quinta-feira, 22 de maio de 2008

Felicidade

Porque é que as pessoas não são felizes?

Andei a matutar no assunto e cheguei a uma conclusão: porque em geral, as pessoas (eu sou uma pessoa também...) querem o ovo inteiro (belo na sua casca intocada), as claras batidas em castelo (uma obra-prima do engenho humano), a gema batida com açucar (uma delícia muito nutritiva), a massa para o bolo (as crianças adoram) e o bolo em si (ideal para tantas situações). E só têm um ovo, tem de ser tudo com o mesmo ovo.

Claro que sabem que é impossível. Mas mesmo assim, lá atrás do cerebelo, num sítio muito, muito escuro, há uma voz que murmura: - Será que é desta que vou conseguir?

E como não é, a voz chora e as pessoas ficam infelizes. Independentemente do estado do ovo.

Hélas!

4 comentários:

Fátima Santos disse...

não acredito em doutrinas, nem em deuses, nem em mais nada que um mistério
este de sermos assim e sermos neste universo onde esboroam estrelas (outros universos?!)
nada me liga a um porvir, um depois, um Além promissor
menos ainda um ressuscitar na glória de um Senhor
não tenho essa Fé
nem sei de igrejas ou coisas semelhantes
de bem e mal, apenas o que me dita o bem senso, o costume (sei eu lá de onde me vem este saber eu de bem e mal)
me alongo para dizer que, neste meu assim ser, não há lugar para o pecado naquele sentido de ofender o Alto
mas pecado eu entendo que é não ser feliz quando a felicidade convive sempre ao nosso lado
pecado é voltar-lhe a gente a face
nem procurar sentir que ela está ali, pequenina e triste se não a vemos
e tão enorme se, no meio de tristezas e deslindes que é disso que é feita a vida, lhe damos atenção, abrimos um sorriso, agradecemos sermos capazes do que somos
estarmos quentinhos e vivos

pecado, sim, enorme, olhar a televisão ler os jornais, ou passar na rua e não sentir que somos imensamente ingratos não fazendo andar connosco de mão dada, a nossa dose de Felicidade
a dose enorme da fecidade que nos cabe

mac disse...

mcorreia: Pois, eu sei, foi isso mesmo que disse embora em outra embalagem... Quantos de nós, com tudo aquilo que nos cabe - um ovo inteirinho, num mundo pleno de gente sem nada! - tem todos os motivos para rir como um bebé, de felicidade completa?

Mas em vez disso, escutamos um murmúrio difuso:

- Será que é desta?

Ou então, quando a tal entidade escondida está para aí virada:

- Eu, bem alimentada e com um ovo inteiro na mão, e ele/a sem nada para dar ao filhito!...

Sabes? Acho que a humanidade tem um gene (dominante) de infelicidade. Se calhar é isso mesmo que nos torna o que somos... Bons e Maus e Assim-assim. Infelizes. Insatisfeitos. Capazes de tudo.

Hélas!

Marques Correia disse...

Pois é: a coisa pode ser assim a modos que um motor. Puxa-nos para a frente quando nos sentimos abaixo do que podíamos ter (ou ser).
Sendo a felicidade medida pela comparação do que se tem (ou do que se é...) com aquilo a que se aspira (saudoso Vasconcelos, o de Luanda, dixit) é fatal que a nossa felicidade será sempre escassa uma vez que quanto mais alta estiver a fasquia, mais difícil será alcançá-la e, por outro lado, se a colocarmos a um nível atingível, subi-la-emos para um nível mais distante assim que o nível anterior seja atingido.
A arte de colocar a fasquia é das mais difíceis de aprender e de praticar: os incrementos do nível da fasquia devem ajustados de modo a que a possamos atingir, mas com esforço, com a sensação de que fizemos algo de valioso e que isso nos encha de satisfação e auto estima.
Se os incrementos forem pequenos (baixas expectativas) a noção da mediocridade dos nossos objectivos não deixará de nos afectar o gozo de os termos atingidos.
Se a perna for menor que o passo proposto, a frustação de não alcançarmos a meta dificilmente será compensada pela compreensão da sua inatingibilidade.
. . . . .
Mas que é difícil contentarmo-nos com o que temos, lá isso é...

mac disse...

Marques Correia: Pois, só me resta acrescentar que se ficarmos todos contentinhos com o que temos, não nos batemos pelo que não temos!

Um motor, sem dúvida. Não o deixemos nem engasgar por excesso de esperança nem parar por falta de uso!

Hélas!