terça-feira, 14 de outubro de 2008

Riso


Analisem bem e verão se não é verdade: de cada vez que um Homem se ri, é à custa de alguém (ou vá lá, à falta de melhor, de um animal considerado superior, ou seja, pelo menos mamífero como nós...)*.

O riso, aparente expressão de felicidade, na verdade não tem lugar quando esta está presente.

Só nos rimos do sofrimento, físico, sentimental, moral ou racional, e é claro que tenho uma teoria sobre isso (sabem de alguma coisa sobre a qual eu não tenha uma teoria? Digam, digam, que eu vos digo...): instintivamente sabemos que é melhor rir que chorar.

Já repararam? Quem chora encolhe-se, enrola-se, tende a adoptar a posição fetal; a páginas tantas os olhos já só vêem o próprio umbigo - e ainda chora mais, claro. Uma reacção natural pois tudo procura a sua perpetuação, como é sabido.

Mas quem ri espicha a cara para fora e vê os outros e o Universo: além de ter ainda mais motivos para rir (tudo procura a sua perpetuação, como é sabido) alarga os horizontes e amplia o seu mundo. Isso os chorosos não conseguem ao contemplar o seu umbigo; e mesmo as lágrimas de auto-comiseração se extinguem se não forem alimentadas com alimento fresco.

*A idéia de que o riso é sempre à custa de alguém não é original, embora a minha ignorância não me permita apontar o autor.,, Mas posso sempre citar Lautréamont: “Ride, mas chorai ao mesmo tempo. Se não puderdes chorar pelos olhos, chorai pela boca ou por qualquer outro lado. Sejam lágrimas, seja mijo, seja sangue, tanto faz. Mas advirto que um líquido qualquer é aqui indispensável”.

Hélas!

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