Entre outras coisas, no tal curso de soft skills ensinaram-nos que a mais produtiva forma de refilar - ou falar do tempo - é ser assertivo (palavrão muito na moda e que quer mais ou menos dizer falar com controlo + verdade + objectividade + emoção - agressividade. O palavrão justifica-se, portanto, é muito mais económico).
A ideia geral do discurso é: primeiro o retrato objectivo da realidade, depois a interpretação desse retrato e depois a verbalização das emoções suscitadas pela interpretação; no segundo passo, informa-se o outro da acção concreta que desejamos e por fim explicam-se os objectivos que julgamos conseguir com essa acção concreta.
Ocorreu-me na altura que deve ser até divertido: imaginem só a reacção assertiva perante um assalto à mão armada. O assaltado, muito controlado, diz com voz firme para o ladrão, antes mesmo deste abrir a boca:
- Vejo que tem uma pistola na mão e penso que me quer assaltar; sinto-me ao mesmo tempo assustado e indignado. Quero que meta outra vez a pistola no bolso e se vá embora, pois não pretendo ficar sem qualquer das coisas que trago comigo.
Isto segue a regra da forma mais académica. E se calhar, o assaltante ficava tão espantado e desconfiado que dava resultado.
Hélas!
10 comentários:
minha querida: malcriada (desassertiva em toda a largura da palavra) é coisa que se pode ser sem palavrões e a menina nem sonha como é horrível alguém sendo profundamente mal educado e tão assertivo, tão filho da...ah! perdoe que eles estão-me na ponta da lingua como na ponta dos dedos, sempre em riste
assertivo o raio que parta, que por vezes até custa ser simpático, quanto mais...
inda se fosse acertivo eu podia pensar em acerto/ajuste de contas e sempre era coisa de gente, agora isso...palavrinhas doces, fingimentos, sonsices
resolver problemas com gentinha usando o assertivo como a minha vizinha do terceiro a quem eu lá do quarto, água frutada, disse:
- a senhora importa-se de estender a roupa para a esquerda, que eu estendo para a direita e assim não me molha o que está quase seco?
treta! a gaja ne, levantou a mona para dizer: vá pró c... ou tão só boa tarde...nada: lá seguiu a colocar uma verde uma encarnada em peugas e cuecas e eu sem saber aonde estendar a camisola
resolvi? claro! na próxima esperei que a geja tivesse o painel de atoalhados e blusas de lã sequinhos daquele sol da tarde de Dezembro e zás (sem necessidade de palvrões nem cenas de pancada) estendi uma corda de lençóis e pijamas sem programas de centrífuga
- a gaja há-de aprender a ouvir a minha assertividade...
virei eu dizendo para dentro de casa se tiver frequentado um desses cursos para conhecer a palvra
A menina tem coisas que por isso mesmo a ralam
Maria de Fátima, 4 coisinhas de nada:
1) Não se pode ser malcriado sem ser agressivo - está na génese da palavra malcriado;
2) Assertividade não é da família da simpatia, antes pelo contrário: é supostamente a maneira mais inteligente de levar a água ao nosso moinho, não aos dos outros;
3) Pensar que assertividade não é coisa de gente é pensar muito mal da gente;
4) Se há palavra que nunca pensei ouvir da tua boca é gentinha!
De resto, como raio podes tu molhar a roupa da vizinha que molha a tua?!? É à vez, quem estende no estendal de cima?
Isto é só coisas que me ralam.
Não, o tipo levava mesmo um tiro nos cornos! ;)
Saphou, isso seria muito eficaz. Seria também seco, curto, conciso e sem nenhum divertimento; em vez disso, tinha-se uma carga de chatices com a bófia...
Bons nisto, só os que têm este talento ou talento para o aprenderem. Os outros, antes de acontecer, nunca sabem como vai ser.
Talvez ganhasse uns segundos com a paralização cerebral momentânea que, sem dúvida, provocaria no meliante e pudesse fugir. No entanto, não iria longe porque os ignorantes não perdoam a sabedoria dos que o não são!
Tem ke reduzir a frase, os ladroes geralmente gostam da cena rapida
Lenor, ninguém sabe, acho eu, mas pode-se ir treinando ao espelho para um dia de chuva...
Blimunda, isso é de facto um problema. Mas talvez desse tempo para, muito assertivamente, ferrar-lhe um pontapé incapacitante.
privada, caraças, é difícil... Que tal : "Vejo pistola, penso assalto, sinto susto! Quero rewind, vou poupar.
É mais curto mas não sei porquê, falta-lhe convicção. Acho que não funcionava tão bem.
O hic, é que o assaltante, também poderia ter frequentado um curso de soft skills, porque isto de ser bandido nos dias de hoje também tem que se lhe diga; e já que há cursos para tudo, o mais provável é que tambem haja para se ser um bom malandro diplomado...
Assim, dizia eu, o assaltante poderia responder mui assertivamente: Vejo que está com medo, e penso que poderá estar a ponderar num acto de heroísmo; sinto-me divertido e ao mesmo tempo enfadado, mas não tenciono dar-lhe um tiro... ainda. Quero antes que você se despache e enfie as notas no saco que lhe dei, pois não pretendo sair sem o dinheiro, mas se for preciso, dou-lhe mesmo um tiro.
Ana, era divertido...
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