Um dia, uma rapariga que estimo bastante disse-me que eu era muito mais interessante no virtual do que em pessoa. "Não somos todos?", respondi.
Ela ficou a olhar para mim, espantada. E eu para ela, igualmente espantada pelo espanto dela.
Nos blogues, nos comentários, nessa vida virtual, a coisa é fácil: escreve-se quando se está para isso e nem é preciso lavar a cara. Até se pode começar a frase antes do jantar e terminar depois de lavar a loiça - é realmente à vontade do freguês, fala-se com quem se quer, quando se quer, e com todo o vagar que se quer para burilar o discurso.
Na vida real não é assim, se a gente não lavou os dentes a mensagem perde-se no nojo do ouvinte. Depois, os desgraçados que nos acompanham na vida real têm de suportar a inspiração e a falta dela, conhecem o brilho da eloquência tão bem como os grunhidos matinais. E também nós não podemos, com toda a verdade, encarnar um desbragado cínico às 10:00 e um prudente contabilista às 10:30 - quem nos acompanhasse nas 2 ocasiões ficava baralhado e mandava-nos para Rilhafoles.
Como é que dizia o outro? "Pode-se enganar todas as pessoas durante algum tempo; pode-se até enganar algumas pessoas durante o tempo todo; mas não é possível enganar todas as pessoas durante o tempo todo."
No virtual, andamos a enganar (ou a ser completamente honestos, depende do ponto de vista) só algumas pessoas (escolhidas a dedo) e nem é durante o tempo todo (só quando estamos nessa disposição)...
Hélas!
8 comentários:
essa rapariga, essa rapariga...
mocinha d´ólhão a gaja heim!!
Em cheio, mais uma vez!
Maria de Fátima: Não sei se é mocinha de olhão se é olhão de mecinha...
Mofina Mendes Obrigada... Obrigada... (olhó queixito a apontar o céu, para não se notare a papada...)
Não comentei este post propositadamente. Já falei sobre o assunto demasiadas vezes esta semana. Não foi, Mofina?
Blimunda: Qual deles? A sustentável leveza da vida virtual ou a insustentável papada do queixito a apontar para o céu?...
Somos iguais na vida real e na virtual, quando muito situações diferentes mostram facetas diferentes. Se calhar no virtual podemos escolher o que queremos mostrar, mas na verdade é tudo uma questão de tempo...
Elora: É assim e não é assim. É verdade que aquilo que somos se nota sempre, na vida real ou na virtual. Também é verdade que situações diferentes mostram facetas diferentes (e quem as não tem? Tantas, tantas...).
Mas precisamente porque no virtual se pode escolher as situações, pode-se escolher as facetas que se mostram. Na vida real isso é impossível, são as situações nos escolhem a nós...
Elora, só mais um pormenor: a imagem que fazemos dos outros é como a imagem que os outros fazem de nós: é a conjugação de todas as facetas que já se viu presentes naquela entidade. Quando as facetas presente para conhecimento exterior são filtradas, reinventa-se a entidade.
Enviar um comentário