sábado, 25 de setembro de 2010

Momento


A TV está desligada.

No canto, o homem canta baladas quase em surdina, acompanhando-se a si próprio à guitarra. Do outro lado da sala estou eu, a vadiar na rede.

Quando ele pára à procura de uma nota fugidia, eu refilo imediatamente, agreste: Atão? Ele olha para mim espantado, não tinha dado conta que eu estava dependurada nas cordas da guitarra como roupa a secar, presa pelas molas da sua voz. Sorri: Já vai, pá! e os sons voltam. Fluentes uns, hesitantes outros... Já não refilo.

Algumas das letras são surrealistas, o fado no seu melhor a tentar fazer chorar as pedrinhas da calçada, outras são corações despedaçados da mesma forma mas expresso com mais arte; alguns são lamentos desesperados, outros pura alegria.
Todos eles me tocam algures.

Lá fora não se ouve cão, gato ou grilo; tão-pouco rádio, TV ou vozes.
Dir-se-ia que o Chinicato se uniu a ele para me proporcionar mais uma noite que chamarei a mim quanto necessitar de paz.

Há malta com sorte, não há?!?

Hélas!

3 comentários:

Mofina disse...

Amiga Mac, este texto está magnífico! É de nos fazer subir aos céus...

Marques Correia disse...

Sem violar direitos de autor, anytime, anywhere, minha.
Como diz o brazuka:
- Qui bom qui ocê góstou...

mac disse...

Obrigada, Mofina, até fico sem jeito...

Marques Correia, que bem q'eu fiz em vir à fonte... Jóia, como diz o brazuka!