segunda-feira, 12 de julho de 2010

Canção


A esperança é a última a morrer; quando alguém se deita ao rio é porque já está morto.

Acho que é por isso que as pessoas instintivamente se impressionam mais com um suicida que com um tipo que morre do coração: os vivos têm um fascínio patológico pelos morto-vivos.

O cadáver
do indigente
é evidente
que morreu
E no entanto
ele se move
como prova
o Galileu
[Ópera do Malandro]

Hélas!

9 comentários:

Blimunda disse...

Bolas, nunca tinha pensado a coisa por este prisma. E não é que estás coberta de razão?!

AC disse...

Dizem que a depressão é coisa dos novos tempos... que quem deprime é porque nada tem que fazer, pois quem tem que fazer não tem tempo para isso. Pode até ser.
Mas eu, que nunca pensei nisso nesses modos,
Acho que a depressão é apenas e unicamente a perda da vontade de viver...
Perda essa que advém de uma outra perda ainda mais terrível.
A perda de poder crer que amanhã é um dia novinho em folha, por estrear, e trará surpresas, e coisas boas ou más, quem sabe, mas coisas trará, com certeza...
Quando ao deitar a cabeça na almofada, sabemos que amanhã será igual a hoje...que nada de novo trará...
Deve ser por isso que as crianças não entram em depressão; elas mantêm intacta a vontade de acreditar... e de viver para ver.
Perder a capacidade de sonhar que um dia o que ansiamos pode vir a acontecer... é terrível essa perda.
É ela que está na origem – estou persuadida – da famosa depressão.
Sabemos de antemão que amanhã não trará nada de novo, e que não há milagres. Só dias de amanhã. A rotina deu cabo de nós. Só isso.
E é por isso que acordar custa tanto... Um dia novinho em folha, e nada a esperar dele, que triteza!

mac disse...

Bli, acontece, às vezes.

AC, nada sei de depressões, contam-me algumas coisas e não as entendo verdadeiramente. Mas não me consta que a rotina mate ninguém...

Todos os dias são novos em folha, cara mia. Nós é que temos medo de encontrar as coisas novas deles.

privada disse...

Pois eu , ora eu , enfim e como sempre discordo :-)))))))))))
Nunca substimo o meu proximo e se ele tomou a decisão de morrer, porque hei-de eu ter pena dele, em vez de pensar que ele foi atras de qualquer coisa que acredita? estar morto é não correr, é parar, não me parece o caso de quem se suicida, é um acto que exige grande movimento e crença.
Piores para mim são os calhaus desta vida, e oh pá Mac, nao sabia o k escrever hoje no blog, já sei, vou escrever o Manelito.

jg disse...

Eu só não concordo que este blog ande aos solavancos.
Um gajo faz uma estrada para aqui e, com imensa frequencia, dá co nariz na porta.
Não foi lapso, ó fiscais de linha. Escrevi mesmo "co".

jg disse...

E tb não enchapelei o "frequencia" propositadamente.
Já não há sol.
Não sou como o ti Cavaco que balança entre o "nunca" e o "raramente".
Não gosto de água morna.

mac disse...

privada, quem falou em pena?!

jg, como? A porta está sempre escancarada para o pessoal não bater nem co nariz nem cos pés!

Quando era garota ensinaram-me que se podia escrever tudo de qualquer maneira mas as boas maneiras aconselhavam a colocar esses tropeços em itálico (a malandra da professora sabia que implicava saber que são tropeços mas isso não dizia ela).
frequencia tem outra panache, convenhamos.

AC disse...

Eu não disse que a rotina matava, disse que engendrava perda de vontade de viver; lamento mas são 2coisas muito distintas.
Também disse que todos os dias são novinhos em folha, mas que, para alguns, e infelizmente, nada trarão de novo. Nem mesmo o medo de encontrar coisas novas.
Pelos vistos o meu pb de comunicação mantêm-se. É algo frustrante, convenhamos.
E finalizando, acho que o Jg quer dizer é que nem todos os dias temos algo para ferrar o dente, visto que nem todos os dias há post novo neste blog. Infelizmente, mas também é bem verdade que a inspiração não se encomenda... eu que o diga.

mac disse...

Esquece, irmã, todos nós somos incompreendidos.

Se nem nos entendemos a nós próprios vamos fazer o quê?!?