Acabei de ler "Em nome de todos os meus", do Martin Gray (será esse o nome? Não interessa realmente, um homem pode ter muitos nomes).
Fiquei impressionada e já não me acontecia isso há algum tempo.
Não pelas descrições do mal, já as conheço e já chorei com elas; hoje já não choro, estou velha e cínica. Também não com a personagem imparável que faz várias riquezas ao longo da vida, a riqueza, dada ou criada, honesta ou não, não me impressiona.
E - bendita idade - também não me impressiona o seu destino. Há gente que nasce assim, com um T na testa, paciência, é a vida.
O que me impressionou foi a isenção. A capacidade de reconhecer que há homens e bichos e plasticinas entre todos os povos. Sob todas as bandeiras e todas as ideologias, a sua e as dos outros, há homens e bichos e plasticinas e os homens são honestos e respeitam as suas convicções sem nunca deixarem de ser Homens, mau-grado os bichos e as plasticinas e a vida que lhes coube em sorte.
Esta maneira de estar na vida está presente em todo o livro embora não seja mencionada muitas vezes. Com tudo o que viveu e todos os que conheceu, ele sabe e testemunha: há sempre, sempre, homens e bichos e plasticinas, em todo o lado e todas as circunstâncias, sob todas as leis, todas as religiões, todas as educações.
A outra coisa que me impressionou foi a total ausência de auto-comiseração. Quer dizer, o tipo reconhece que sofreu, que teve um quinhão de dores e penas bem grande, ele não é nem estúpido nem ignorante. Mas encara a coisa naturalmente: podia ser ele ou outro qualquer, não é o mundo que o ataca pessoalmente a ele, são as circunstâncias e a sua própria capacidade de sobreviver a elas - se morresse no primeiro infortúnio nunca passaria pelo segundo, não é?
De vez em quando, como toda a gente, vai-se abaixo; mas reconhece o facto como uma fraqueza que é necessário ultrapassar.
Este Martin Gray (será esse o nome? Não interessa, realmente) faz renascer a esperança na raça: há Homens. Este e outros. Ao menos isso, batatas.
Hélas!
6 comentários:
Como diria Sartre, O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
Bom dia Mac.
Lá está um livro de medo, sou um puto, um estagiario, até agora não encontrei nem plasticinas, nem agressores, nem coisas do genero, encontrei pessoas umas, mais divertidas que outras, mas por norma todas excelentes peças deste jogo, e por isso nao entendo, essas cenas de magoas, de viloes ... acho ke vos faz falta jogar mais playstation
Boa Pascoa meninas
... então passa para a Gitta Sereny e lê "No Mundo das Trevas".
Passa-se quase todo em campos de extremínio, já para além da zona da escolha entre quem morre e quem não morre (por algum tempo mais...).
O assunto central é o que se fazia e o que se deixava de fazer para sobreviver mais um dia.
Sem grandes tiradas moralizadoras sobre os maus nem grandes lamentos sobre as vítimas.
Lê-se muito bem e entra-se nos detalhes (nos divertículos) da natureza humana que só se revelam no extremar das condições extremas.
E sem o trabalhão que dá ler a Hannah Arendt...
Blimunda, como diacho sabes sempre o que me vai na alma?
privada acredite, há homens maus. E há homens que não são nem bons nem maus, nem carne nem peixe, são coisas moles, sem endo ou exo esqueleto, tipo alforreca.
É assim a realidade...
Marques Correia, vou ver.
O Homem não cessa de me espantar, chega a ser esquisito.
Eu gosto da Hannah.
É a consequência de se fazer parte do mesmo clube. Acabamos por apanhá-las no ar :)
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