Aqui há muitos, muitos anos, eu era cegueta como sempre fui - mas na altura não tinha carta de condução e portanto não usava óculos ou lentes de contacto. Era alegremente cegueta a pé pelos passeios, não corria o risco de atropelar alguém... Engano meu.
Um dia passei por alguém a quem não vi - e como não vi, não lhe falei. Ela tomou aquilo por desprezo. E o desprezo, sabe-se lá como, estendeu-se à família. Uns dias depois, no cinema, vi a filha. Falei-lhe mas ela não me respondeu, olhou em frente de olhar fixo. Eu não percebi - de vez em quando sou tão estúpida como um calhau redondo. Semi-estranhei mas o filme estava a começar, ela nem devia ter ouvido, era uma miúda bem porreira. Esqueci a coisa.
Dois dias depois, não dava para enganar: frente a frente, eu disse com um sorriso: "Olá!" E a filha, sem desviar os olhos mas desviando o passo, népias. Um sepulcro. Nem bom dia nem boa tarde, nem olha, pá, vai à merda.
Fiquei espantada. Valeu-nos uma amiga comum a quem contei o caso, confundida: ela era uma miúda porreira, eu sabia que era, porque raio teria feito tal cena surrealista??? A amiga explicou.
Eu fui falar com a mãe, explicar a minha falta de visão e assegurar que não tinha sido propositado. Pedi compreensão para a deficiência e eles deram-ma: no dia seguinte, toda a família me cumprimentou com sorrisos e eu sorri de volta... Foi bom.
Hoje, velhota a rememorar lembranças, deu-me para questionar. Não ela (que se ofendeu por um pretenso insulto mas esqueceu tudo quando percebeu que o insulto não tinha existido), nem a família dela (a quem ninguém tinha ofendido mas que cerraram fileiras solidárias - eu não concordo com esta actuação mas percebo perfeitamente), mas a amiga comum. A que me esclareceu e permitiu resolver a coisa.
Ora batatas, então não me podia ter chamado de lado e dado uma desanda?!? Perguntado porque raio eu andava eu a ofender assim os amigos?
Não percebo nada de gente, está visto. É que também ela era uma miúda porreira, essa amiga. Estou certa que não me chamou de lado porque não me quis chatear e não percebo isso - sendo minha amiga, não me devia inquirir quando me via a fazer asneira?!? Os indiferentes são às montanhas, ninguém precisa de mais.
Isto chateia-me para caraças - sou cegueta de outros olhos e nem sequer sei onde é o oculista.
Hélas!
14 comentários:
Tal como na surdez, a cegueira tb pode ser direccionada. O que por vezes dá um jeitão e tanto!!!
Posto isto, se alguma vez passar pela menina e não a cumprimentar, não me leve a mal. Posso ir, ocasionalmente, sem óculos graduados.
Sim, que eu não sou dessas mariquices das lentes de contacto.
Hélas!!!
jg, juro que me embebedei de teorias de auto-controlo e inteligência emocional, fiz auto-retiros linguísticos e consultei dicionários e enciclopédias mas sem sucesso; chamarem-me de "menina" continua a implicar-me com os nervos, é assim desde menina, vá-se lá saber porquê. É maluqueira, claro, porque não me chateiam outros nomes tipo "mac" ou "tu, aí".
Posto isto, se eu passar por si sem o ver dê-me um abanão - não há pitosguice que resista. Por mim, prometo que se o vir a passar por mim como cão por vinha vindimada, grito alto e bom som:
- Ó jg! Ó pra mim, é a "menina"! Esqueceu-se das lunetas ou quê?!?
Minha querida Mac, a provocação resultou!!!!
Não obstante tenha usado o "menina" sem essa conutação, por todas as razões e mais uma, o termo enerva pela proximidade do sopeiral (sem desprimor para as ditas).
O razão do uso do termo, neste caso, fitava outro propósito. Era precisamente saber se arrepiava ou, bastante pior, lhe era indiferente.
Correu (me) bem!
Digo eu... cos nervos.
NOTA: Agora é só contar até dez (de trás para a frente, e arranjar abrigo contra as granadas incendiárias da Blimunda. Ou da "sacristoa" da Mofina!!
As duas ayatolas dão corpo à máxima: "nunca nada está tão mal que não possa piorar"
Hélas!!!!
Ui, vou ali e já volto!
Pois discordo e desta vez totalmente que é para ser mais profundo, nenhum amigo me deixava de falar, porque não lhe dava hipotese, era na hora, 2 putas nos olhos, k é para isso ke servem os amigos.
