A TV está desligada.
No canto, o homem canta baladas quase em surdina, acompanhando-se a si próprio à guitarra. Do outro lado da sala estou eu, a vadiar na rede.
Quando ele pára à procura de uma nota fugidia, eu refilo imediatamente, agreste: Atão? Ele olha para mim espantado, não tinha dado conta que eu estava dependurada nas cordas da guitarra como roupa a secar, presa pelas molas da sua voz. Sorri: Já vai, pá! e os sons voltam. Fluentes uns, hesitantes outros... Já não refilo.
Algumas das letras são surrealistas, o fado no seu melhor a tentar fazer chorar as pedrinhas da calçada, outras são corações despedaçados da mesma forma mas expresso com mais arte; alguns são lamentos desesperados, outros pura alegria.
Todos eles me tocam algures.
Lá fora não se ouve cão, gato ou grilo; tão-pouco rádio, TV ou vozes.
Dir-se-ia que o Chinicato se uniu a ele para me proporcionar mais uma noite que chamarei a mim quanto necessitar de paz.
Há malta com sorte, não há?!?
Hélas!
3 comentários:
Amiga Mac, este texto está magnífico! É de nos fazer subir aos céus...
Sem violar direitos de autor, anytime, anywhere, minha.
Como diz o brazuka:
- Qui bom qui ocê góstou...
Obrigada, Mofina, até fico sem jeito...
Marques Correia, que bem q'eu fiz em vir à fonte... Jóia, como diz o brazuka!
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