Sim , pode-se dizer à vizinha, cujo marido está a morrer, que vai ficar mais livre. Mas só se ela perceber que ser mais livre é ser mais pobre...
Houve um santo qualquer (S. António? S. Francisco? Caramba, às vezes assusta-me a mim própria a minha falta de memória, o meu desinteresse pela precisão, o meu focus no conceito abstracto que tende a menosprezar coisas tão importantes como QUEM, QUANDO, ONDE!) que, consciente disto, determinou um verdadeiro voto de pobreza - não se podia ter nada, mesmo nada, além das vestes (irrelevante, fruta da época, a vista do corpo pode despertar/facilitar tentações indesejáveis) e da malga para comer o que fosse oferecido. De outra forma, nunca se poderia pertencer de corpo e alma ao ideal.
Era sábio, esse santo.
Aplica-se a posses materiais mas não só. E as outras, as imateriais (amor, respeito, amizade) têm cadeias muitíssimo mais fortes que um sofá ou uma TV. Não é mau nem é bom: é assim, simplesmente, como a gravidade.
Quem quer ser livre, verdadeiramente livre, não pode submeter-se a essas cadeias. E - ai de mim! - só nessa perfeita liberdade é que algumas escolhas podem ter lugar. O que é uma grande falta de liberdade, convenhamos.
Ora batatas.
Hélas!
Houve um santo qualquer (S. António? S. Francisco? Caramba, às vezes assusta-me a mim própria a minha falta de memória, o meu desinteresse pela precisão, o meu focus no conceito abstracto que tende a menosprezar coisas tão importantes como QUEM, QUANDO, ONDE!) que, consciente disto, determinou um verdadeiro voto de pobreza - não se podia ter nada, mesmo nada, além das vestes (irrelevante, fruta da época, a vista do corpo pode despertar/facilitar tentações indesejáveis) e da malga para comer o que fosse oferecido. De outra forma, nunca se poderia pertencer de corpo e alma ao ideal.
Era sábio, esse santo.
Aplica-se a posses materiais mas não só. E as outras, as imateriais (amor, respeito, amizade) têm cadeias muitíssimo mais fortes que um sofá ou uma TV. Não é mau nem é bom: é assim, simplesmente, como a gravidade.
Quem quer ser livre, verdadeiramente livre, não pode submeter-se a essas cadeias. E - ai de mim! - só nessa perfeita liberdade é que algumas escolhas podem ter lugar. O que é uma grande falta de liberdade, convenhamos.
Ora batatas.
Hélas!
6 comentários:
Nunca percebi a tineta com a perfeição. Tampouco com a ambição (?) por uma liberdade total, verdadeira, perfeita.
Ser mais livre é ser mais pobre?!
E ser mais pobre será ser mais livre?
Percebo que para quem está votado a cousas imateriais, a ponto de se contentar com uns restos do contentor, se considere mmais livre do que o tipo que tem a liberdade de escolher onde e o que vai comer ao jantar. E o que vai vestir e onde vai passar as férias da Páscoa.
Já sei, são coisas materiais que não interessavam ao São Não Sei Quantos...
Eu também sou totalmente livre de fazer o que posso. E se eu quiser o que não posso ter (ou ser) - situação que não se coloca ao guru pé descalço porque não ambiciona a nada material - lá se vai o sentimento de liberdade, estampando-se contra o limite do que posso, do que tenho e do que sou.
Não será óbvio que a liberdade total, verdadeira, perfeita não existe? A menos que exista Deus e, mesmo assim, a liberdade será só para Ele...
O que o nada tem é mais livre se e só se não aspirar a nada, nem a um tecto quando chove e faz frio, nem a um brioche quando falta o pão, nem a uma imperial quando falta a água potável, ou seja, no nada que tem diluiu-se-lhe o tino que tinha...
Marques Correia: Bem, eu acho que não percebes a tineta porque não é uma tineta... Vou tentar responder a tudo:
- Ser livre é ser mais pobre, no sentido de que aquilo que se possui, sofás ou amizades, limita a nossa liberdade (se tens de guardar o sofá não podes ir passear quando te apetece, se tens de dar força a um amigo, não podes passear como te apetece);
- Se és mais pobre podes ou não ser mais livre – podes ser pobre mas preso a um sonho qualquer que não te permite ir passear quando te apetece.
- A posse não é só de coisas materiais, aliás e repetindo-me a mim própria, as cadeias mais relevantes vêm das posses imateriais (amor, amizade, respeito).
