sábado, 28 de fevereiro de 2009

É tarde! É tarde!


Ultimamente faço tudo tarde e a más horas.

Ando a correr daqui para ali, pareço uma barata tonta de Sheltox - e permanece o facto de chegar sempre tarde e responder a más horas... Além de, ainda por cima, aparecer a ofegar da famosa pressa do atrasado. Uma figura patética e ainda por cima, cansada! Ora batatas, até parece que não conheço o efeito descansador de um cigarrito fumado em 3,5 minutos. Uma vergonha, uma verdadeira vergonha.

Isto preocupa-me um pouco: tarde e a más horas não é melhor que nunca, como toda a gente sabe; há muita coisa que ou vem a horas ou até era melhor que se escafedesse no éter. Acho que nem conheço nada concreto que seja melhor tarde que nunca, além do ditado - ou se calhar esqueci-me neste momento, não há mal, depois lembro-me de certeza. Mas amanhã ou se calhar depois de amanhã, tenho mesmo de analisar esta questão com maior cuidado.

Rais parta isto, vou comprar um frasco de vitaminas. Daqui a bocadinho vou à farmácia ou, se a coisa não der, vou durante a semana que vem. Juro.

Hélas!

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Uma história de Natal


Meados de um Fevereiro passado, um frio de rachar.

O miúdo pequeno, 5 ou 6 anos, estava na rua pela primeira vez, via-se. Notava-se na confiança com que se aproximava, na expressão inocentemente triste com que recebia as respostas dos condutores. A roupinha quase nova e muito limpa atestava um cuidado familiar amoroso que o tinha preparado para o serviço. Lembram-se quando vestiram a vossa cria para ir para a escola pela primeira vez? Era a mesma coisa.

Vendia pensos rápidos e agendas "baratinho, menina, baratinho!..."

Eu não quis. O sinal mudou para verde, eu arranquei - até hoje, passados anos, perseguem-me aqueles olhos enormes, inocentemente incrédulos na sua incompetência em ajudar a por o pão na mesa e a lenha na lareira.

Teria 6 anos se tanto e levarei a imagem da sua face comigo eternamente.

Não me venham com tangas de que "é necessário que perceba que isso não é vida" - a verdade é que um criança tão pequena não devia ter os sonhos desfeitos à beira de um semáforo, num Fevereiro tão frio. Tudo o resto são justificações do nosso egoísmo - hoje, não tenho qualquer dúvida que o que Dante nunca teve coragem de escrever é que há um nível no Inferno onde simplesmente somos olhados por incrédulos olhos inocentes.

Hélas!

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Filosofias II


A filosofia é aquilo que nos permite sofrer nobremente.

A mais iníqua dor de barriga, fruto de excessos na véspera se calhar, torna-se reveladora de dores mais nobres e elevadas, que questionam a contigência do ser, a Natureza Humana, a alegoria da caverna e outros profundos assuntos.

O desgosto de não ter ganho a lotaria funde-se uno com a necessidade do ser vivo de gratificação e a felicidade de achar dinheiro no chão confunde-se com a satisfação de alcançar um objectivo, confuso e difuso como nos é habitual.

Quando eu peroro do alto do meu caixote que o Homem é um ser racional não pensem que estou com dores de barriga. Não, apenas reconheço que o Homem tem a necessidade intrínseca de justificar as dores de barriga que tem - a começar por mim, dá a volta ao mundo e acaba no meu vizinho do lado...

Se não as puder justificar nobremente, o Homem nega-as. E todos sabemos que há dores de barriga muito difíceis de negar, ao passo que filosofar acerca de dores - barrigais ou não - é simples, ocorre-nos naturalmente e facilita muito.

Penso que isto é uma coisa boa e que impele a Humanidade em frente, em vez de cada homem se agachar simplesmente atrás de um arbusto... É sempre bom por qualquer coisa mais a funcionar além do intestino - é uma questão de racionalização de investimento, estão a ver?

Hélas!

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Uma bola de papel


Olhei para a folha de papel meio amarfanhada e ocorreu-me de repente que para se ser feliz seria suficiente encarar a vida como encaramos a folha: não acertámos no cesto e a bola de papel caiu no chão.

Não acertámos no cesto, é verdade, mas e então? Se tivéssemos acertado no cesto era giro, não acertámos e foi giro tentar.

Não acertámos no cesto mas nem o cesto nem a bola desapareceram e se quisermos, podemos sempre fazer o esforço de levantar o rabo da cadeira, ir buscar o papel e tentar novamente.

Não acertámos no cesto mas isso não adianta nem atrasa à natureza do cesto, ou da bola de papel, ou mesmo da nossa natureza.

Parece tão fácil, não parece? Ora batatas.

Hélas!

