Oiço uma auxiliar a falar mansamente com uma velhota: "D. X, não seja assim porque depois a sua filha ralha connosco porque gasta muitas fraldas, vá lá, tenha paciência... Já lá vamos daqui a bocadinho, é só um bocadinho. Assim a sua filha já não ralha connosco... É só mais um bocadinho, D. X, está bem?"
A ternura na voz sente-se.
Doi-me a impotente auxiliar com ternura e sem senso, o local, a filha que tem de contar as fraldas, a D. X que não devia fazer tanto xixi e se sente triste por pesar à filha que conta as fraldas.
Rais parta a vida, estou como o leão moribundo: antes a morte que tal sorte.
Mas não podemos escolher, estamos sempre impotentes face à vida. E a vida é sempre tão cruelmente indiferente.
Hélas!
2 comentários:
O nosso problema é que ainda não conseguimos retribuir essa indiferença à vida. Deviamos pagar-lhe com a mesma moeda mas somos-lhe gratos em demasia, por isso nos acovardamos e damos-lhe toda a importancia que ela não merece.
Bom, Bli, a questão fundamental é que sofremos ou rimos com a vida mas ela nem sofre nem se alegra connosco.
Neste enquadramento, faz sentido que estejamos gratos e ela nem saiba da nossa existência, ou não?
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