Tenho pena dos desgraçados da Madeira. As imagens são terríveis e a TV, sempre ávida de emoções a metro, só não retrata mais malta a chorar porque não lhes consegue chegar.
Pessoalmente não tenho ninguém na Madeira mas tenho amigos do coração que têm - e imagino o susto e o medo. Eu gosto deles e portanto o seu medo e susto fazem-me infeliz por afinidade.
E o Haiti? Desapareceu. Antes da Madeira, ocupava pelo menos meia hora do Telejornal, qualquer deles - uma notícia importante, tantos mortos reais e muitos mais em potência, quanta gente pendurada na tragédia!
Depois da Madeira, não sobra nem 1 minuto para nos dizerem como aquelas almas lutam pela sobrevivência; hoje em Portugal o Haiti não existe.
Pois, a vida não é toda igualmente sagrada, um velho da minha aldeia é infinitamente mais importante que a aldeia vizinha inteirinha, mulheres, crianças, galinhas, cabras, ovelhas, cães e gatos. Ah! E homens e rapazes, claro.
Compreendo ao nível pessoal - se me morrer alguém atropelado, quero lá eu saber da Madeira ou do Haiti!
Ao nível impessoal, da importância das coisas no racional, desgosta-me o desaparecimento do Haiti e vejo nele a razão de todas as guerras e de toda a infelicidade infligida ao Homem pelo Homem: o umbigo.
Hélas!
4 comentários:
Belo texto, melhor conclusão: o umbigo causa de todos os males (e de todos os bens?)
Adão e Eva não tinham umbigo e foi o que se viu!!!
Independentemente de toda a consternação que a situação me merece, gostava mesmo era de ver esta catrefada toda de solidariedade, vinda de todos os quadrantes possíveis e imaginários, publicitada por todos os meios e mais alguns, para acudir aos milhares de conterrâneos nossos incógnitos e invisíveis que choram a dor da exploração, da violação, da agressão, do frio, da fome e da miséria em geral.
Marques Correia, thanks!
jg, já lhe expliquei que a Eva tinha umbigo! O Adão é que não, tadito. Como não há nada, mesmo nadinha, que bata o umbigo, o rapaz não tinha hipóteses.
Blimunda, devo estar parva de todo mas a sério que não percebo o que gostavas tu de ver, tudo o que descreves se vê diariamente. Acho que na fúria divina comeste meia sentença :).
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