Um dia, uma rapariga que estimo bastante disse-me que eu era muito mais interessante no virtual do que em pessoa. "Não somos todos?", respondi.
Ela ficou a olhar para mim, espantada. E eu para ela, igualmente espantada pelo espanto dela.
Nos blogues, nos comentários, nessa vida virtual, a coisa é fácil: escreve-se quando se está para isso e nem é preciso lavar a cara. Até se pode começar a frase antes do jantar e terminar depois de lavar a loiça - é realmente à vontade do freguês, fala-se com quem se quer, quando se quer, e com todo o vagar que se quer para burilar o discurso.
Na vida real não é assim, se a gente não lavou os dentes a mensagem perde-se no nojo do ouvinte. Depois, os desgraçados que nos acompanham na vida real têm de suportar a inspiração e a falta dela, conhecem o brilho da eloquência tão bem como os grunhidos matinais. E também nós não podemos, com toda a verdade, encarnar um desbragado cínico às 10:00 e um prudente contabilista às 10:30 - quem nos acompanhasse nas 2 ocasiões ficava baralhado e mandava-nos para Rilhafoles.
Como é que dizia o outro? "Pode-se enganar todas as pessoas durante algum tempo; pode-se até enganar algumas pessoas durante o tempo todo; mas não é possível enganar todas as pessoas durante o tempo todo."
No virtual, andamos a enganar (ou a ser completamente honestos, depende do ponto de vista) só algumas pessoas (escolhidas a dedo) e nem é durante o tempo todo (só quando estamos nessa disposição)...
Hélas!