Para quem não sabe o que é um círculo, eu explico: é um caminho em que por mais que se ande, não se chega a lado algum. Um círculo pode ter início mas não tem fim - depois de fechado, quem nele anda está condenado a andar por toda a vida sem nunca sair do mesmo sítio.
Eu em tempos pensava que um círculo se podia romper sem violência, com uma acção determinada e consciente, delicada mas definitiva. Parece que não, afinal.
É a terceira vez que tento (dizem que à terceira é de vez, não dizem?) e, tal como das outras vezes, o Universo actua e dou comigo no mesmo podre e familiar trilho.
Ainda não desisti - persistência é o meu nome do meio - mas a próxima tentativa terá de ser violenta e destrutiva. Não sei se sobrevivo inteira mas apodrecer em vida parece-me bem pior.
Hélas!
15 comentários:
E se for um triângulo, ou um quadrado, ou um hexagono, também não se chega sempre ao mesmo sítio? Se calhar é o mesmo, mas menos monótono.
Alferes, realmente, é bem verdade, isso; mas parece-me que onde há esquinas é sempre mais fácil sair do trilho...
O terrível do círculo é que nos parece que estamos a andar em frente.
Mac, não estará a confundir círculo com espiral?
Suba até se libertar!
Mofina, acho que não... A espiral tem evolução. Se passamos, uma, e outra, e outra vez pelo mesma paisagem, sem qualquer diferença de perspectiva... É definitivamente um círculo.
Como andei a poupar para um dia de chuva, penso que consigo pagar...
daí, minha cara, eyu preferir as conversas quadradas ...
Eu sou o peixinho vermelho e a minha vida é maravilhosa! Dentro do meu universo vejo tudo o que se passa à minha volta, e não me privo de andar o dia inteiro a descobrir o mundo. Para evitar a monotonia do dia-a-dia posso, quando quiser, dar uma volta no sentido contrário dos ponteiros; afinal também tenho direito de me distrair!
Do mundo à minha volta, posso falar; Eu sou um espectador de tudo o que acontece, nenhuma entrada me escapa, vejo tudo, oiço tudo e, como é mais do que óbvio, esta posição privilegiada dá-me, penso Eu, uma capacidade além do normal na compreensão do que me cerca. Do amanhecer até ao silêncio da noite, vejo quem entra, quem sai, sem dar por isso, continuando a minha volta como de se nada fosse, aponto o humor de cada um. Por exemplo, posso dizer que na Segunda-feira passada a vontade de ir trabalhar era pouca para cada um. Eu vi caras mal-humoradas, cabelos em pé, bocas torcidas, olhos ainda cheios de sono. Nada a ver com as mesmas caras na Sexta-feira à noite, quando foram todos jantar fora. Sorriso nos lábios, olhos risonhos, aproximação de “mister and miss” para um beijão grande e afectuoso. Eu vos digo, nada me escapa do que vejo. Também oiço tudo, mas não digo nada. Aliás deve ser por isso que toda a gente continua a falar à minha frente. A confiança adquire-se, com o tempo e o comportamento apropriado.
Eu não saio do meu círculo infinito, vejo e oiço tudo, tenho ideias sobre tudo, as más-línguas dizem ao modo de Coluche que “sobretudo tenho ideias”. É a minha vida de peixinho vermelho.
Maria de Fátima, podem ser redondas, desde que tenham fim.
RJLB, devo estar lerdinha mas não percebo o ponto...
Nunca percebi a questão magna e grave de andar em círculo.
Acho que o andar em círco não é um problema em si: o problema está no diâmetro (e no consequente perímetro) do dito.
Andar em círculo sobre um paralelo (nem tem que ser o Equador)dificilmente será uma experiência pouco variada e monótona (não falo de andar em órbita à razão de meia dúzia de órbitas por dia...).
Já sei que não é disto que estás a falar, mas a usar uma figura de retórica.
. . . .
Nesta vida, quando queremos mudar de vida com um mínimo de segurança (que é uma espécie de freio dos pobres, ai de nós) temos que tentar e tentar e tentar, uma vez que o caminho marcado de tentativa-erro nos está vedado: o erro pode ser a morte do artista e deixar-nos à mercê da crise, tenha ela o nome que tiver.
Ganda porra!!! (helàs?)
Andar em círco? eheheh, fugiu a boca para a verdade....
Fora de brincadeiras, hélas!
