quinta-feira, 24 de abril de 2008

Saudosismo

Destesto saudosismos.

E não é por estar velha, já em nova os detestava. Tímidamente (eu era uma miuda tímida, acreditam?!?), com muito receio de deitar fora preciosidades valiosas de pessoas mais velhas e experientes (portanto mais sabedoras, dizia a minha inocência). Mas não gostava. Com todas as reticências que fazia (ainda faço, ai de mim, mas já menos, ai de mim...), não gostava da idéia de reviver o passado. Levava a comparações irrazoáveis, parecia-me, além de que corroía o presente.

Tão diferente tudo, tão diferentes nós... Mais novos/velhos, mais inocentes/cínicos, mais inexperientes/endurecidos... Para um exterior tão profundamente diferente, também ele; como se comparam feijões directamente da lata - comidos à fogueira, com 18 anos, muita inconsciência e muito espírito de aventura - com rebentos de soja num fino estufado, que recentemente a sobrinha favorita fez para o nosso jantar de 68º aniversário? Que raio de comparação é possível???

Não quero ter saudades de um tempo que não existiu - aquele em que vivi com 18 anos, olhado com olhos de 50. Isso vai envenenenar o meu tempo dos 50 e provavelmente já não terei tempo de olhar este com olhos saudosos e irrealistas de 80. Cheios de cataratas, já não vai dar para ver nada - e olhem, depois nem vivo, nem revivo...

Hélas!

3 comentários:

Fátima Santos disse...

oh! minha querida!
Desculpe como é que a amiga disse?!sem que o retire do contexto, afirma que já em pequena não gostava da idéia de reviver o passado
mas a amiga sabe lá o prazer, o delicioso que é a gente saudosar passados?!ou sabe e teve um deslize tou em crer.
Ná. não sabe. tou vendo que não sabe!
soubera-lhe o gostinho e não se lhe pendera esse seu jeito embirrento de dizer quando não gosta de algo e quer mostrar sem que haja ponta de retorno que a demova; soubera e não faria corresponder a saudosismo o recordar o passado...
mas de que vivemos nós senão dessas raízes, desses caminhos que trilhámos e trilhamos (ou pensa que enquanto me lê está fazendo o quê mais que construir passados e trepar futuros?!!)
mas ele há lá coisa que ensombre presentes, que os corroa (credo! que verbos a amiga acciona quando se compraz em desfazer a coisa que pode até ser prazer de outrem... linguagem nada à toa, a sua)
Corroer presentes, menina, só se for por não ter vividos outros presentes (e nem os que ora passa, porventura...) e precisar faze-los, uns e outros, vivos apenas num mentir de comparando. E é nisso que se funda o saudosismo,nesse mentir de comparar o que não pode; tem toda a razão e lha estendo: tome. Saudosismo,palavra empregue com ímpeas conotações que as descreve poetando e com que em geral concordo, mas convenha que errou dizendo-o não gostava da idéia de reviver o passado
quando ainda amiga nem quase teria de passado mais que as fitas do bibe arrastando ou será precoce, quem o sabe!
não confunda o people, menina que reviver o passado é muito mais que saudosismo, é VIDA!
se nunca o fez, convido-a: ora perca um pouco do presente, corroa-o um niquinho, mas tente e verá se não ganhou um bocadão enorme de futuro! ora experimente
(e aqui para a gente que ninguém nos ouve: é nesse mesclar de presentes de ontem e hoje que a gente não se faz velha e tenho belíssimos exemnplos a contrapor-lhe)
mas quer lá coisa boa que poder apreciar o doce da cunhda neste almoço e o frango assado numa brasa quanado aos 20 anos sentir o paldar de ambos... ora dane-se que eu não me coíbo desse seja ele saudosismo ou outro

Fátima Santos disse...

estive a reler e acho que fui muito simpática no comentário anterior, á parte a flata de vírgulas, escrvein um texto com o denodo que o post não merecia mais que um vai-te catar rapariga
e disse

mac disse...

mcorreia: As minhas desculpas, parece que acertei num nervo sensível… E isto sem qualquer intenção, que dizer desta pontaria?!?

Mas atenção que me desculpo apenas pela irritação que involuntariamente causei, não pelo conteúdo do artigo. A minha amiga fará o favor de conceder que não sou obrigada a gostar do gosto de outros nem de ter a mesma opinião que eles sobre o que lhes vem, veio ou virá do exercício desse gostinho…

E até percebo bem que haja gosto, mesmo tentação; o passado já foi, não dá trabalho nenhum. Estou sinceramente convencida que se não fosse uma pequena impossibilidade física, muita da juventude adoraria reviver o passado, também! Há lá coisa mais prática que saber já a história toda?

Lembra-me uma pessoa de quem gostei muito (já morreu, em provecta idade) que me disse uma vez:

- Olha, já só releio livros. Assim, já sei que gosto do que vou ler, sei que partes saltar, e não tenho desilusões. Além disso, dá muito menos trabalho - tenho mais por menos.

Confesso que na altura – já há uns anitos – a frase me chocou (reparaste que o próprio discurso é racional e lógico? Não estava gagá). Agora já não me choca (ai de mim, muito poucas coisas têm esse condão, agora…) mas continuo a achar que quem gasta o precioso tempo a relembrar, reviver, recordar e outros res, fica com menos tempo para lembrar (parece, mas não é o mesmo), viver e arriscar. E é um desperdício… Já viveste, já fizeste, já lá estiveste. Move on!

PS.: Apreciei o esforço e alegria do 1º comentário… “Vai-te catar!” é apenas a repetição again?!? do que tanta gente já me disse!...

Hélas!