sexta-feira, 4 de junho de 2010

Futuro


Aqui há muitos, muitos anos, quando eu era uma mocinha cheia de esperança no futuro, na vida e nas gentes, alguém me disse:

- O que tu não percebes é que a vida gasta as pessoas; às tantas fica só uma casca vazia.

Eu não acreditei, claro. Para mim a vida enriquecia as pessoas, por mor da experiência e das oportunidades que o tempo traz. Quanto mais tempo, mais experiência e oportunidades e portanto mais ricas ficavam as pessoas, é lógico, não é? Sempre tive esta estúpida mania da lógica.

Eu não fazia a mínima idéia que de facto, passados alguns anos e experiências são poucas as pessoas que não se começam a gastar por dentro. A perder a capacidade de absorção e transformação, de enriquecimento, de objectividade e perspectiva e de modo geral de tudo que requeira esforço ou sacrifício próprios.

Passados alguns anos deste processo, são cascas vazias de tudo que não seja elas próprias. E não se apercebem disso, julgam-se cheias de vida. Afinal mexem-se, comem, dormem e procuram o conforto, não é? Não se apercebem que isso até as baratas fazem e que para se ser uma pessoa tem de fazer mais do que isso.

Os putos a quem digo isto acreditam tanto em mim como eu acreditei naquela altura em quem mo disse.

Hélas!

15 comentários:

Alferes disse...

E fazer mais, o quê? Isto por aqui é só uma passagem. Muito curta!

mac disse...

Não é assim tão curta, Alferes, por vezes até é comprida demais.

Fazer mais tudo. Porque podemos, se quisermos. E esse potencial, realizado ou não, traz consigo responsabilidade, honrada ou não.

Acho eu.

saphou disse...

100% de acordo. Boa tarde Mac.Sinto-me um barata, mas com mens capacidade de sobrevivência eadaptação. Qdo era nova tinha a mm ideia k tu. Até escrevi um texto poetico sobre o tema.

Blimunda disse...

Não creio que sejam cascas vazias. O conteúdo está lá todo mas de tal forma amalgamado que a identificação e exposição se torna tarefa inglória. Eu adoro ouvir as pessoas mais velhas a falar, ainda que aparentemente sem nexo, consigo quase sempre encontrar o fio condutor das suas mensagens.

AC disse...

Idem Blimunda, idem.
Será que somos almas gémeas e eu não sabia???
Começo a perguntar a mim própria se alguém me ouve falar comigo mesma no escuro e retransmite o que penso... será?
Verdade, verdade, é que muitas vezes o que diz torna superflúo o que eu gostaria de dizer.

mac disse...

Continuo a achar boa a ideia, Saphou. Já estamos é velhas e preguiçosas, né? Batatas, mais uma porcaria que temos de ter em atenção...

Discordo, Bli, o conteúdo não está lá, nesta gente de que falo - noutras pessoas está. E geralmente, quando está, pode estar confuso mas não amalgamado. A amálgama é a ausência de discriminação, é tudo eu, tudo eu...
Atenção que não falo de pessoas velhas, falo de pessoas esvaziadas pela vida. Normalmente são velhas mas isso não é requisito.
Acho eu.

AC, como gosto de te reler!
Eu falo muito comigo própria, talvez demasiado - não tem a ver com este fenómeno. Este fenómeno é aquilo que leva alguém a dizer: "Que belo pôr-de-sol que vejo!" em vez de "Que belo por-de-sol que está"...

Privada, o bacoco disse...

Estas a cultivar o silencio?

mac disse...

Não, privada, estava com o conhecido trauma da folha em branco.
O que vale é que o CM é uma fonte permanente de inspiração...

AC disse...

Algo está mal no reino da Dinammarca...
Já tinha feito este comentário e aprentemente não ficou...será que há censura?
Enfim perdeu-se o verbo mas a interrogação fica: Não estarás a confundir esta AC que sou, com a outra? Porque "Gosto de te ler" não soa. Daqui fala a AC fraterna, que se cansou de procurar uma outra assinatura lá porque uma homónima se me atravessou no caminho. E como a cabeça de vez em quando lá vai melhor, deixo-me tentar e comento a folha que nunca deixei de ler. Pois se me enche as medidas...
Quanto à Bli... paralvra que me reconheço.

AC disse...

E "fautes de frappe" aos montes.
Só por isso, devias-me reconhecer, não?
I'm sorry if you're disapointed.
E eu que detesto couves, logo me havia de amorrachar desta!!!

Blimunda disse...

Ora, ora, é a nossa poeta! É muita gentileza sua AC. A verdade é que todos nós que por aqui nos cruzamos mais assiduamente, de uma ou outra forma, nos revemos uns nos outros.

Beijos para as duas e bom fim-de-semana xxl para quem o tem.

mac disse...

AC, é verdade que te confundi no comentário anterior, tomei-te por outra AC que também estimo profundamente. Tenho pena que tenhas desistido, propicia enganos destes... As palavras têm significados diferentes quando vêm de teclas premidas por dedos diferentes.

Anyway, uma coisa te posso garantir: ainda não há censura neste quintal.

A Blimunda, sabes... É bruxa. Das boas.

Bli, a obra dela não é pública... Como sabes que é poeta, andas outra vez a ler no vento?!?
Bom fds, minha amiga.

Blimunda disse...

No vento leio quando ele me escreve, caso contrário, nopes!

Não sei se percebi mal, provavelmente sim, mas achei que AC era a "nossa" cunhada. Se não tem obra pública então não pode ser, certo?!

mac disse...

Bli, estarás a precisar de férias? É que eu estou.
A nossa cunhadinha favorita é a Maria de Fátima - poetisa de mão cheia e obra pública.
Depois tenho uma velha amiga, a AC que também é poeta mas se exprime muito
visualmente, apesar de manusear as palavras com maestria não se alonga nelas.
E tenho uma maninha caçula, refilona, terna como uma flor e bruta como uma pedra, eternamente preocupada com o amanhã, aculturada no "caça, mata e esfola, malandros, eu já vos canto!" com quem discuto filosofia caseira e que pouco fala por preguiça (palavras dela) e que também é poeta mas de obra muito privada. Como é preguiçosa (nossa, põe preguiça nisso!) assina AC apesar de estar careca de saber que a outra AC, mais antiga que ela neste mundo virtual, detém direitos de autor sobre o autógrafo.
A quem te referias?

Blimunda disse...

Na mouche, chérie! Estou mesmo a precisar de férias!

Referia-me à nossa cunhadinha Maria de Fátima, ora. Pois então, muito prazer maninha.