terça-feira, 11 de novembro de 2008

Maré


Há um surdo zumbido,
silencioso e mau,
que atravessa os dias;
Onde amputa um sentido
o traiçoeiro lacrau
deposita as suas crias.

Zumbe zangado o zumbido.
Morre triste o sentido.
Zumbem zangadas as crias.

Hélas!

6 comentários:

Blimunda disse...

Hoje não estou em maré. Zumbe-me um surdo zumbido, silencioso e destemido.

mac disse...

A mim também. Nem sei se é ele próprio se são as crias.

Hélas!

Álvaro disse...

Titulo do poema

" O lacrau surdo"

com tanto zumbido, com as crianças a gritarem e tudo, como é que o lacrau foi parar a este poema ?

mac disse...

(suspiiiiro...) Eu explico (um completo contra-senso, a poesia não se explica, sente-se ou não. Mas prontes, desde que me deu um doutoramento à borla tenho uma certa consideração a considerar):
Marés = coisas cíclicas, que mesmo que tenham períodos altamente não regulares, são por definição não permanentes.
Zumbidos matadores = problemas que não sendo avassaladores, não se deixam esquecer.
sentido morto = aquilo que os ditos zumbidos mataram com a sua pertinácia barulhenta.
crias zumbidoras = ressentimentos nascidos da morte do desgraçado sentido por força do barulho.

Ps.: Lacrau é apenas uma questão de rima; podia perfeitamente ser "homem mau" mas perdia-se algo na métrica e elegância.

Hélas!

Álvaro disse...

Não ligue Drª Mac eu só sou o palhaço (é a segunda vez que o digo hoje), quem deve brilhar são os mágicos, os fazedores.

posso concluir que na vida não se deve tentar rimar com lacraus, provavelmente o problema não está nele mas nos maus.

Confesso-lhe contudo que exactamente um dos problemas que tenho com ALGUMA poesia é exactamente essa obrigação de TER QUE rimar.

Isso rouba-lhe (a ela à poesia) "credibilidade" se me faço entender ?

Já tenho lido poetas que não rimam, soa-me melhor.

Mas tive um dia muito lacrau

mac disse...

Álvaro: A poesia não tem que rimar, claro. Mas se escolhe rimar, aí já tem... É como tudo na vida, algumas escolhas condicionam outras, não se consegue ter sempre todos os caminhos abertos.

Quanto ao resto, já reparou na imagem de marca do espetáculo? Não são os mágicos, são os palhaços.

Olhe, estive a reparar em partes do seu dia de lacrau e, realmente... Sem perceber nada do assunto e sem saber nada do que se passa, será possível que a exuberância tenha sido maior que a capacidade de absorção presente na altura?

A profissão de palhaço é das mais delicadas que eu conheço. Por vezes a mesma anedota arranca gargalhadas numa sala e põe gente zangada na outra - cabe ao palhaço, num relance, avaliar a sala. Ás vezes engana-se, como toda a gente, e como é palhaço há sempre quem lhe chegue a roupa ao pelo.

Parece injusto mas se calhar não é: ser palhaço não é para todos mas todos podem ser alvo de palhaçadas.

Ps: Não vou dizer que dessa água não beberei (que frase horrível!) mas por enquanto, a chave está debaixo do tapete: entra quem quer.