sábado, 10 de maio de 2008

Justiça e bondade

Prezam a justiça? Pois então não sejam bondosos. E vice-versa. Certo, certo, é que parecem mutuamente exclusivas...

A bondade parece lesiva de todos aqueles que pensaram, lutaram, labutaram e se sacrificaram para obter o mesmo resultado que o tipo do lado, que não fez nada disso nem despendeu um segundo com esse propósito; é dar a mesma gorgeta ao empregado que nos serviu impecavelmente e ao que não nos ligou nenhuma mas que tem olhos tristes e uma família numerosa; é ajudar com o mesmo empenho o vizinho que é uma pessoa fantástica e sempre disponível e a vizinha que é uma parvalhona egoísta mas que sabemos que tem muitas dificuldades. É injusta.

Por outro lado, a bondade leva-nos a um esforço extra sem qualquer justificação, pode salvar a alma a quem está desesperado, é uma dádiva sem contrapartida nem interesse, é aquilo que pode de facto acordar um desconhecido dormente. É um presente, é aquilo que não é devido, é um testemunho de esperança e fé no futuro. Olhada por este lado, se é injusta é porque se está a aplicar uma unidade de medida inapropriada, como medir um gás com um metro.

Que querem? Ora batatas, a vida é complicada. Eu cá resolvi o problema assumindo que a partir de um determinado grau de complexidade já não consigo ir lá de forma racional; pode-se ir, deve-se ir - mas não eu, que já não tenho capacidade para essas cavalarias tão altas.

É bestial, só vos digo: podemos ser alegremente injustos e mesmo assim dormir descansados... Claro que me podem chamar outros nomes: calaceira, comodista, egoísta, narrow minded... Não deixo de lhes dar razão mas estes insultos, ao contrário de outras coisas, não me tiram o sono. Pensarei nisso amanhã.

Hélas!

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