quinta-feira, 17 de abril de 2008

Achaques

À medida que o tempo avança e o corpo perde elasticidade e vigor, a inevitabilidade da morte ganha importância.

Na infância e juventude a morte é uma coisa longínqua que não merece atenção e da qual nos rimos. Depois o tempo avança e mostra, sem piedade e sem remorso, que o longínquo afinal não é assim tão longe: começam a adoecer e morrer conhecidos, amigos e familiares, desaparecendo do nosso alcance riquezas que possuíamos sem saber mas de que repentinamente nos damos conta que existiam antes e não existem agora; o nosso próprio corpo começa a queixar-se com maior frequência e em voz mais alta.

Agora, a morte requer atenção e tempo. E começamos a pensar no que comemos e bebemos, se dormimos, começamos a fazer esforço físico sem objectivo maior que ele próprio, preocupamo-nos com as radiações e as tecnologias, enfim com tudo o que dantes não tinha qualquer importância.

Tudo para fugir ao inevitável o maior tempo possível – já sou sensível a isso, como é óbvio pelo artigo. Mas olhem: decidi dizer aos achaques que gostei muito de os ver mas agora não tenho tempo, o melhor é marcarem uma reunião para daqui a... algum tempo. Nessa altura conversarei com eles e darei a minha melhor atenção às suas preocupações. Ou então marcamos outra reunião!

Hélas!

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