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

A contingência da Vida


É tudo tão difícil, as circunstâncias são desencorajadoras, a idade não perdoa...

Pois, pois, sei isso tudo. Também sei que é muito mais difícil aguentar os outros que aguentarmo-nos a nós próprios e tenho plena consciência que os frágeis que amamos são ou serão uma tremenda fonte de preocupação, trabalhos e desgostos.

Sim, também sei que não é justo, nada disto nos faz justiça a nós, fortes, direitos, que somos como alguém deve ser... Raios partam os outros (aqueles que não são como nós), raios os partam a todos, mas então eles não vêem?!? Bolas, que cambada de parvos!

Sim, sim, a vida dói a todos mas dói a uns mais que a outros, também sei isso. E a nós dói sempre mais, sabe-se lá porquê... O Outro ou é parvo, estúpido mesmo, ou frágil, ou doente, ou pior ainda, indefeso - o certo é que é a nós que dói mais, a eles dói também mas menos e além de tudo são assim: contam sempre com ajuda de terceiros. Além de que, invariavelmente, não percebem nada e julgam que são donos da Razão.

Cheguei - mais uma vez - à mesma conclusão que antes: cuidado com a nossa própria vaidade e auto-convencimento. É de longe, o maior e mais insidioso defeito.

Raios nos partam a nós.

Hélas!

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Arrefeceu


Que culpa tenho eu, que ultimamente até ando de casaco e tudo?!?

É a conjuntura, malvada conjuntura. Houvesse uma bruxa má que rogasse uma praga verdadeiramente horrorosa à conjuntura.

Estou farta da conjuntura. Nem acredito que não posso fazer nada para torcer o pescoço à dita, só coisas que me ralam.

Hélas!

domingo, 15 de fevereiro de 2009

O sol é quente


Está um glorioso dia de sol, neste inverno tão frio e chuvoso.

Mesmo sem sair de casa, olho pela janela e a alegre luz ilumina-me a alma. Não percebo como, sendo assumidamente notívaga, me faz tanta falta a alegria da quente luz do sol... Parece que só dou por isso quando a vejo mas esta luz traz consigo força, alegria e esperança.

Esta luz faz-me falta, sim - mas hoje não, que está um glorioso dia de sol.

Hélas!

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Ainda bem que sou Carneiro


Empresa recruta empregados consoante o signo astrológico: A oferta de emprego de uma companhia austríaca é clara: só se aceitam candidatos dos signos Capricórnio, Touro, Aquário, Leão ou Carneiro.[Expresso]

Já sabia que há muita gente que acredita na astrologia mas é a primeira vez que vejo esta fé...

Hélas!

Erro


Errar é humano. Mais humano ainda é atribuir o erro aos outros*.

Grande verdade, grande verdade. Se o erro fosse nosso, a malta dormia mal e a gente precisa de dormir. Assim dormimos melhor e acordamos cheios de energia para tentar corrigir esses desgraçados dos outros, palermas.

A Natureza é sábia. A natureza humana é um bocado mais estúpida mas ainda assim distingue perfeitamente entre uma boa noite de sono e uma noite sem sono nenhum, benza-a Deus!

Hélas!

* Anton Thekov

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Coisas tramadas


Há dias tramados, semanas tramadas, há meses tramados e anos tramados.

Vocês não acham que devia haver ginásios para isto?

Hélas!

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Intervalo


Esqueçam-se de mim.
Dêem-me tempo de Gestação.
Deixem-me chegar ao fim
Desta Transformação.

A Esperança foi afastada,
O Sonho passeia distante,
A Vida é apertada
Entre Mais, Menos e Bastante.

O Dia é curto e comprido,
O Espírito olha e hesita.
Na tontura do Vivido
O Futuro periclita.

Esqueçam-se de mim.
Dêem-me tempo de Gestação.
Deixem-me chegar ao fim
Desta Transformação.

Hélas!

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Verdades verdadeiras


Um dia, alguém me disse que "As pessoas não estão interessadas em entenderem-se, só estão interessadas em ter razão.". Esta frase ficou-me no espírito, pela sua simplicidade cheia de profundezas.

Ele tem razão, como é óbvio - mesmo quando as pessoas se querem entender, só o farão depois de se lhe ter reconhecido a razão, só nessa altura estarão livres e desimpedidas para trabalho em conjunto.

E as profundezas que daqui nascem são Dantescas, auto-análise, estratégias de manipulação, auto-estima, humildade, orgulho, conhecimento - auto e alheio - , o que quiserem.

Um tortuoso labirinto de Deve e Haver.

Hélas!

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Fantástico


Dei-me de repente conta do desregrado uso que ando a fazer da palavra fantástico.

Ele é fantástico isto, ele é fantástico aquilo, vocês não acham fantástica esta fantasia?... Tudo é fantasticamente fantástico, um enjoo miserável de fantasticidade.

