sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Dúvida


Está internada outra vez.

Desta feita vai dormir na maca - não havia camas livres. Vá lá que não foi preciso ficar no corredor, a sua desgraça exposta publicamente a quem passa. Mas não, arranjaram uma parede livre numa camarata cheia: as pessoas que trabalham nos hospitais não são de forma alguma desumanas. Aprendem a defender a sua sanidade mental contra a rudeza da realidade mas, sendo possível, evitam instintivamente agressões à dignidade humana.

Devo ficar agradecida pela parede protectora ou furiosa por uma pessoa velha, frágil e doente, acamada há mais de um mês, passar a noite - e será só uma? - numa maca, coisa concebida para se estar um par de horas mas onde ela já está há mais de 10? Um colchão firme - duro, para frágeis ossos com pouca carne! E se eu começar a raciocinar que são ossos e pele já martirizados por tanto tempo de inactividade forçada, formam-se nós onde eu nem sabia que havia corda. É uma área escassa e escorrega-se por ali abaixo até os pés entrarem pelos espaços existentes do fim da maca, coisa impossível de desenvencilhar no actual estado de confusão mental.

Definitivamente não é adequado a uma descansada noite de sono. Mas talvez a exaustão de um dia passado nas Urgências disfarce o incómodo... Espero.

Ainda não consigo mandar tudo e todos às urtigas, fazer tábua rasa de tanto anos de tanta gente na Faculdade de Medicina, borrifar-me para os estudos relevantes e estatísticas de hospitais. Mas já estive mais longe, confesso.

Hélas!

4 comentários:

Mofina disse...

:(((((

Não é justo nem concebível. Porque já basta a doença, todos os hospitais deviam ser hotéis 5 estrelas. Uma utopia,mas...

mac disse...

Mofina, a mim já me bastava uma cama vulgar com um colchão normal, uma mesa de cabeceira e uma cadeira. E isto nem me parece ser uma utopia...

privada disse...

Vão-me perdoar, mas ainda assim, acho que belo é o caminho, vou confessar-vos um dia, muitos dias fiquei no hospital, e nem um só dia entendi porque tinham tanta pena de mim, se tinha dores não as sentia, e a minha cabeça, estava sempre num patamar, que nunca mais atingi, uma idiferença de fazer corar o Buda. E todos eram tipo imagens de um filme, eu nao tinha nada a ver. Ok. prontos. Não sou insensivel, mas pelo menos comigo, estar no hospital foi muito interessante. Para os outros é que foi dificil, mas nunca entendi bem porque tanta aflição e choradinho.

mac disse...

Estavas confortável, privada...
O problema é quando não se está confortável.