Acreditem, o pior de tudo o que nos pode acontecer é parar.
Quem pára entra imediatamente em estagnação.
Os fungos da resistência à mudança explodem de vida, os neurónios entram rapidamente em inanição, as traças fazem uma festa desenfreada abrindo buracos no espírito, tudo se torna enormemente complicado, trabalhoso e sem interesse, a rotina, o sofá, a TV e o PC ganham o estatuto fantástico de necessidades de primeira ordem.
E arrancar, depois de parado? Estão a brincar?!? A inércia é incalculável. Os fungos demonstram uma estranha vitalidade vegetal, abafando o movimento. As traças abocanham os neurónios inertes, o sofá aparece em sonhos declamando I have a dream and you can have it too, just seat on me and think about it. Boo!, o PC sussurra "Anda cá, tenho o mundo que queres à tua espera" e a vontade fraqueja.
O esforço é hercúleo; a curiosidade, comida pelas traças, prima pela ausência. A necessidade não se revela e é tudo baseado nuns vagos conceitos de que "não se pode estar 20 anos a ver TV sem sentido" e "daqui a nada estou uma couve de Bruxelas num sofá plantada". O pior é que sabemos bem que sim, pode-se viver de TV. E nunca ninguém ouviu falar de couves de Bruxelas infelizes.
E embora um neurónio moribundinho tenha ainda a resistência suficiente para gritar "NÃO!", a verdade é que as pernas já não lhe obedecem.
Então quando as contingências da vida estão contra nós, é dramático. Se bem que toda a gente sabe que as contingências da vida são a melhor desculpa do mundo.
Enfim... Um dia disseram-me que o que conta é tentar. Eu não perguntei para que conta é que isso contava, tive receio da resposta. Mas há-de ser para alguma...
Hélas!