domingo, 21 de novembro de 2010

Velhice


Eu sempre disse que é tudo uma questão de prioridade.

O que não torna mais simples o problema, antes pelo contrário; as prioridades são voláteis e têm a ver com a maneira como - a todo o instante - avaliamos a realidade que nos rodeia e o valor que lhe damos. Se qualquer coisa absolutamente essencial para nós pode esperar 5 minutos, passa-lhe à frente naquela hora exacta uma outra coisa com muito menos importância mas que não pode esperar minuto nenhum.

Eu costumava reagir a isto instantaneamente. Computava tudo em milésimos de segundo e agia sem dúvidas. Suponho que fui muitas vezes de uma enorme injustiça e de uma enorme arrogância, tão convicta estava de que fazia o que era de facto correcto...

Agora já não consigo fazer isso. Estou permanentemente a pensar que se calhar não estou a ver bem a coisa, se calhar há um aspecto fundamental de que não me estou a dar conta... Se calhar, se agir assim estou a estragar tudo no assado. Se calhar, ao pensar nisto é o meu egoísmo que fala, se calhar ao fazer aquilo estou a desperdiçar um tempo inadiável, se calhar não vi o pôr-do-sol porque estava a lavar o chão da cozinha e amanhã o pôr-do-sol será diferente e o chão da cozinha vai estar sujo novamente.

Não sou mais feliz por já não ser capaz. Duvido que alguém seja mais feliz por eu já não ser capaz.

Não há dúvida que a velhice não traz sabedoria. O que a velhice traz, meus amigos, é a consciência que de que falhámos no que nunca julgámos falhar.
E isto é uma grande chatice.

Hélas!

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