quinta-feira, 29 de abril de 2010

Tempus fugit


Os dias passam.

E esta é que é esta: os dias passam. Assim, assado, desta forma ou daquela, os dias passam, passam sempre, indiferentes e imparáveis.

Com eles passa muita coisa, nem indiferente nem imparável, antes modelável no instante x ou alterável no y; mas eles, os dias, esses passam soberanamente exteriores a tudo, suficientes neles próprios.

Hoje olhamos para ontem e não reconhecemos quase nada: Como é que foi possível?, Eu disse assim?!, Pensei isto, eu?!?

E os dias passam, tão completamente alheios que nem se riem.

Caraças, que falta de humor.

Hélas!

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Vida VI


Porque é que é tão difícil lidar com a vida?

Palavra que às vezes ainda fico espantada. A vida acontece a todos e todos a vemos todos os dias, aqui, ali, acoli, com este, aquele e o outro. Porque raio nos há-de espantar quando calha a nós, quer dizer, pelo menos àqueles que, pelos anos em que cá andam, já viram o filme várias vezes?

Dificuldades, ok. Mas espanto?? Somos mesmo burros, ora batatas.

Hélas!

terça-feira, 27 de abril de 2010

Miss


Se eu tivesse menos 35 anos, a barriga chata de quem nunca pariu, pestanas deslumbrantes, dentes colgate e fosse uma candidata a miss qualquer coisa, o meu desejo explicitado nunca seria "paz na terra". Que tontice!

Seria "pessoas em paz", o que é muito mais impossível e portanto, muito mais apelativo de simpatia pela gira tontinha.

Hélas!

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Injustiça


Não se pode viver à sombra dos desastres prováveis porque não se vive, morre-se devagarinho. Mas também não se deve ignorar a beira da falésia, é irrazoável e imprudente.

É injusto, isto. Gostava tanto de ser uma rapariga equilibrada!

Hélas!

sábado, 24 de abril de 2010

Ora, batatas


Somos todos tão sei-lá-o-quê, grãos de areia no meio da praia...

Que venha o mar, que venha o mar para nos lavar e levar na onda, inocentes de acção, perdidos de olhos-no-umbigo e alheios ao mundo. A nossa dor é sempre a maior e com razão, pois a dos outros não nos dói assim.

Mas o mar é imenso e tudo lava da mesma forma, seja branca ou de cor. No fim, fica tudo limpo, tudo da mesma cor incógnita e tudo livre de culpas de acção; que sossego, que paz!

Só não sei se depois não preferia estar suja, raios partam a natureza humana.

Hélas!

terça-feira, 20 de abril de 2010

Azares da vida


Há alturas na vida em que eu gostava imenso de acreditar em bruxas, búzios, "trabalhos", mau-olhado, enfim, toda essa panóplia de coisas fáceis que justificam os azares da vida.

Ia a um desses curandeiros cheios de recursos, pagava, claro, e voilá! A vida voltava à normalidade, simples e feliz.

Em vez disso, acredito que acontecem azares à gente, sem culpas e sem razões maiores que o facto de todos sermos gente e as gentes terem uma natureza falível - as coisas acontecem quando acontecem e a quem acontecem e pronto.

Que chatice. Se calhar ponho um processo aos meus pais, por não me terem criado a acreditar em bruxas. Bem mereciam esse azar, não acham?

Hélas!

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Crime e castigo


Não sei porquê mas há alturas em que parece que o castigo cai sempre sobre quem não cometeu crime nenhum.

Definitivamente algo está mal, ou o mundo ou a minha percepção dele.

Hélas!

domingo, 11 de abril de 2010

Quem me dera


O perfume das flores é leve e honesto,
Ah! Quem me dera sentir o perfume das flores!

O riso das crianças é leve e honesto,
Ah! Quem me dera ouvir o riso das crianças!

A lambedela do cão é leve e honesta,
Ah! Quem me dera sentir a lambedela do cão!

Quem me dera a graça de estar lá,
quando a flor exalou, a criança riu, o cão lambeu.

Quem me dera, quem me dera ter lá estado,
E ser feliz assim, sem mais nada.

Hélas!

sábado, 10 de abril de 2010

Adeus


Partiu ontem alguém de quem eu gostava, uma velhinha corajosa a quem a vida tratou com especial dureza e que, apesar de tudo, se manteve activamente humana e alegre.

