Nós não gostamos da verdade e essa é que é essa.
Não gostamos das coisas como são, só gostamos das coisas como deviam ser; e este deviam contém todo o nosso egoísmo, todas as nossas manias, todas as nossas limitações, todas as nossas loucuras e todas as nossas virtudes; a palavra chave aqui é nossas.
Se dependesse de nós, a verdade dos outros não existiria e a Verdade, assim com letra grande, seria sempre só uma, a nossa.
É necessário amor para encarar a verdade dos outros. É necessária honestidade, para aceitar as coisas que lá estão e que são verdadeiras e das quais nós não gostamos. É necessário sacrifício porque dá imenso trabalho mudar a nossa verdade, mais a mais com coisas que não nos beneficiam em nada. E é necessária firmeza, porque a verdade dos outros também não é a Verdade, é simplesmente a verdade deles.
E isto é uma trabalheira desgraçada. Para quê? Porque raio havemos nós de nos importar com a verdade dos outros? Porque não é suficiente a nossa, porque diacho nos importamos com as diferenças e defendemos acaloradamente a nossa verdade?
Acho que é porque no íntimo, lá bem no fundinho do nosso ser, escondido no escuro e muito tímido, reside um gajo horrorosamente firme e que nunca se dobra. A gente bate-lhe, mata-o à fome e abafa-o mas o parvalhão nem morre nem dobra. E quando, já cansados, lhe gritamos "E o que é a verdade, hã? Diz lá o que é a verdade, hã?!?" ele olha para nós mas não responde, porque ele nunca responde àquilo que a gente já sabe.
E é preciso amor para dizer a alguém a nossa verdade. Acho que é preciso tanto quanto o necessário para a ouvir.
Acho que é por isto que, em geral, a verdade me dói. E também é por isto que agradeço o facto de ter gente que me diz a sua verdade. Porque na verdade é muito mais fácil fingir que a verdade dos outros é a nossa verdade e, francamente, essa é a maior mentira que conheço.
Hélas!
10 comentários:
Imagino que isto nem lhe tenha passado pela cabeça, mas este seu post está cheio de filosofia budista ;)
"E é preciso amor para dizer a alguém a nossa verdade. Acho que é preciso tanto quanto o necessário para a ouvir." E esta é uma das maiores verdades.
oh! minha estimada cunhada que eu quase ía postar-me a seus pés e dizer-lhe, minha linda: eu te amo e outras coisas que a fariam dizer-me umas quantas verdades e por isso calo-me
Esta tua Verdade está cheia de relativismo, minha cara. Nós só não gostamos da Verdade que não nos interessa, que não nos dignifica. Tanto que nem todas as coisas não são, no nosso entendimento e interesse, como deviam ser. Também discordo de que faça falta o Amor para dizer a alguém a nossa verdade como para ouvir de alguém a sua. Basta tão só ser honesto. E à Humanidade falta muito mais Honestidade do que Amor.
bteresa g., não, de facto não sabia. Mas acho que no fundo todas as filosofias dignas do nome são iguais....
Sam, sim.
Maria de Fátima, não me faças isso. Faxavor, não te postes a meus pés que eu fico logo cheia de urticária e incapaz de te responder a resposta verdadeira que é cunhadinha do meu coração, ai, ai...
Blimunda, nopes.
Quero dizer, sim,é claro que o artigo está cheio de relativismo.
Não, não é verdade que não gostamos do que não nos dignifica, do que não gostamos é do que nos incomoda no nosso confortozinho.
E é preciso amor para dizer a alguém a nossa verdade, apesar de não ser preciso - tal não faz falta nenhuma, antes pelo contrário, realmente - para agredir alguém com a nossa verdade...
Talvez faça mais falta à Humanidade a Honestidade que o Amor, mas sabes?... Duvido.
A honestidade conquista-se mas o Amor é oferta - tem que haver quem ofereça e também tem que haver quem aceite.
E isso é difícil, acredita.
Se não lhe passar pela cabeça então cumpre todos os requesitos, este blog anda sempre à volta do Sidarta, vale pela qualidade da pessoa que o escreve, pelo exemplo e nao necessariamente pelas palavras que contem.
Embora sem as palavras nao pudessemos aferir kem escrever. A sério resto de couve, voce tem uma sorte incrivel, por ser simplesmente assim.
privada, embora não esteja certa que a circunscrição ao Sidharta seja um elogio, obrigada!
Estou consciente da minha sorte, sabe. Sempre achei que tenho uma enorme vaca com as pessoas com quem se cruza a minha vida, exemplos à vista!
:_))))))))))))))))))))) Pois é bom que continue a pensar que o seu instinto nada tem a ver com isso, se nao lá vai a sorte.
privada, ná, o instinto até está de férias (pensando bem grandes férias, as desse gajo) e eu continuo a esbarrar com gente fantástica.
Acho que vou despedir o caramelo (e nem me alembra de o contratar, devo estar a ficar xoné) e a sorte mantém-se. Acho....
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