segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Natal


Como se justifica a nós próprios uma escolha que, seja ela qual for, é má para alguém?

Se escolhermos uma opção, a escolha magoa um. Mas se escolhermos a outra opção magoa outro…
Pura e simplesmente não há escapatória – saímos sempre a perder e vamos sempre magoar alguém de quem gostamos.

Esta é a dança impossível: devemos escolher o alguém de quem se gosta mais - para magoar o outro, de quem também gostamos mas menos.
Como raio se pode fazer uma escolha destas? Medir a coisa informe, pesar as gramas do bem etéreo?...

Mas é sempre feita a escolha - sei perfeitamente que, de forma activa ou passiva, a escolha é sempre feita e terá as consequências devidas.
Só um cobarde pensa que fazer nada não é escolher e eu sou muitas coisas mas não essa espécie de cobarde. Outras talvez mas não essa.

Este é um Natal onde não terei a prenda desejada: alguém que me dissesse “não te preocupes, eu tomo conta desse assunto, vai lá descansada ao teu Natal que ninguém sairá magoado” e fizesse isso mesmo.

Suponho que é apenas um azarito – há montanhas de gente que morre por não ter a água que precisa para beber. E eu tenho muita pena delas mas não apanho um avião para lá, com um carrego de água engarrafada.

A escolha está feita. Quem sabe, um dia perdoarei a mim própria por ela.

Hélas!

6 comentários:

Blimunda disse...

Estou convencida de que fizeste a escolha que magoaria menos a ti saber que magoaria o outro. Não se trata de magoar menos este ou aquele mas sim de moagoar menos a nós magoar o outro. Porque é sempre de nós que se trata. O último parágrafo do texto resume e valida o que acabei de escrever.

mac disse...

Repito o que já te disse uma vez, Bli: o egoísmo é como as doenças, se procurares com afinco suficiente descobres sempre alguma coisa... Mas este artigo não era para me armar em boazinha que não quer magoar ninguém, a sério que não era.

Isto foi para desabafar sobre o processo de fazer uma escolha difícil, daquelas em que a escolha nunca é satisfatória. E mesmo sabendo disso, temos de escolher na mesma...

Blimunda disse...

Eu sei, amiga, eu sei. Sabes que eu acredito no egocentrismo. Eu acho que tudo gira em torno do indivíduo e não quero, com isso, dizer que se trata de puro egoísmo. É que é mesmo assim. A dor que possamos causar ao outro é a nós que dói e é em torno dessa dor que giramos. Ora para a minimizar ora para a aumentar, só depende de nós ou das nossas escolhas e decisões, se preferires. Não quis dizer que foste boazinha ou mazinha, quis apenas dizer que, tenhas sido o que foste, foi em teu benefício ou em teu prejuízo, nunca dos outros.

Marques Correia disse...

Sem menosprezar as tuas elucubrações e as "magoações" em que incorres contra uns para poupares outros (poupar=magoar menos), repara que não tendo a prenda desejada (outro que tomasse conta do tal assunto), tens uma rica prenda de consolação: tens quem (melhor "quens"), não se ocupando do tal assunto, te permite dedicares-te a ele quase em exclusivo, como achas que deves.
E isso na boa, sem fretes nem sacrifícios.
É fixe, hã? ;)

mac disse...

Ora batatas, Bli, claro que tudo gira em torno do indivíduo, é ele que pensa, sente, faz e diz.
Uma vez que é sempre assim, isso não é relevante; relevante é a medida em que o seu próprio bem-estar interfere nas suas decisões.

Marques Correia, não julgues nem por um segundo que eu não estou perfeitamente ciente dessa oferta.

Marques Correia disse...

:)