"Eu em tempos pensava que um círculo se podia romper sem violência, com uma acção determinada e consciente, delicada mas definitiva. Parece que não, afinal." e pergunto eu: quem disse? Claro que pode! Trá é que, além de determinda, ser a tal acção determinante também e ter a certeza absoluta de que é isso que quer fazer - sair de dentro do círculo. Digo eu, que não faço outra vida senão dar voltas no círculo deste malfadado circo.
Blimunda, digo eu, ancorada em experiência. E só está na nossa mão ser determinada, determinante já é outra coisa, sujeita a outos ventos e regras...
?Quem é que alguma vez na vida teve a certeza absoluta do que quer que seja? àparte o JC, claro.
Estávamos lá, num dia de forte calor. Num céu de um belo azul de verão, as poucas nuvens estavam estáticas e atenuavam a intensidade do sol que reinava e parecia projectar o seu esplendor sobre a totalidade da terra, obrigando-nos a parar para aproveitar a sombra de um grande carvalho mestre de um bosque.
O sítio era agradável, no quadro limitado pelo horizonte que no Alentejo alarga de facto a nossa visão de tudo, as casas juntas lá no fundo do prado confundiam-se com um rebanho imóbil à espera que acabasse o calor do dia para se pôr a andar. Alguns sons de répteis à procura de melhor conforto, ouviam-se ao mesmo tempo que se viam as folhas e as ervas secas e queimadas a mexer. Tudo isso numa bolha de cheiros múltiplos que a natureza fabrica em segredo durante o verão.
Estávamos lá, de pé, neste quadro, quando ela apareceu. Parecia ter vindo de nenhures, mas após reflexão, e relembrando-me do acontecimento, penso que devia ter ficado escondida algum tempo, para nos avaliar. Ela aproximou-se olhando fixamente para nós, a cara quadrada, o ar sério, de pé e firme na sua postura. Agora, depois todo este tempo, tenho a certeza ou quase a certeza, que ela sabia que antes de parar aqui para aproveitarmos a sombra, estávamos a conversar sobre as características do círculo. De facto era verdade! Uns diziam que o círculo era uma forma estética em relação à sua redondeza e de uma grande eficácia, e outros achavam que o 8 era mais bonito, mais perfeito, uma figura do infinito.
Assim, depois de ter olhado para nós com uma grande firmeza, ela virou-se, deixando-nos cara a cara com o seu rabo, sem vontade aparente de molestar alguém, sem pestanejar. Ela estava unicamente a preparar-se para uma demonstração pedagógica da superioridade do círculo sobre o 8. De costas viradas, o rabo apontado na nossa direcção, ela marca uma pausa, deixando aproximarem-se os mosquitos que se encontram nos bosques. Ela começou a agitar o seu rabo, iniciando simples movimentos de balanço, e ganhou velocidade. Em paralelo, a horda de mosquitos, começou a manifestar-se, cada mosquito descrevendo figuras complicadas, uma grande quantidade deles fazendo no ar e vezes sem conta um 8. Após ter feito a sua selecção, de repente o rabo abandonou a sua corrida e de um só golpe deu cabo de uma multidão de mosquitos. Os 8 ficaram em grande parte desfeitos, enquanto o rabo voltou a fazer alguns círculos, esta vez de paz e de tranquilidade. Ela voltou a virar-se, e nitidamente, podíamos ler nos seus olhos o provérbio “ Contra factos não há argumentos”.
Ficamos boquiabertos, afinal tínhamos a nossa resposta, o círculo é de facto uma figura bonita, estética, eficaz e de paz.
De longe podíamos ouvir gritar “Margarida, Margarida.”. Era o camponês que procurava saber onde estavam as suas vacas.
Margarida deixou-nos, o seu passo era sereno e calmo, e lá se foi embora para se juntar ao resto do gado.
Nós voltamos para o nosso carro, e durante todo o resto da viagem andamos a ruminar sobre a espectacular demonstração da Professora Margarida.
Está no meio do jogo e tem mais é que jogar, não há cá lamentações, ou passa o nivel, ou passa o comando.
A técnica desse desafio é não deixar cair o circulo, se pára o circulo caí, se roda a anca, o circulo gira em seu torno.
Pode ainda optar por vencer na estrategia bota botilde, um circulo preso a um fio, preso a uma bota, mete o circulo no pé e roda, e salta sempre que aparece a bota.
Não pode nunca é parar de jogar.
privada o gugu, sim, definitivamente é esse o caminho. Vou tentar outra vez!
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