Já repararam que por vezes, quando explicamos uma dúvida a alguém, subitamente se faz luz e já não precisamos de explicação nenhuma? A minha teoria (tenho dúzias disso, às vezes até tenho mais de uma para o mesmo assunto, ehehe...) é que para explicar a dúvida somos obrigados a organizar o pensamento e obrigamo-lo a ter princípio, meio e fim, de outro modo ninguém nos entende.
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O resultado deste processo organizativo é tornar claros os buracos por onde se escoava a compreensão; o colmatar dos ditos buracos, para tornar coerente o discurso, tem como consequência natural o aparecimento claro, claríssimo, da coisa.
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Escrever tem o mesmo efeito, pelas mesmas razões. Ficam à mostra as incoerências e os vazios, nascem as ligações, inferências, consequências e conclusões... E a idéia fica clara, claríssima - se houver alguma, claro. Se não houver fica apenas a retórica elegante e é um bibelot como outro qualquer.
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A escrita não é um processo criativo, pelo menos para mim - é um processo descritivo, organizativo e, se eu lhe der tempo suficiente em banho maria, um processo de síntese que retira o pormenor supérfluo e deixa o sumo - mais pesado e mais compacto, mas mais rico e relevante.
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Não quer isto dizer que aqueles que são incapazes de escrever de forma compreensível sejam pouco dotados do ponto de vista intelectual - mas acho que a sua organização mental não é passível de ser partilhada e certamente que têm dificuldades em se fazerem entender por terceiros - o que é sempre uma perda porque os terceiros são uma fonte inesgotável de enriquecimento, principalmente quando percebem qual é a nossa questão.
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Hélas!
2 comentários:
que a cunhada me viria servir de muito, era dado certo; que viesse bater, em cheio e a desoras, neste assunto, eu cuidava que fosse coisa para mais tarde.
Pois que quer que lhe diga: não tenho mais na ponta da escrita do que um discurso algo distante do dia-a-dia; não me queda a frase com tino se me atento a dizer o que penso (penso? é questão que, dado isso, me coloco!) É que eu insisto, apuro-me até, de modo que me saia texto dizendo o que é minha opinião sobre tal tema; e é ver arrepiar eu caminho, bocejar, ficar olhando - um olho no teclado, outro no monitor: nada de sair arrasoado sobre...
E, no entretanto, se me deixo à solta,se me não encaixo em qualquer espartilho de ter que dizer, aí sim não há folha que fique com pedacinho à mostra que não seja entrelinha.
Por isso, cunhadinha, dói que um assunto que tanto me atormenta, repito-o: não ser eu dada a escritos sobre tema, venha de jacto assim à colacção num seu terceiro post.
Vou fazer um enorme esforço e, mais do que brincar com as palvras, mais do que dançar com elas ou deixar que elas me dancem, prometo ir treinando, pois não quero sentir-me assim como se fora de mim que fala este seu escrito acho que a sua organização mental não é passível de ser partilhada e certamente que têm dificuldades em se fazerem entender por terceiros
mcorreia: Cunhada, isto faz-me mergulhar num mar de sonhos e suposições, como de costume. E depois de conversas completamente fora de horas, só me resta um suspiro: Porque diabo dou eu tanta importância à escrita?
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