Cheguei a uma conclusão verdadeiramente brilhante, digna dos meus pirolitos: a vida é complicada, mas o Homem faz da complicação o objectivo da vida.
Quero eu dizer, há doenças, há velhice, necessidades, desemprego, dificuldades reais que impedem que se viva no bem-bom. Claro que sim, toda a gente tem a sua quota-parte destas misérias.
Mas o Homem, que é sempre perfeccionista, considera esta uma realidade pobre e, vai daí, complica. Complica sempre, porque as coisas simples são para ele anti-naturais.
Há doença? Pois é melhor fazer um check-up à família toda, porque deve haver mais alguém muito doente. Se não houver ninguém, alarga-se o rastreio.
Velhice? O raio do velho não pensou nisso quando era novo e agora eu é que me aguento? Sinceramente, o velho não vê que a vida já é tão difícil, quem é que o mandou envelhecer até esse ponto, afinal?!?
Necessidades? Era o que mais faltava, já me bastam as minhas. Além do mais, a culpa é desses gajos, quem os mandou precisar de terceiros?
Desemprego? Ora eu sempre disse que a rapariga devia ter ido mas é estudar costura, há sempre falta de costureiras. Mas claro que não me ouviu, quis ir para Física Nuclear e agora não tem que comer... Bem, pode vir jantar cá a casa, mas terá de me ouvir até sair porta fora.
Dificuldades? Ora esta gente pensa que é tudo simples, pois não vêem que é tudo muito complicado?!? É que se não for complicado é porque alguém não está a ver bem o problema. De certezinha. Mas nós estamos disponíveis para explicar.
E se não se arranjar mais nada, mesmo mais nada, pode-se sempre ter uma discussão irritada sobre o Dalai Lama e a situação do Tibete. Essa resulta sempre, mesmo que as coisas estejam bem - é certinho como a noite que de repente fica tudo complicado.
Hélas!