Perguntaram-me uma vez que desejo pediria se só tivesse um desejo para pedir; mas não podia ser nada relacionado comigo (por exemplo, não podia pedir para ter a capacidade de satisfazer quantos desejos quisesse, nem a capacidade de satisfazer desejos de outrém).
Pensei que paz era o máximo mas pensando bem, será? Acho que prefiro uma guerra declarada, com os valores em litígio bem claros, que uma paz podre de desinformação, pressões, desaparecimentos, torturas e mortes incógnitas. Guerra e paz são palavras muito traiçoeiras.
Inexistência de fome/sede? Sim, isso era bem bom. Mas nem só de pão vive o Homem, isso é certinho como a noite.
Bom senso? De bom senso, como de boas intenções, está o Inferno cheio. A abarrotar.
Ausência de infelicidade para o Homem? Mas depois, como é que se dá valor à felicidade? Ficava tudo uma mornice sem graça?!? Felicidade e infelicidade também são palavras muito traiçoeiras, olá se são!
O que eu queria mesmo era que as pessoas fossem felizes e boas e inteligentes e sensatas e não dessem cabo da Terra nem dos vizinhos, não chateassem quem é diferente e não se chateassem por haver malta diferente mas igualmente feliz e boa e inteligente e sensata, que nunca se morresse nem triste nem sózinho, que nunca ninguém tivesse fome ou sede de comida ou de amor ou de amizade ou simplesmente de companhia, que toda a gente tivesse sonhos realizáveis, que não houvesse filhos sem pais nem pais sem filhos, enfim, o paraíso para mim e para os outros. Mas não consigo meter isto num desejo só...
O facto é que eu não soube responder. Ainda hoje não sei. Mas estou a trabalhar nisso, já lá vão uns anitos desde que me perguntaram mas ainda estou. Não vá dar-se o caso de achar uma lâmpada velha na praia.
Hélas!