domingo, 20 de julho de 2008

Karoshi

Chega-me aos olhos este fim de semana uma crónica sobre o Japão.

Lembram-se? O país onde estar em greve significa ir trabalhar como sempre mas usar uma fita branca - sinal de protesto por parte do trabalhador, sinal de vergonha para o empregador, tudo sem pôr em causa a produção e a riqueza gerada pelo trabalho (os costumes orientais são estranhos para nós, mas se há coisa que a gente aprendeu e nem sempre da maneira mais pacífica é que a Honra - o conceito é comum embora as suas representações possam não o ser - é MESMO importante para eles. Bastante mais do que para nós, no melhor e no pior que isso tem).

Pois nesse país, reconheceram o fenómeno com uma palavra concreta - karoshi. A situação não é especificamente deles, claro; mas foram eles a identificar, com uma palavra, a situação daqueles que trabalham mais do que é humanamente possível - e portanto morrem. De excesso de trabalho, simplesmente.

O que me chateia é que a reacção de quem lê vai ser de certeza "Olha que mariquinhas! Trabalham um bocado mais e puff!!".

Porque já passei por lá e sobrevivi, porque conheço quem passou por lá e sobreviveu, porque conheci quem não sobreviveu - por favor não digam "Olha que mariquinhas!..."

A situação é séria. Eles reconheceram-na e criaram a palavra mas a situação não é japonesa, é comum ao mundo dito civilizado.

Hélas!

2 comentários:

Marques Correia disse...

...e ao não civilizado também: o trabalhar de sol a sol, o trabalhar sem ver o sol (minas, prostíbulos miseráveis, etc), o trabalhar desde tenra idade horas e mais horas não é infelizmente exclusivo do mundo civilizado.
. . . .
O termo morrem como moscas talvez devesse ser, nestes casos, substituído por morrem como karoshas...

mac disse...

marques correia: Bem visto, sim senhor.

Mas se calhar essa desgraçada malta não morre tanto por excesso de trabalho como por subnutrição e condições inadequadas de trabalho, será? Não é exactamente o mesmo, embora a causa seja sempre o trabalho, o desgraçado trabalho!

Mas que há maralha que morre que nem karoshas, ai isso há mesmo e vendo bem, realmente não é só no mundo dito civilizado...

Hélas!