Adeus, tia. Foste capaz de mostrar que é possível fazer laranjadas com limões, sejamos nós capazes de o aprender.

Hélas!

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Aniversário


Caramba, que estou cansada. Tantos anos a semear couves!

Hélas!

quarta-feira, 7 de abril de 2010

O ópio da vida


Eu sou do tempo em que o Futebol era o ópio do povo.

O Estado, os Poderes Públicos e os Privados promoviam o Futebol para adormecer nas futilidades clubisticas a racionalidade que poderia tirar o povo, a massa anónima, todos os Joaquins, Antónias, Zés e Marias da mediocridade que lhes era imposta insidiosamente.

Nesse tempo, o Telejornal durava meia hora e os últimos 5 minutos eram dedicados ao desporto rei, com os fantásticos da hora a debitar frases cheias de erros de gramática, de cultura e de razão mas ainda assim capazes de incendiar o coração dos adeptos.

Eu sou do tempo em que o Futebol é religião.

O Estado, os Poderes Públicos e os Privados são promovidos pelo Futebol e fazem gala disso, submissos à vontade do povo que quer que o seu clube ganhe pois a luta, quiçá a vitória, aligeira o trabalho de ganhar o pão e dá sentido aos dias.

O Telejornal hoje dura mais de uma hora. Abre com notícias da bola, passa por uns colarinhos brancos a debitar inanidades, depois umas bombas mas só se se puder ver os mortos ou a família chorosa. A meio - não se pode deixar a audiência desmobilizar - umas bocas dos fantásticos da hora que já não dizem asneiras gramaticais mas continuam inócuos, depois mais uns mortos e outros chorosos e fecham com chave de ouro, os golos de anteontem, ontem e hoje, para rever.

O ópio ganhou. Aliás, as drogas ganham quase sempre.

Não serei do tempo em que o Futebol seja o que é: um passatempo.
Um tempo em que o Telejornal dê a conhecer factos em vez de opiniões e não dê Futebol, que poderá ser apreciado livremente noutro local e com todos os pormenores mas sem dar aqueles ares de notícia ao mesmo nível que um qualquer concurso internacional de invenções bizarras.

Hélas!

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Páscoa


Meu Irmão, hoje abandonaram-Te.

Bem sei que as trinta peças foram um pretexto, a razão perceptível para que os homens não façam perguntas insuportáveis; bem sei que dói de forma profunda amar o Sonho, partilhar o Sonho e não compreender o Sonho; bem sei que essa dor leva o homem a coisas terríveis. Sim, acho que sei isso tudo.

Permanece o facto de Tu teres sido abandonado. Tu, entre todos...
Como poderei chorar a minha sorte, qualquer que ela seja, quando Tu foste abandonado? Eu preciso de chorar a minha sorte e sentir-me injustiçada mas como é que o posso fazer quando Tu foste abandonado? É Tua a culpa de eu não poder chorar a minha sorte.

Meu Irmão, dói-me ter-Te abandonado, dói-me abandonar-Te todos os dias, dói-me a Tua tristeza, a Tua solidão, o Teu desgosto e é Tua, a culpa da minha dor.

Hoje abandonaram-Te e eu que Te amo, abandonei-Te também. Depois de amanhã, chorando, suplicarei que não me abandones Tu a mim.

Meu Irmão, meu Irmão... Hoje abandonei-Te, meu Irmão. Desculpa.

Hélas!

Colectânea pascal


Não há alegria? - Então pensa: há um obstáculo entre mim e Deus. Acertarás quase sempre.
[Josemaria Escrivá]

O tempo que passas a rir é tempo que passas com os deuses.
[Provérbio chinês]

O riso é a distância mais curta entre duas pessoas.
[Victor Borge]

Aquele que reprime os ímpetos da cólera estará a coberto de qualquer perigo. É conveniente saber sufocar, ou ao menos moderar, a cólera, o temor, a tristeza, a alegria e outras agitações profundas que podem alterar a rectidão da alma.
[Confúcio]

O desgosto e a alegria dependem mais do que somos do que daquilo que nos acontece.
[Multatuli]

No coração humano, os prazeres não mantém entre si as relações que os desgostos aí conservam; as novas alegrias não fazem renascer as antigas, mas as dores recentes reverdecem as outras.
[Pierre Ronsard]

Apesar do Direito Universal à Alegria eu não a possuo. Vou requerer a reforma antecipada com base em deficiência profunda.
[mac]

Hélas!