segunda-feira, 26 de maio de 2008

Razão

O Homem é um animal racional.

Isto quer dizer que tem a necessidade de compreender (mesmo inconscientemente, talvez sobretudo inconscientemente...) tudo mais o par de botas.

Quando a coisa nem sequer é razoável ou crível, ele inventa. Mas racionaliza tudo, torna as coisas lógicas, explica o inexplicável, sempre. Tem de ser, é a sua natureza.

Por isso é que a astrologia se intitula ciência, fundamentando o seu edifício na astronomia; por isso a superstição vai buscar "factos" que "provam" as suas teses.
Por isso é que ouvimos defender racionalmente os vícios (uma pessoa sem vícios não pode ser bom, há algo de errado com ela, é melhor ter os meus vícios).
Por isso é se acha mentalmente doente a pessoa genuinamente altruísta, que põe de facto um desconhecido qualquer, sem traços relevantes, à sua frente.
Por isso é que face a um qualquer facto do qual desconhecemos a razão, assumimos automaticamente a pior - egoísmo, aproveitamento, etc. - porque é a razão mais comum e portanto a mais lógica.

Nesse aspecto, aprovo completamente o catolicismo, que inicia o seu discurso com "Isto é assim, assim e assim. Não vale a pena tentares perceber ou discutir a questão - ou acreditas (acreditar é o contrário de compreender) - ou vai plantar batatas". Quem fala assim não é gago. Mesmo que depois comece a ga-ga-ga-guejar, quando explica o edifício construído em cima desse pilar.

Talvez outras religiões sejam assim tão frontais - não sei, a minha ignorância desse assunto é abismal - mas sei de outras que tentam explicar o inexplicável - e contra essas o meu ser e a minha razão revoltam-se.

A verdade é que actualmente há poucas coisas que sejam capazes de arrancar de mim uma reacção mesmo forte; tentarem fazer de mim estúpida é uma delas.

Aceito erros, mau julgamento, enganos. Aceito pacífica e invejosamente uma profissão de fé. Não consigo aceitar um logro sem me revoltar instintivamente.

Hélas!

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