quarta-feira, 30 de abril de 2008

Vida II

Aqui há uns anos, suspirei para a minha cria, a propósito já nem sei de quê, provavelmente farta de interrupções no filme:

- Bolas, como eu gostava de viver sozinha!

Naquele dia, estava farta, mas mesmo farta, de me preocupar com o jantar e se estaríamos todos à mesa ao mesmo tempo, em vez de ir despreocupadamente para a borga com amigos; estava farta de ter de pensar em telefonar, se chegasse tarde; estava farta de partilhar a sala e o comando da TV, nos sonolentos sábados; estava farta de não ter a casa só para mim, com gente permanentemente a ir espreitar a geleira – podem ter nascido doces por lá, desde a visita de há 5 minutos atrás! - ou a roncar no sofá; estava mesmo fartinha de ser permanentemente interrompida no que quer que estivesse a fazer.
O suspiro era verdadeiro e sentido.

Ele riu-se:

- Mãezinha, mas tu nem sabes o que é viver sozinha, nunca viveste assim!

Diabo, não é que o diabo do puto tem razão outra vez?!? É que de facto não faço ideia do que é viver sozinha, toda a vida tive companhia, e boa companhia ainda por cima.

Wakeup call!!!

E se um dia eu chegar a casa e não tenha quem me endireite com gentileza a sobrancelha franzida por contrariedades menores?
Se não tiver ninguém que, conhecendo-me muito bem, ainda assim viva aparentemente satisfeito na minha companhia?
Se, de repente, não tenho ninguém que se ria alto de mim, à minha frente?
Se não tenho ninguém que seja mais importante para mim que eu própria?

Bolas! Devia mas é ir já acender uma vela a S. Teotónio, padroeiro dos mal-agradecidos...

E vou mesmo, daqui a bocadinho, no intervalo. Depois de ir fazer chichi. Os intervalos agora são enormes, deve dar. É que não quero perder a cena da Maria a sofrer por causa da sua vida tão difícil.

Sabem, é que a Maria tem alguns amigos, bons amigos, mas naturalmente com uma vida independente da dela. Não tem marido nem filho, o sofá é pequeno, no frigorífico só há verduras e nem nunca suspeitou que pudessem lá nascer doces.

Coitada da rapariga! Sem quem a interrompa um milhão de vezes, a provoque, se ria dela! Sem quem a chateie quando fica parva, sem quem lhe endireite a sobrancelha!

Hélas!

5 comentários:

Teste hjhfdss disse...

Existe uma explicação para as pessoas fazerem viagens frequentes ao frigorífico no mesmo dia, mesmo sabendo que não vai lá aparecer nada de novo.

Primeira viagem
"hum, já comia qualquer coisa! já estou com uma certa larica, um snack caia mesmo bem, deixa lá ver o que há no frigo".
"Oh bolas! não há assim nada que me apetece mesmo, só leite, ovos, arroz... não quero nada disto".

Segunda viagem
"A fome já esta a apertar, não havia nenhum snack delicioso mas talvez haja alguma coisa que possa cozinhar rápido, vamos lá ver".
"Ovos, leite, queijo, arroz... Talvez uma omelete de queijo... umas panquecas... nã... dá muito trabalho, uma sandes? não há pão, olha, a fome há de passar".

Terceira viagem
"Já não estou a pensar direito, tenho mesmo de comer algo, nem que tenha de cozinhar, vamos lá ver o que posso fazer".
"Temos ovos, leite, arroz do dia anterior, queijo, chóriço, maionese, atum, pickles, salxixas... é isso mesmo uma bela omelete de queijo e chóriço com... deixa ver... pickles? será que fica bem? não custa experimentar".
"Pa completar vamos aquecer este arrozito e temos uma bela refeição."

mac disse...

fr3d: Fantástico, acabaste de desvendar um mistério que sempre me intrigou...
Mas quando são n viagens, com um intervalo médio de 8 minutos entre cada uma? É certo que já nem sei se são viagens do mesmo individuo, se de um e outro, se só de um ou só de outro... Mas de qualquer maneira não é possível que a fome cresça dessa maneira num quarto de hora! E sempre com o mesmo resultado prático, ou seja, um copo de Coca-Cola ou uma garrafa de Àgua das Pedras?!?

Não há duvida, nunca hei-de perceber os homens.

Hélas!

Marques Correia disse...

:) (?)

Teste hjhfdss disse...

Entre a segunda e a terceira viagem podem haver N, depende apenas da preguiça de cozinhar :)

mac disse...

fr3d: Estás a ser um bocadinho literal, não?...

Hélas!