domingo, 27 de março de 2011

Os velhos e os jovens


Recusei uma conversa e disse calmamente "não quero falar sobre isso", pondo um ponto final ao assunto.

Sempre me orgulhei de poder falar racionalmente sobre tudo, mesmo que o assunto fosse muito importante para mim. Podia-me apaixonar pelo tema, falar mais alto, interromper o interlocutor mas sempre mantendo a razão ao leme... Agrada-me a ideia de ser capaz de me distanciar pessoalmente e, em qualquer assunto, deixar a razão tomar as rédeas sem freio; manter a emoção sob controlo e, sem deixar de a ouvir, ser capaz de silenciar a sua voz.

Mas naquele momento foi perfeitamente claro para mim que se a conversa fosse adiante o controlo tão duramente exercido desaparecia e ficava uma coisa tipo buraco na barragem - depois de passar a primeira gota não há força humana que impeça a enchente.

11 de Fevereiro de 2011: a primeira vez do que quer que seja é sempre um marco importante e esta foi a primeira vez que me recusei a conversar sobre um assunto; a primeira vez que me senti de facto velha, incapaz de prosseguir.

Este longo monólogo é para introduzir o pensamento que me interessa aqui: porque é que os velhos se defendem e os jovens se atiram de cabeça? E não me venham com a conversa que os jovens são inconscientes do perigo, porque não são.

8 comentários:

Anónimo disse...

Julgo que os jovens têm um sentido de urgência. Sabem que ainda está tudo por viver, tudo por experimentar. Julgam a cada instante que se não "se chegarem à frente", podem nunca ter oportunidade de experimentar certas emoções e sensações.
Pode ter-se noção do risco, e decidir avançar, porque a sede de preencher lacunas é grande.
Com o passar dos anos, há uma diferente avaliação dos riscos,
uma sensação que o que se viveu já "matou a sede" de vida e que agora só vale a pena avançar quando há alguma segurança. Não é forçosamente estagnação, é sensatez.
Senti essa evolução nitidamente em mim.
Não sei se isto se aplica ou não à situação :)

choco disse...

os velhos
defendem-se do nada
(afinal sabem mais)
têm medo de n terem razão, e acima de tudo de não saberem controlar/contornar a questão, por isso se recusam ao diálogo

Blimunda disse...

Há uns tempos, se bem te lembras que eu não me esqueci, disse-te que falariamos sobre determinado assunto mais tarde. Talvez um dia, disse-te eu. Tenho-o feito inúmeras vezes comigo mesma e com muitas outras pessoas. Julgo que a partir daqui qualquer outra palavra que possa escrever denunciar-me-á irremediavelmente.

mac disse...

Mestra de Aviz, seja bem vinda ao meu quintal.
Sim, acho que essa sensação se aplica.

Chocolate, velho será sinónimo de recusar diálogo? Socorro, aqui del rei! Jasu, espero bem que não!

Bli, desculpa, sinceramente, as minhas desculpas mais profundas; perguntei ao meu primo Alzheimer mas o parvo também não se alembra: qual era esse assunto do qual falaríamos nós as duas depois de falares contigo própria e de falares com as muitas outras pessoas?

Blimunda disse...

Mal entendido. Não se tratava de falar contigo depois de falar comigo e com muitas outras pessoas, mas sim do facto de te dizer que falaria contigo, talvez um dia. Promessa feita, à semelhança do que tenho vindo a fazer a mim mesma e a muitas outras pessoas. O assunto? Eu mesma e as minhas dicotomias.

mac disse...

Bli, falamos outro dia que hoje nã 'tou capaz

mac disse...

É isto a história a minha vida, batatas.

Blimunda disse...

Não te rales! É a de quase toda a gente, embora isso não te deva servir de consolo. A mim não serve.