quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Vencida mas não convencida


Conversar e discutir têm uma série de diferenças interessantes, já
aqui o disse uma vez. Acrescento agora outra coisa: conversar e discutir são tão diferentes como beber uma aguinha na mesa do café para matar a sede ou para entreter o descanso das pernas: uma é essencial á vida, a outra é apenas um agradável intervalo no que quer que a gente esteja a fazer.

Conversar é uma espécie de trânsito numa junção entre ruas: ora passas tu, ora passo eu, vamos contando à vez o caso que nos acode á mente e, qual ribeira indolente, traçam-se novos rumos e conhecem-se outras ervas mas tudo com a maior urbanidade - ora é a tua vez ora é a minha, ora é a daquele. É sempre uma via de sentido único - um conta e os outros ouvem.

Discutir é outra loiça. Levantam-se convicções, são desafiados credos e opções de vida, raríssimas vezes (que giro, isto é mesmo uma boa definição de discussão, acho eu...) há uma total consciência do que está em causa e que é simplesmente o facto de estarmos a desafiar mutuamente alicerces de personalidade.

Numa discussão apresentam-se argumentos que, com maior ou menor arte do discutidor, explicam e justificam a sua posição face à questão (claro que há uma questão, dahhh!) mas o que é realmente engraçado é que raramente os que discutem estão capazes de analisar fria e racionalmente os argumentos apresentados... Não, estamos normalmente demasiado ocupados a estruturar a defesa (defesa de que ataque?!? Não há ataque, há a introdução de novos dados, numa questão que para nós estava "arrumada" e agora, mas que chatice, pode estar novamente desarrumada...).

Já uma vez fui totalmente encostada á parede, numa discussão com um tipo impecavelmente calmo, gentil e racional: não mudei de opinião, claro, mas aprendi o verdadeiro significado da famosa frase "vencida mas não convencida": quer dizer que a nossa opção não tem bases racionais, estas foram construídas depois, como suporte.

Aprende-se sempre qualquer coisa, numa discussão, mesmo que seja sobre nós próprios.

Hélas!

7 comentários:

Mateso disse...

Agradeço o comentário e a visita.
Mas apenas uma pequena elucidação. Na Índia , nas zonas suburbanas não existe água canalizada, mas sim uma torneira pública onde se faz bicha a partir das quatro da manhã. A família, os homens, vão buscar baldes, cabendo a cada um, um e só um. Os homens, leia-se ,têm a denominação depois dos oito anos.
Obrigada.
Bj.

O QUATORZE disse...

Boa Noite
Mais uma visita, o riso pode ser originado por muitos motivos, não só expecificando algo ou alguem, as discuções saudaveis são geradas num entendimento e espera das observações dos intervenientes.
Gostei do que escreve.
Amizade
LUIS 14

mac disse...

Mateso: Eu tinha percebido o sistema da torneira mas não sabia que os homens (de mais de 8 anos) só podiam trazer um.
No meu comentário, só pretendi referir o que feriu a minha sensibilidade estupidamente picuinhas: se ele + o pai + 5 irmãos trazem 4 baldes, considerando que ele tem direito a 1 quer dizer que o conjunto dos 5 irmãos trazem 2 baldes, o que me pareceu um estranho desperdício de esforço para quem não se pode dar a esse luxo. Considerando agora que só podem trazer baldes de água os homens e apenas podem trazer 1 balde cada um, chego à conclusão de que há 3 irmãos que não foram lá fazer nada porque são demasiado bebés.... Mais valia que os deixassem domir mais um bocadinho mas suponho que por razões que não vêm ao caso tal nem é possível.
Confesso que por vezes esta minha hipersensibilidade ao pormenor chateia até a mim própria... Gostei imenso do texto, nu, cru, real e muito bem escrito; os meus parabéns, que valem o que valem mas são sinceros.

PS.: O meu comentário aparece repetido (submeti 2 vezes, só depois me apercebi que careciam de aprovação, às vezes sou assim lerdinha: pedia-lhe o favor de apagar um deles, à sua escolha. É que pareço gaga!

O QUATORZE: Olá, Luís 14!
Sim, o riso pode ser originado por muitos motivos mas se os formos aprofundando, no fim da cadeia está sempre um sofrimento. E sim também, as discussões são saudáveis e enriquecedoras, sempre (acho que – espero que! - é por isso que eu gosto de discutir...).
Mas não, não são geradas num entendimento, são geradas num desentendimento. E raramente ou nunca há a percepção de que a discussão não só põe em causa a opinião alheia sobre a questão como também a personalidade que a gerou... Porque as discussões são sempre sobre opiniões (mais ou menos suportadas por factos, mais ou menos pensadas e digeridas, mais ou menos lógicas e racionais) ou seja, nunca a correcção de uma posição pode ser provada matematicamente. Se pudesse, nem haveria discussão propriamente dita, haveria apenas o estabelecimento de premissas e a demonstração final.
Já agora... O seu sítio também é muito agradável.

Hélas!

Mateso disse...

Ora dos pequenos nadas nasce a luz. O raciocinio é correcto. Porém, também há que não esquecer, que a nossa língua mátria é do género masculino , daí que três irmãos mais duas irmãs perfaçam cinco irmãos... as mulheres ficam em casa.
Vou apahgar o segundo comentário, não pela gaguez, mas sim porque mo pediu.
Bj.

mac disse...

Mateso: Obrigada.

Hélas!

Anónimo disse...

Aprendi muito

mac disse...

Comigo?!? Quem diria, muito obrigada, Anónimo!