A filosofia é aquilo que nos permite sofrer nobremente.
A mais iníqua dor de barriga, fruto de excessos na véspera se calhar, torna-se reveladora de dores mais nobres e elevadas, que questionam a contigência do ser, a Natureza Humana, a alegoria da caverna e outros profundos assuntos.
O desgosto de não ter ganho a lotaria funde-se uno com a necessidade do ser vivo de gratificação e a felicidade de achar dinheiro no chão confunde-se com a satisfação de alcançar um objectivo, confuso e difuso como nos é habitual.
Quando eu peroro do alto do meu caixote que o Homem é um ser racional não pensem que estou com dores de barriga. Não, apenas reconheço que o Homem tem a necessidade intrínseca de justificar as dores de barriga que tem - a começar por mim, dá a volta ao mundo e acaba no meu vizinho do lado...
Se não as puder justificar nobremente, o Homem nega-as. E todos sabemos que há dores de barriga muito difíceis de negar, ao passo que filosofar acerca de dores - barrigais ou não - é simples, ocorre-nos naturalmente e facilita muito.
Penso que isto é uma coisa boa e que impele a Humanidade em frente, em vez de cada homem se agachar simplesmente atrás de um arbusto... É sempre bom por qualquer coisa mais a funcionar além do intestino - é uma questão de racionalização de investimento, estão a ver?
Hélas!
2 comentários:
O homem agacha-se sozinho mas não pensa sozinho: tem sempre alguém que saber o que ele pensa para depois lhe dizer se sim ou se não e ele não ligar nenhuma.
lenor, é um desperdício. se o Homem se agachasse acompanhado do seu vizinho de cima, alguma coisa se ganhava.
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