Agora se não me importasse mt com essa amizadae era capaz de ir falar com a familia, apenas para saber se havia algo de errado com a minha imagem publica ou para ter assunto para uma cronica social.
Recomendo "O amigo dedicado" é uma historieta infantil, porreira sobre a amizade, k se adequa ao seu episodio de subserviencia
Mac, voltei apenas para lhe dizer que sei tão pouco de amizade!
jg, Arrepia, arrepia...
Hélas!
Privada, uma murraça bem dada é uma reacção típica da raça rica em testosterona... Como simbiota compreendo a reacção; mas sendo a minha raça mais dotada em soft skills, pessoalmente prefiro resolver conflitos através de linguagem.
O seu comentário, no entanto, aplica-se apenas ao prefácio pois a problemática do artigo é a amiga que me explicou o imbróglio; os shakespearianos para mim não são questão, compreendo-os.
O facto do moleiro só querer saber de si próprio atesta que não é amigo de Hans.
Sabe porque razão o Hans atura tudo ao moleiro? Porque é amigo dele.
Pode-se achar que o Hans é tolo mas é ao moleiro que chamamos mau.
Aplicando O amigo dedicado ao seu comentário, ocorre-me que aquilo a que chamou subserviência pode igualmente ser chamado de esforço devido a um amigo. Ou não. Depende se somos Hans ou moleiros…
Blimunda, onde foi?!?
A amizade é uma coisa simples: Fazemos aos amigos o que gostamos que eles nos façam, sem nunca fazer contas ao esforço. Facilita muito quando a amizade é recíprocua mas não é condição essencial, como disse aqui atrás ao privada.
E atenção que eu não disse que era fácil, só disse que era simples...
amizade e modos de ver ela fluindo
amiga isso nem é simples nem fácil nem se explica nem se aplica
essa coisa nem se interroga 8ou se se faz não é para ter respostas que o circunstancial é já havido e ele responde a tudo e sabe lá você que circunstãncia dominou naquilo que AGORA voc~e quer/deseja respomdido) ela amava-a e amava o outro
mas...
e já se interrogou que a forma de agir dessa sua amiga possa ter sido APENAS um acto de distracção
um acto de nem seuqer ter achado digno de mençaõ o facto que a si a perturbava tanto?
ou um acto de burrice que ser porreira como a diz, não impede...
o que acho (continuo achando) minha linda, é que a menina parece uma adolescente - esse tipo de coisa é mesmo assim tão importante? ou a questão que a consome é essa de ser mais ou menos cegueta? olhe que a vida dura pouco, querida, use-a em derrimições menos...sei lá...menos ... mais...nem sei como classificar, mas é assunto chato e que não atrasa nem adianta
Para evitar equívocos, os políticos cumprimentam toda a gente. Ou serão ceguetas?
Maria de Fátima, cara mia, há alguma coisa mais importante que compreender? O meu tempo será mais útil a coser meias que a analisar uma situação?
Será que é o assunto que te é chato ou achas chato pensar nele? Todas as tuas amizades são como nasceram? Não nascem, crescem ou morrem?
Há quem goste de viver ao sabor das ondas, hoje assim amanhã assado, sem qualquer curiosidade sobre as chatas marés. Eu gosto de perceber as marés...
Mofina, não, acho que são só hipócritas. Mas andou por aí um video interessante, em que o político deixava uma mão estendida pendurada no ar, com a pressa de apertar outra mais promissora...
Desculpe a demora na resposta mas o trânsito tem estado infernal e tenho chegado sempre tarde onde devia estar a horas. Bem, tinha ido lavar as vistas! A poeira radioactiva que o JG espalhou fez-me mal aos olhos e agravou a minha cegueira!
Na minha opinião, quando passamos na rua por uma pessoa conhecida e não lhe falamos e ela não nos fala, a culpa não é só nossa.
Podemos ter feito de propósito ou por não a ter visto. E ela a mesma coisa.
Se ela não te chamou também tem culpa no mal-entendido. Não poderia ela ter-te chamado a atenção?
Mesmo quem vê bem às vezes tem momentos de distracção.
Blimunda, tem de passar a usar óculos protectores! ;)
AC, bem vinda de volta! Concordo completamente, acho isso pacífico.
Na história, só há uma coisa que me faz confusão: porque diacho a minha amiga (a que me explicou o causo, não a que amuou) não me chamou a atenção, quando soube do amuo?
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