segunda-feira, 5 de maio de 2008

Humanidade I

Esta é uma história humana, que mais bicho nenhum tem esta capacidade para o mal. Sim, estas linhas retorcidas e mal definidas só estão ao alcance da raça superior, aqueles que detêm o poder da escolha.

Há um homem - se calhar há mais, mas só deste é que se sabe actualmente - que resolveu fechar a filha na cave, para se servir dela quando estivesse para aí virado.

Diz quem o conhece que é inteligente e não há dúvida nenhuma que sabe ler - parece que até tem um curso superior - pelo que deve saber da existência da pílula e de preservativos; teve 7 filhos da filha.

O homem é casado e não consta que a mulher seja atrasada mental - a mulher diz que a filha foi-se simplesmente embora e ela não deu por nada e nunca nada de estranho lhe passou pela cabeça, nestes vinte e tal anos (sim, não se está a falar de 6 meses).

Recorrendo a umas garatujas num papel, eles adoptaram legalmente 3 dos filhos da filha - e essas crianças também nunca desconfiaram de nada, nem as suas normais curiosidades e brincadeiras de crianças e depois adolescentes as levaram a questionar a cave ou a reparar nas saídas do homem.

Teve inquilinos, pelo menos um deles com cão - que ouve e tem melhor olfacto que nós e (muito importante!) não concebe considerações como "não se meter na vida dos outros" e mesmo assim, os pequenos ruídos e cheiros da cave não tiveram consequências.

Tinha vizinhos, que viviam na mesma rua, partilhavam os espaços, as vistas e os recursos públicos. Fazia compras e levava as ditas para a cave porque tinha de alimentar a filha e os miudos, né? Mas nunca ninguém deu por nada.

Havia 1 adulta e 3 putos lá dentro, certo? Haveria roupa, mesmo pouca, que deixaria de servir aos putos em crescimento e seria necessário substituir. Papel higiénico, pelo menos depois de alguns anos. Pensos higiénicos? Se calhar, mas todos os meses. Sabonete, talvez shampoo. Sabão. Sapatos provavelmente não - para quê? - mas cuecas e t-shirts se calhar sim. Comida, de certeza - viveram vinte e tal anos assim. E tudo vem em embalagens que se deitam fora, haveria lixo de mais 4 pessoas para colocar no caixote.

Mas nem a mulher, nem os filhos de cá de fora, nem os inquilinos, nem os vizinhos, nunca ninguém reparou em nada.

Sou só eu ou também vocês acham que há algo de muito errado connosco?

Hélas!

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