A amizade é uma preciosidade rara. E, como outros sentimentos fortes, tem o seu fundamento na confiança. Só somos capazes de dar a nossa confiança a quem de facto somos bastante amigos, porque acarreta um peso grande – o de não falharmos. Se alguém só é digno de confiança em certas coisas, está tudo estragado - quais coisas? As que têm importância para ele ou as que têm importância para mim? Como é que sei? Vou ter de verificar, lá se vai a confiança.
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Disse-me alguém que muito prezo que isto coloca uma grande carga nos outros, que têm um peso desgraçado para viver de acordo com o meu modelo. Verdade – mas também eu carrego comigo esse peso por causa deles… Cada um tem uma obrigação com o outro e nem sempre isso é agradável ou confortável mas só assim é que são de facto amigos. Se não, são apenas companhia de café.
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Claro que só estou disposta a um esforço destes com pouca gente; dos outros nada espero e provavelmente nada esperam de mim e isso nada tem de mal. Somos simpáticos uns para os outros porque isso torna mais agradável a bica e é sempre agradável uma bica agradável…
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O esforço de não desiludir a confiança de alguém é demasiado grande e pesado – só o consigo oferecer a pouca, muito pouca gente. Até porque sei o que dói, quando estamos convencidos que somos amigos de alguém e depois descobrimos que afinal a pessoa não quer pagar essa conta, está cansada e largou a carga, teve coisas mais importantes em que pensar e julgou que não tinha importância - não quero ser esse alguém porque depois não dormia bem.
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Mas se um tipo te vem contar que fez “isto” – qualquer coisa de que tu até desconhecias a existência, como ele bem sabe - apenas para tu perceberes porque razão está ele a pedir desculpa, podes ter a certeza que tens um amigo. Esse.
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Hélas!
2 comentários:
é esta forma, organizada, limpa, despojada de tudo (mesmo no sentimento)que não seja o essencial, o devido, o necessário ao que se quer dito e, mais, percebido e, melhor, tal qual se quer dizer; é este escrever com "coisa" para transmitir; é este o texto, a forma, o jeito, que eu tanto admiro e não consigo.
(Quiçá não tenha mesmo nada para dizer; ou seja defeito de fabrico no que à escrita diz respeito...)
o que é certo e deixo dito, é que admiro este jeito de compor um texto
um beijo e uma boa semana é o que desejo
mcorreia: Por outro lado, que arte em dizer certas coisas, quiçá mais complexas, difusas, subjectivas, ramificadas... Não menos reais.
E fiquemos por aqui, que elogios mútuos nada adiantam à Torre de Pisa.
Uma boa semana também para ti, beijo-te de volta.
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