sábado, 2 de outubro de 2010

O outro


Nunca nenhum outro pode ser nós e vice-versa. Ninguém sente as nossas dores como nós, assim como nós somos incapazes de sentir a dor dos outros como ele as sente; as dores dos outros são sempre mais fáceis, mesmo quando reconhecemos que são difíceis e dolorosas. Por vezes até achamos que eles escolheram aquele destino, o que de uma forma tortuosa nos iliba de não nos sentirmos tão mal quanto nós próprios achamos que nos devíamos sentir mas não sentimos...

Quando se desabafa com alguém e se conta o infortúnio, o resultado é sempre igual: quem desabafa tem um alívio temporário mas fica tudo na mesma. É mais ou menos o mesmo que quando se vomita por causa de uma intoxicação alimentar: há um alívio pontual mas depois continuamos tão mal como antes.

Vai daí que aqueles que ajudam mais gente são aqueles que não se identificam com ninguém, solitários na sua alta esfera. São esses que conseguem ajudar o José à 2ª feira, a Maria à 3ª feira, o Manel à 4ª feira, o Jaquim à 5ª e a D.Florípedes à 6ª: ao sábado saem com a família e ao Domingo descansam, como o Senhor.
Qualquer outro ficaria assoberbado só com o José, que precisa de ajuda todos os dias - aliás como os outros todos.

E depois, pergunta-se. Sim, e depois? É melhor ajudar o José todos os dias ou fazer como o altaneiro benfeitor, que ajuda tanta gente? É certo que o José se suicidou numa 5ª feira mas em contra-partida o Jaquim não, nesse dia até se riu com aquela falta de dentes tão cómica.

Eu não faço a mínima ideia, julgam que foi para isso que andei a queimar as pestanas?!? Eu cá estudei electrões e mesmo disso só aprendi que são tímidos.

Hélas!

6 comentários:

Fátima Santos disse...

eu nem sei se é isso se outra coisa
sei que há biombos que a gente não desvia e se interpõem como muros de aço

Mofina disse...

Quem é o outro? Quem somos nós?

Marques Correia disse...

Curti bué a D. Florípedes...

mac disse...

Maria de Fátima, são ilusões de óptica, não te deixes enganar com o que vês.

Querida Mofina, parece complicado mas é simples: o outro é quem nós não somos e nós somos quem não é o outro.

Marques Correia, pareceu-me mal ser a D. Joselda!

Blimunda disse...

Acabei de aprender uma coisa nova: que os electrões são timidos. Agora não te esqueças de vir com a história de que foi o outro que o disse!

mac disse...

Muito tímidos até, Bli, se bem me alembra...