quarta-feira, 23 de abril de 2008

Elogio da preguiça

Sabem porque é que já não estamos no tempo das cavernas? Porque há malta muito preguiçosa.

Davam montes de trabalho, as cavernas - ele é perseguir as fêmeas com mocas pesadas, ele é caçar todos os dias senão a fêmea morre, ele é montar guarda ao buraco da entrada não vá a tribo vizinha roubar a fêmea, ele é andar à chapada com o vizinho por causa da pele dos bichos, que ainda por cima dão uma trabalheira danada antes que a fêmea a possa vestir, ela é deixar o brutamontes caçar a gente, ela é por o macho a caçar bichos maiores que ele para o jantar, ela é fingir-se interessada na tribo vizinha por causa dos tigres que rondam a gruta, ela é arranjar artifícios para vestir mais que os pelos com que nasceu... Quando se acabavam todos estes trabalhos, já não havia tempo,pachorra ou energia para um banho de sol.

Não há paciência para tanto trabalho.

Vai daí, a raça de preguiçosos labutou e voilá! Frigoríficos e isqueiros, portas com fechadura, perfumes com feromonas, fraldas de papel e lojas de trezentos.

Espero que a raça não tenha desaparecido - o que eu gostava agora era que me dessem conhecimento instantâneo.

Hélas!

3 comentários:

éf disse...

Discordo: Ainda estamos no tempo das cavernas, justamente porque a malta é muito perguiçosa. O perseguir fêmeas com mocas é invenção dos românticos do Séc. XIX, atitude atribuída aos Neandertais – que até nem viveram em cavernas mas apenas as ocuparam temporariamente. Quanto à preguiça prefiro a aparente eufemismo “indolência”, atributo assumido por muitos autóctones da orla mediterrânica que possuem consciência da importância das condicionantes psicossomáticas – o clima, a luminosidade, a alimentação, influem nas atitudes. Eu assumo a minha indolência psicossomática de indígena mediterrânico e concordo com o “Não há paciência para tanto trabalho!” Sobretudo porque sei que estou a trabalhar, para outros acumularem.
Todas essas coisas resultantes do que a malta trabalhou testemunham a sua condição "cavernícola", que se mantém. Como se mantém o primado da posse e o culto do objecto.
O conhecimento, sobretudo o instantâneo, não transporta consigo qualquer tipo de felicidade mas, apenas, a inquietude do não saber. Instantâneo, mesmo, só o café.

Blogue porreiro, orientado de dentro para fora, talvez em busca de influxos contrários.
;)

éf disse...

erro meu: emendo, é "preguiçosa" - a menos que o acordo a altere.

mac disse...

efe: Realmente gosto de fluxos contrários … Agora:

1º - A prova provada de que não estamos no tempo das cavernas é a existência de fraldas de papel, a maior invenção humana desde o fogo e a roda;

2º - Quem atribuiu aos Neandertais a vida em cavernas não fui, foi Vosselência;

3º - Quem atribuiu aos Neandertais o uso de mocas também não fui eu – pois, também foi Vossência!;

5º - Se não era com mocas pesadas era com botas pesadas – mas sempre foi apanágio do ele caçar a ela, embora seja um mito que essa característica seja genética;

6º - A indolência é uma preguiça chic acabada de sair do SPA (que é muito mais chic que o demodé Centro de Beleza;

7º - Concordo plenamente (e esta?!?) com a importância das condicionantes psicossomáticas (clima, luminosidade, alimentação, mulher-a-dias, etc);

8º - Eu trabalho para ter as tais condicionantes (principalmente a mulher-a-dias, dá um jeitão!) e se alguém que não eu acumula qualquer coisa daí, quero que se trame desde que a dita não falte na 5ª feira;

9º - Estou convencida que o primado da posse e o culto do objecto são consequências directas do facto observado – está cientificamente provado! - que os pobres não têm direito aos condicionantes

Credo! 9 assuntos numa resposta só?!? Mas que ataque de vicius analiticus

Hélas!