domingo, 15 de março de 2009

Stress urbano


O bebé dormia pacificamente, no banco de trás. A sua respiração calma não fazia ruído.

O homem ia embrenhado em pensamentos e preocupações. Tinha tanta coisa para fazer! Se aquilo não corresse bem de manhã, era certo e sabido que seria chamado a prestar explicações que na verdade ninguém queria ouvir. Eles queriam resultados, não queriam compreender a falta deles.

E não se podia esquecer de tratar também do outro assunto, no fim da semana era a deadline, isto de andar sempre a trabalhar no fio da navalha criava uma ansiedade permanente... Será que a rapariga tinha tratado dos documentos todos que ele lhe tinha pedido? Tinha de confirmar, seria muito mau se faltasse qualquer coisa.

Ah! E tinha de telefonar àquele tipo, nunca mais entrega as coisas, isso vai dar chatice de certeza, vai ficar tudo atrasado e depois ainda têm de se apressar mais!

Chegou ao escritório e apressou-se; havia tanto para fazer!

O bebé morreu. Como se sobrevive a isto?!?

Hélas!

11 comentários:

teresa g. disse...

Que sirva de reflexão, poderia muito bem acontecer à maioria de nós...

Luís Maia disse...

Poderia acontecer a qualquer um de nós, mas a reflexão mais importante, digo eu, é perda de prioridades que a vida nos obriga a enfrentar.

A frio toda a gente concorda que não há nada mais importante, que a vida dum filho, ou o seu bem estar.

Talvez por essa razão e por respeito pela imensa dor que deve sentir esse pai, custa-me atirar-lhe uma pedra.

Fátima Santos disse...

é
esta foi uma das notícias que eu engasguei sem poder (conseguir ) falar dela - é assim quando dói ou não entendo
nada mais acrescento que escreveste muito bem

Marques Correia disse...

Meninos, meninas,take it easy!

A vida tem destas coisas e os desastres quase sempre estão na ponta de uma enfiada de circunstâncias. Bastava uma falhar e o dessatre não ocorreria.
Havendo todos os dias milhões e milhões de pais que levam os filhos à escola, alguns deles levam um único filho; nalguns desses casos, os filhos são bèbés e vão, por força das novas leis, no banco de trás, voltados para trás.
Alguns desses pais levam a criança esporadicamente, fora da rotina diária, no meio do stress do dia a dia na empresa.
É só esperar um mês, um ano, dois anos, para o acidente ocorrer.
Até já aconteceu duas vezes no mesmo dia...
Pobre criança, pobres pais.
. . . . .
Felizes de nós outros que já temos as nossas crias muito para além dos 20's; quando levarmos os nossos netos à escola ou à creche, esse acto será o acto central da nossa manhã, a razão de ser do nosso dia.
Não há hipótese de falha!

saphou disse...

Fica-se sem palavras.

Nuno Almeida disse...

Poderia, de facto acontecer a qualquer um de nós, mas não deixa de ser, na minha opinião, indesculpável.

Onde é que chegamos que as nossas prioridades mudaram desta forma brutal que nos leva a esquecer o que temos de mais importante?

Não imagino sequer o que estará a passar aquela família, em especial o pai, mas não consigo aceitar.

Blimunda disse...

Maria de Fátima, se me permite, faço das suas as minhas palavras - simplemente engasguei mas garanto-lhe Mac que assim que ouvi a notícia fiz-lhe exactamente a mesma leitura. A criança morreu, mas o pai começou a sua dolorosa morte lenta da pior forma possível na hora em que teve conhecimento do seu fatal esquecimento. Quem somos nós, Nuno, para julgar uma falha humana deste calibre, nos dias de hoje?

Marques Correia disse...

...somos pessoas que vivem, muitos de nós, mergulhadas no dia a dia "moderno", com milhentas solicitações a que não conseguimos responder, importantes e urgentes não só para nós próprios mas também (principalmente?) para os que de nós dependem.
Estamos, pois, em boa posição para compreender, desculpar (ou não), avaliar, julgar.
Julgar, claro!
. . . . .
Só uns pormenores (do Público):
- nos States ocorrem 15 a 25 casos destes por ano, desde que os putos passaram a viajar no banco de trás;
- já houve um dia em que ocorreram 3 "casos" (num verão);
- num dos casos, a mãe, depois do trabalho foi ao infantário buscar a criança e só então se apercebeu onde ela esteve o tempo todo, incluindo durante a viagem trabalho - infantário.
Não dizem (e era muito importante) quantos near missing ocorreram ...

Nuno Almeida disse...

Blimunda, tem toda a razão. Não somos ninguém para julgar os outros, pois, como disse, pode acontecer a qualquer um de nós, mas isso não torna, pelo menos para mim, desculpável.

Tenho a certeza de que o pai vai sofrer mais do que a criança possa ter sofrido.

Alferes disse...

Só consegui pensar: "Que Deus nos proteja!". E, francamente, não consigo pensar mais nada.

mac disse...

Pessoal, aqui e ali, acho que concordo com todos...