quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Cantai a vida que a morte é muda


Cantai a alegria do Sol e a ternura da Lua e, quando nem o Sol nem a Lua se mostram, cantai as nuvens pesadas que nos fazem companhia.

Cantai as folhas do Outono e as flores da Primavera, cantai o riso da alegria e as lágrimas do desgosto; cantai o andar pesado do vagabundo e o gesto solto da bailarina, cantai o picar da vespa e o voo da andorinha.

Cantai a água fresca da nascente no Verão, cantai o fumo da lareira do Inverno, cantai a bebedeira da borboleta e a disciplina da formiga; cantai a inocência do animal que corre e os montes que ao longe se quedam, cantai o ontem que morreu e o amanhã que nascerá.

Cantai o peixe que nada e o pássaro que voa, cantai o vento que sopra e a chuva que molha, cantai o dia que nasce e a noite que cai. Cantai o mundo todo por inteiro, cantai aquilo que é e aquilo que não é; cantai o sonho e o pesadelo que podiam ter sido e não foram ou que podiam não ter sido e foram.

Cantai os que se aproximam e os que se afastam, cantai quem compreendem e quem não percebem, cantai quem ajuda em horas de necessidade e quem foge ao sacrifício, cantai os que vêem e os que são cegos, cantai tudo o que à vossa porta passe. Ou que não passe.

Cantai, que eu não tenho voz.
Mas tenho ouvidos.

Hélas!

7 comentários:

Blimunda disse...

cantai-lhe céu e terra e mar,
mas cantai-lhe com amor

mac disse...

Cantai, cantai,
alegrias loucas!
Que o amor sorri
Em coisas poucas.

Cantai, cantai,
Amizades roucas,
Que o amor se ri
das orelhas moucas...

Acordei alegre, Bli.

Mofina disse...

Adorei este post!!!!

Só não canto porque os copos de cristal não me deixam, dizem ai de ti, sua desafinada...

mac disse...

Mofina, post, qual poste? Atão eu ando para aqui a plantar postes?!? Cá no quintal só se plantam couves, até dava um ataque ao meu vizinho de cima se se plantasse outra coisa.
Isto é um artigo, minha cara. Um artigo é uma coisa fina, cheia de glamour, ao passo que um poste é uma coisa grossa e sem elegância nenhuma. Abaixo os postes, acima os artigos.

Diz-me uma coisa, os teus copos estão mancomunados com os meus? É que me dizem exactamente a mesma coisa, os marafados.

Ainda bem que gostaste e ainda bem que temos ouvidos: alguém há-de ter voz!

Mofina disse...

:-))))

Marques Correia disse...

...Cantai nos matadouros, nas trincheiras
As armas, os pendões e as bandeiras
Cantai ó corvos pela noite fora
Neste areal onde não nasce a aurora...

foi esta a inspiração?

mac disse...

Marques Correia, a frase "cantai, cantai", mais a música empolgada, foram a inspiração.

Quando vi o resto da letra, o espírito não se ajustava...