sábado, 31 de maio de 2008

Basbaque

Às vezes, fico embasbacada. Petrificada, congelada, imóvel, estupidificada, uma vítima completa da Medeia.

Uma das coisas que tem imediatamente esse efeito são algumas interpretações do que digo (ou escrevo, sejam actas de reunião, relatórios secos, resumos de intenções ou artigos de mal-dizer).

Por exemplo, se eu digo: "o céu estava de um azul muito escuro" e há alguém que me diz: "Concordo inteiramente consigo, a natureza humana não é de fiar" eu fico instantâneamente com olhos de carneiro mal-morto.

Outras vezes estou mesmo zangada e afirmo categóricamente ao energúmeno: "Essa acção não se faz!". E o tipo responde: "Pois eu cá acho que Fulano usa capachinho e ficava bem melhor sem ele". E eu fico automáticamente off. Hipnotizada. A pesquisar nos escaninhos da minha fraca memória quem é Fulano, se de facto será careca, e que raio tem isso a ver com o que eu disse (suponho que devo também ficar com uma expressão estranha, a julgar pelos olhares curiosos que obtenho nessas alturas).

Depois, no sossego da toca segura e na paz da escrita, tento perceber onde foi a bifurcação entre o que eu queria dizer e o que disse. E nem sempre consigo, raios partam esta dupla incapacidade.

Hélás!

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