A língua é tão rica, porque diabo ando eu presa ao fantástico?!? Caramba, alguém me devolva a normalidade se eu não a conseguir sozinha. O meu espanto continua presente, claro, mas há tantas palavras mais... Bolas, que de vez em quando tenho saudades da escola. Onde nos ensinam sem trabalho.

Hélas!

O Fogo do Lar


Observem a lenha da lareira com atenção.

Peguem num dos troncos. Revirem-no, verifiquem a sua perfeição posta em relevo pelos nós na madeira, pela falta de lisura e pelas linhas tortuosas. Admirem a sua unicidade, não há dois tocos iguais. Passem os dedos pela superfície áspera e maravilhem-se pelo calor que, não existindo de facto, também não está ausente... Admirem as subtis mudanças de cor num pedaço tão pequeno que mal representa a unidade de onde veio.

Peguem noutro tronco e comparem: são os dois tão fantasticamente belos, com uma beleza comum que, apesar disso, é absolutamente única!

Meus amigos, a Beleza é uma coisa fantástica. Aquece a alma.

Hélas!

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Felicidade


Pensem nesta questão: que vos faria felizes?

A paz no mundo? Uma nova Madre Teresa? Uma pacífica solução israelita/palestiniana? Indústrias e carros não-poluentes? A morte da pedofilia? O desaparecimento de Mugabe? Saldos verdadeiros? A erradicação da malária? Uma beleza estonteante? A cura para a Sida? Ganhar o Euromilhões?

É fantástico como entregamos a felicidade a coisas fora do nosso controlo.

Hélas!

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O rato e o leão


O rato é um animal tímido, prefere fugir e esconder-se quando se sente observado, é fugidio e prudente. Mas é persistente; foge perante o perigo não avaliado ou avaliado como demasiado perigoso mas espreita logo a seguir para ajuizar se o tal perigo já se escafedeu e já pode fazer o que quer...

Não o encurralem que vira fera. Arreganha os dentes e ataca com coragem, seja qual for o tamanho do atacante; se quiserem ver o espectáculo degradante de um ser vivo encolhido a chorar misérias e implorar misericórdia, nao peguem num rato porque ele não o fará. Se houver uma aberta, foge lépido e só não deita a língua de fora porque não é essa a sua linguagem; mas se não houver, morre lutando. O que um rato nunca faz é deitar-se de costas e sujeitar-se ao destino.

Eu gosto de ratos. Gosto mais de leões, que rugem à trovoada em vez de fugir ao perigoso e desconhecido barulho, mas também gosto de ratos. Agrada-me a sua recusa à rendição.

Hélas!

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Pavlov?


A coisa passa-se assim: estou eu com os meus azeites, a boca azeda da limonada, viro-me estúpidamente agressiva a quem não me fez mal (é sempre assim, não é? Reflexão para outro artigo, caramba que tenho mesmo de aprender a tomar notas!) e, em vez da óbvia reação defensiva, obtenho... Um sorriso quente. Uma frase gentil. Uma coisa assim de quem nem notou a agressividade, a violência gratuita e vil.

É um bocadito difícil de explicar mas imaginem que estão zangados com o mundo e dão um encontrão a alguém e esse alguém, em vez de se firmar nos pés para não cair, estende o braço e tenta ajudar no que lhe parece um desiquilíbrio, não um encontrão. É completamente diferente de quem sentiu e quis perdoar, não tem nada a ver com alguém que pesou, mediu e decidiu que não se devia zangar. É uma coisa diferente, um impulso natural.

Nessa situação, olhem, eu liquefaço-me... Enrola-se-me a língua, o coração aquece, os pés fraquejam e o juízo volta a si. Mas, pensando bem... Será que reparo sempre ou depende da limonada? Quantas vezes terei eu empurrado brutamente alguém sem notar e sem notar passei por cima do sorriso gentil e da frase calorosa? Ajudando, com a minha falta de atenção, à extinção de uma espécie milagrosa?

Caramba, uma pessoa pode tão facilmente dar em doida.

Hélas!

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Idade avançada


Os anos são uma coisa tramada.

Quando temos poucos, tudo acontece por milagre; juntamos mais uns quantos e achamos que há malta (a mamã, o papá...) que faz milagres; mais uns poucos e acreditamos que somos nós os capazes de fazer milagres, com a nossa vontade, teimosia e esforço; depois chegamos a velhos e deixamos de acreditar em milagres. O que quer dizer que também deixamos de reconhecer os milagres que de facto acontecem.

Com a minha idade avançada, eu estou nessa última fase, o que me chateia. Já não basta saber que não sou capaz de fazer milagres, ainda por cima tenho de reconhecer as minhas próprias cataratas?!?

Só coisas que me ralam.

Hélas!