- Sim, todos somos livres de fazer o que podemos (ummh… Algo parecido com a conversa dos ditadores: és completamente livre de fazer o que eu deixo e portanto podes, só não és livre de fazer o que eu não deixo e portanto não podes?...) mas não é isso o que me interessa; o que me interessa é ter a consciência de que são as mesmas coisas que desejamos que por vezes nos impedem de alcançar outras que também desejamos.
- A liberdade total e perfeita não existe – ou pelo menos não existe para mim - e não vejo mal nisso: a liberdade total e perfeita tem custos que eu não estou disposta a pagar. Mas é racionalmente atingível e avaliável, e tudo o que é racionalmente atingível e avaliável deve ser racionalmente atingido e avaliado. O seu estado perfeito e o seu estado “imperfeito”…
- Nem penses que aquele que escolheu nada ter – escolheu, note-se – tem menos tino que tu ou eu. Por vezes fico deveras espantada! Quem escolheu assim pode não ser – aliás, não é, de certeza – como tu e eu, mas o seu tino nada tem a ver com isso. A importância que dá ao ter, material ou imaterial é que é diferente da nossa, só isso…
- A perfeição, inatingível que é, não pode ser um objectivo de vida, sob pena de depressões e suicídios... Mas pode e deve ser uma direcção. Melhorar, aperfeiçoarmo-nos, deve ser um desejo sempre presente; mesmo tendo em conta que o destino é inatingível, a direcção e o caminho para lá têm o seu próprio valor...
Bolas, foi maior a resposta que o artigo... Sorry, mas as bolhas que voltam à viagem necessitam de preparações cuidadas!
Hélas!
Estou sem folego para altas cavalarias, muito menos para respostas ponto por ponto, sendo tantos os ditos pontos.
Parece-me, contudo, que sobrevalorizas a liberdade que o despojar de bens traz (e traz mesmo) e desvalorizas quase completamente a falta de liberdade que o mesmo despojar de bens traz.
Um asceta pode não ter que se chatear com gravatas nem com meias a condizer com elas mas, desgraçadamente, se chover e fizer frio, ele não tem tanta liberdade na escolha de locais confortáveis como tem um teso como eu (nem é preciso comparar com a liberdade de escolha do Belmiro). O asceta não sente frio?! Duvido d-o-dó...
E se ele tiver fome? A liberdade de escolha entre os vários modos de matar a maldita é, para ele, muito menor que a minha; no limite, ele não a conseguirá matar e acaba morto por ela.
O despojamento de bens materiais pode trazer, e acredito que traga mesmo, bem estar espirutual, tranquilidade, mais liberdades que cadeias. Mas o despojamento abaixo das necessidades básicas parece-me mesmo uma atitude completamente tola, uma nítida falta de tino e/ou de equilíbrio.
Isto é muito terra a terra e não acompanha o nível de abstracção que este assunto merece? O tanas! A liberdade, a fome e o frio são, eminentemente, temas terra a terra sendo, por isso, altamente recomendável que as altas abstracções sejam testadas com a vivência do dia a dia.
É, naturalmente,o que eu faço.
Marques Correia: Eu nunca falei de despojamento abaixo das necessidades básicas... Seria até, de alguma forma, um contra senso, pois nessa altura, cheios de fome e frio, certamente não há cabeça para pensar em liberdade e escolhas...
Repito que o que me interessa é ter a consciência de que são as mesmas coisas que desejamos que por vezes nos impedem de alcançar outras coisas que também desejamos!
É outra vez a história do ovo e da omelete: não podemos ter os dois, mas que o queremos, isso queremos!
Hélas!
AH!!!!!!!!
Quando se fala apenas em despojamento e se exemplifica com o Santo que preconizava o despojamento de tudo menos das roupas que se tem no corpo (duas mudas é batota!) é falar de um relativo despojamento? Não me parece...
Contudo é bom que comeces a relativizar e contextualizar - aproximas-te do real, o que sópode fazer bem (digo eu...)
Marques Correia: Mas eu sempre contextualizei, se calhar não tão explicitamente como deveria.
Repara: Antes do santo, está a mulher que vai perder o marido - que aliás dá o mote ao artigo; depois do santo - com a gamela para poder comer, está explícito: "Aplica-se a posses materiais mas não só. E as outras, as imateriais (amor, respeito, amizade) têm cadeias muitíssimo mais fortes que um sofá ou uma TV. Não é mau nem é bom".
O real é o pão e o tecto, de acordo. Mas há mais uma imensidade de coisas, umas físicas outras não, que fazem igualmente parte do real, ou não?
Hélas!
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