encarar uma situação qualquer à luz do passado vivido.

Hoje sei que não é assim. Sei que apesar de cada caso ser um caso, há padrões que se repetem interminavelmente, normalmente os medíocres - malta que se aproveita sem vergonha alguma dos outros, pessoas feias e parasíticas que nem sequer são más, porque há uma grandeza perversa no Mal que não há nessa gente.

Isto chateia-me. Queria continuar com a visão otimista e cheia de esperança no futuro que tinha antes. Era tão realista como a de agora (ninguém conhece a realidade do coração dos homens...) mas muito mais construtiva.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

25


Tenho 25 rascunhos (aqui) e nada para publicar.

É relevante isto. 25 textos inacabados/impróprios/à espera de maturação/idiotas mas queridos - um dia direi qualquer coisa com eles.

Mas 25! Se eu fosse uma rapariga prática tinha o mês cumprido e com as longínquas ideias de uma publicação diária...

Rais parta isto, passo a vida a rascunhar mas escrever de facto está quieto.

Se calhar devia ir para a política.

domingo, 23 de outubro de 2011

Sei lá!


Eu sei lá, de tanta coisa que acontece a tantos e tanta coisa que me acontece a mim, sei lá o que quero dizer...
Estou presa entre a realidade geral e a particular.

Sim, sempre soube que não se consegue dizer, explicar com detalhe as nossas coisas - invariavelmente as coisas dos outros pedem audiência, sofredoras também, ansiosas de compreensão também.

E importância, bem, é melhor nem entrar por aí porque a importância é sempre relativa - a dor na minha unha do pé, porque é minha, será sempre mais importante que as crianças que morrem de fome e sede num canto obscuro do mundo.
É triste mas é assim.

Nunca como agora desejei fugir do mundo.
Gostaria de poder viver numa casinha à beira do mar, com internet, claro, email e outras mordomias remotas que não me obrigassem a falar de viva voz.

Todos nós temos as nossas preferências. Se estivéssemos num filme de ficção científica e houvesse um ser que nos obrigasse a escolher qual das nossas capacidades daríamos em troca da vida, toda a gente, chorando e rangendo os dentes, conseguiria escolher.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Aquecimento global

O sol morno aquece a cidade

As pernas nuas das mulheres
Dançam nas sandálias leves
As crianças riem como crianças
ao sair da prisão na escola
Até homens de pasta preta sorriem

Estamos em Outubro e é verão
Lembro-me dum homem a cantar
what a wonderful world

Sonho acordada, sorrio sozinha
Afinal o mundo todo inteiro

Não resiste ao verão tardio.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Home, sweet home



Nesta semana em que fui tão tranquilamente feliz, o improvável sorriu também e a água do mar esteve a uma temperatura compatível comigo, o que não acontecia há anos e anos. Assim, passei a semana também com abraços ternos e brincalhões de espuma, numa alegria serena em que me esqueceu a saudade.

Permiti-me reviver a segurança infantil, a invencibilidade adolescente, a persistência adulta... Chego inevitavelmente à gratidão da idade madura.

Sou abençoada. Por vezes esqueço-me, a memória é traiçoeira principalmente com estas oferendas divinas - mesmo sem querer, acabamos por interiorizar algo dessa falsidade perversa do "não há almoços grátis".

Mas hoje não. Hoje lembrei-me que sobre aquilo que me foi dado sem trombetas, nunca nada me foi pedido em troca, nunca nada me foi exigido, nunca nada me foi cobrado, nunca nada me foi relembrado.

A minha vida prossegue à sombra dessa proteção inexplicável e, particulrmente hoje não sei porquê, sinto-me infinitamente agradecida.